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Super Quarta: especialista explica como decisão sobre Selic e anúncio da taxa de juros americana movimentam mercado

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Anúncio da taxa Selic acontece em meio ao cenário de fortes críticas do presidente Lula e aliados  |   Bnews - Divulgação Divulgação
Rafael Albuquerque

por Rafael Albuquerque

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Publicado em 22/03/2023, às 14h30


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O Banco Central anuncia, na noite desta quarta-feira (22), através do Comitê de Política Monetária (Copom), se altera ou não a taxa básica de juros (Selic) do país. O anúncio acontece em meio ao cenário de fortes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados ao patamar atual de 13,75% ao ano. Essa é a segunda definição sobre juros - com o BC autônomo - no governo Lula.


A edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, aponta que a Selic deverá ser mantida no mesmo percentual - pela quinta vez consecutiva. Até o fim do ano, a mediana do mercado aponta para uma redução de 1 ponto percentual nos juros. Ou seja, a expectativa é que o ano termine com uma taxa de 12,75% - aquém do desejo de integrantes do governo Lula.


Outro fato deve movimentar bastante o mercado nesta quarta-feira. Trata-se do anúncio da nova taxa de juros nos Estados Unidos, que será feito pelo Fed, banco central americano. Especialistas avaliam que a tendência é que a autoridade monetária suba as taxas em 0,25 ponto percentual, elevando os juros para o intervalo entre 4,75% e 5%, maior patamar desde 2007.


Diante da expectativa do mercado, o BNews, através da editoria Economia & Mercado,  consultou Felipe Gomes, Sócio da ACT Investimentos, que explicou o que são o Copom e a taxa Selic.


“Copom ou Comitê de Política Monetária é um órgão do Banco Central formado pelo seu presidente e diretores. Ele tem o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros, a Selic. A criação do comitê buscou proporcionar maior transparência a esse processo decisório. A taxa Selic representa os juros básicos da economia brasileira, ou seja, é referência para todas as taxas de juros aplicadas no país, utilizada como parâmetro por bancos ao conceder um empréstimo e investidores ao realizar uma aplicação financeira, por exemplo”, destacou. 


Felipe também falou sobre como é tomada a decisão para fixação da taxa Selic: “É baseada em cumprir metas de inflação país. Assim, o objetivo é assegurar a estabilidade da economia e evitar descontrole de preço que causam perda do poder de compra da moeda. Por exemplo: a Selic alta significa uma maior taxa de juros, encarecendo empréstimos bancários  e, consequentemente, há menos dinheiro circulando na economia. Isso tende a fazer com que a inflação caia. Já quando a Selic está mais baixa, o acesso ao dinheiro fica mais fácil, aumentando o poder de compra e a inflação tende a subir”. 


O especialista afirmou ao BNews que há uma forte tendência de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano e que o principal motivo disso seria a incerteza do projeto do arcabouço fiscal que deverá substituir o teto de gastos. 

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“Há um temor do mercado que esse projeto não venha conservador no que tange à responsabilidade fiscal e isso pode gerar uma desancorarem (aumento) da inflação nos próximos meses. A expectativa era de que o projeto fosse apresentado antes do dia de hoje, porém o presidente Lula adiou para após seu retorno da viagem a China, que iniciará no dia 25/03. Sendo assim, o Banco Central aguarda uma sinalização mais clara para fazer qualquer movimento”, detalhou.


Outro ponto que tem chamado bastante atenção são as críticas do presidente Lula em decorrência do atual patamar da taxa Selic, em 13,75% ao ano. O sócio da ACT Investimentos salientou que essa situação gera temor e incerteza no mercado, já que “temos um Banco Central independente”.


“O principal ponto de observação para a definição da Selic é cumprir a meta de inflação e, nesse caso, ainda temos uma inflação alta, o que pode servir de embasamento para a manutenção da taxa Selic. No entanto, uma Selic alta torna o juros de dívidas das empresas mais caro e, com isso, algumas delas podem apresentar dificuldades para manter sua operação. Há uma pressão política muito forte sobre o presidente do Banco Central, que tem seu mandato até o final de 2024, para a redução da taxa Selic. Um dos pontos abordados para suposto pedido de afastamento é que os pedidos de demissão do presidente do BC podem ser feitos pelo presidente da República caso se comprovem 2 anos consecutivos em que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fure o teto da meta da inflação, o que ocorreu em 2021, 2022 e deve ocorrer em 2023”, explicou.


Felipe Gomes também comentou sobre o anúncio, que acontece hoje, da taxa de juros americana e de que forma isso impacta na economia global: “Os EUA são a maior economia do mundo e toda decisão de juros do banco central americano impacta em diversos países. Esse aumento já era esperado devido a alta inflação que persiste nos EUA e ao mercado de trabalho que está muito forte. Um juros maior lá fora gera uma maior dificuldade de diminuirmos os juros no Brasil, pois os ativos brasileiros se tornam menos atraentes aos investidores estrangeiros”.


Gomes detalhou as consequências desse anúncio para o Brasil: “Na prática, a elevação dos juros dos EUA incentivam a aplicação em papéis do tesouro americano, que são muito mais seguros do que no mercado brasileiro, já que aplicações em países emergentes são consideradas de maior risco por causa da instabilidade inerente aos mesmos. Além disso, um aumento da taxa de juros nos EUA pode elevar a cotação do dólar, já que haverá maior fluxo de recursos para a economia americana e, consequentemente, saída desse capital do Brasil”.


Desta forma, a Super Quarta tem tudo para movimentar, e muito, os mercados brasileiro e mundial. Apesar da previsibilidade, a manutenção da taxa Selic no Brasil deve trazer uma série de implicações não só econômicas, mas também e, sobretudo, políticas. 

Classificação Indicativa: Livre

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