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Cotado para Economia, Meirelles defende gasto de R$ 50 bi a mais para bancar Auxílio

Gilberto Junior// Bnews
Meirelles, que anunciou seu apoio a Lula no primeiro turno deu entrevista à Folha  |   Bnews - Divulgação Gilberto Junior// Bnews

Publicado em 30/10/2022, às 21h36   Julio Wikiack// Folhapress


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Cotado para assumir a Economia no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Henrique Meirelles, 77, defende a pacificação do país e gastos extras para pagar o Auxílio Brasil aos mais necessitados no primeiro ano de governo, até que as reformas abram espaço no Orçamento.

Meirelles, que anunciou seu apoio a Lula no primeiro turno em entrevista à Folha, foi presidente do Banco Central durante o governo do petista e ministro da Fazenda na gestão de Michel Temer (MDB).
Ele diz que será preciso gastar R$ 50 bilhões fora do Orçamento para que Lula consiga arcar com o Auxílio Brasil, programa social que será revisto.
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Pergunta: Qual sua avaliação sobre o resultado da eleição?
Henrique Meirelles: Muito apertado, mas dentro do previsto. Achava que a diferença seria um pouco maior, mas todo mundo sabia que a diferença seria muito pequena.

P.: Mas o que significa a vitória de Lula nesse momento?
HM: É algo extremamente positivo. Vamos agora pacificar o país, procurar reconstruir. Evidente que temos de ver exatamente como é que vai ser a administração da economia. É muito cedo para olhar isso, mas vamos olhar isso mais à frente. O que importa é que esse resultado vai pacificar.

P.: Acredita que haverá terceiro turno?
HM: Vamos ver como vai ser o pós apuração, a reação dos bolsonaristas. Mas a expectativa é que ocorra o que deveria, o respeito ao resultado das urnas, independente da margem.

P.: O senhor será ministro?
HM: Não conversamos sobre isso.

P.: Houve rumores de que o senhor seria ministro por ter flexibilizado sua opinião sobre mais gastos fora do teto. Foi uma sinalização de que terá esse papel no governo?
HM: Não foi uma sinalização. Só disse o que acho. Será preciso mais espaço [no Orçamento] para os programas sociais, com uma excepcionalidade no primeiro ano para dar tempo [ao governo] para aprovar uma reforma, especialmente a administrativa.

Continuo defendendo que se mantenha a responsabilidade e não se abra as portas [para gastos desenfreados]. É necessário fazer a reforma administrativa primeiro para abrir espaço [para despesas sociais] em 2024. O ano de 2023 será de excepcionalidade.

P.: O senhor falou em um número de R$ 400 bilhões a mais. É isso?
HM: Não. Essa foi uma previsão que circulou no mercado. Estamos agora falando de Auxílio Brasil um pouco acima de R$ 50 bilhões [acima do teto].

Como sempre disse, é preciso assumir o governo, pegar as contas e ver de quanto é o déficit. Não adianta falar demais em cima de um número sem saber como estão, de fato, as contas do governo.

P.: Lula precisa anunciar logo o ministro da Fazenda?
HM: Não tem pressa. Ele tem que olhar com calma e fazer o anúncio no momento dele.

P.: O mercado já precificou a vitória de Lula?
HM: É diferente de 2003 [primeira eleição de Lula]. Agora, está ainda um pouco mais calmo porque já houve a experiência do governo Lula.

P.: O senhor vê algum risco de haver mais estragos à Economia nos últimos meses do governo de Jair Bolsonaro?
HM: Teremos de ver a reação do Congresso. Tem muita coisa para ser aprovada ainda.

P.: Considera que a governabilidade de Lula com os parlamentares recém eleitos será mais complicada?
HM: Lula tem capacidade de liderança e negociação e o centrão sempre negociou. São profissionais da política e não vão radicalizar, pela minha experiência.

P.: Mesmo se não for possível pôr fim ao orçamento secreto?
HM: Terá de haver uma negociação.
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RAIO-X | Henrique Meirelles, 77
Formado em engenharia civil pela USP, com MBA em Administração na UFRJ e Advanced Management Program na Harvard Business School, além de doutor (título honorário) pelo Bryant College. Atuou no BankBoston durante 28 anos, onde chegou à presidência global nos EUA; eleito deputado federal por Goiás em 2002; presidente do Banco Central do Brasil (2003-2011); presidente da Autoridade Pública Olímpica (2011-2015); ministro da Fazenda (2016-2018) e secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo (2019-2022).

Classificação Indicativa: Livre

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