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Datafolha: Identificação de evangélicos com esquerda e direita se equivale no país

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Grupo é menos progressista do que média nacional, mas nem de longe é figura alérgica à esquerda como dizem muitos pastores  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 07/06/2022, às 12h55   Folhapress


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Igrejas do calibre da Universal do Reino de Deus podem até dizer que o cristão progressista é uma anomalia que não deveria existir. Mas, considerando visões de mundo que abrangem tanto temas comportamentais quanto econômicos, há uma divisão entre evangélicos identificados com a esquerda e aqueles que tendem para a direita.

É o que aponta a mais recente pesquisa Datafolha, que formulou uma série de perguntas sobre temas como drogas, homossexualidade, impostos e armas para decifrar o mosaico ideológico do país.
Se levarmos em conta apenas os entrevistados que se declaram evangélicos, 41% deram respostas mais inclinadas à esquerda. Desconsiderando o filtro religioso, a média sobe para 49% de brasileiros escolhendo posições mais esquerdistas.

Na parcela dos que se chamam de crentes, 37% têm um perfil de direita (em empate técnico com os de esquerda), e 22%, de centro. No quadro geral, descontando filiações de fé, são 34% e 17%, respectivamente. Ou seja: sim, o evangélico é menos progressista do que a média nacional, mas nem de longe é aquela figura alérgica à esquerda que muitos pastores pintam.

O levantamento, que ouviu 2.556 pessoas em 181 cidades nos dias 25 e 26 de maio, também detectou empate técnico entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nesse grupo de fé. A margem de erro para o recorte religioso (27% dos entrevistados eram evangélicos) é de quatro pontos percentuais —já no recorte geral a margem é de dois pontos, para mais ou para menos.

Uma análise da Folha sobre o resultado irritou o presidente, que reagiu numa live: "O lado de cá fala da boca pra fora, fala com o coração, Deus, pátria, família. O lado de cá defende família. O lado de lá, não. O lado de lá defende ideologia de gênero. Vai falar que os evangélicos estão divididos?".

Quem diz são os números. Em temas econômicos, por exemplo, 47% do segmento revelaram preferências à esquerda, colados nos 50% do quadro geral. Nas questões de ordem moral, o jogo inverte: 47% dos evangélicos assumem posições direitistas, enquanto a média nacional é de 39%.
Nem sempre, contudo, a resposta mais conservadora vem desse campo cristão.

Exemplo: pena de morte. Entre os crentes, 64% rechaçam a ideia de que cabe à Justiça matar uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um crime grave. No país todo, 61% dizem o mesmo, mas a proporção cai para 57% quando apenas católicos (metade dos entrevistados) são considerados.
Evangélicos, por outro lado, estão mais predispostos a colocar a criminalidade na conta da maldade, e não na da falta de oportunidades iguais para todos: 64% x 56% do todo amostral. Acham que a posse de armas é um direito do cidadão 39% deles, contra uma média de 35%.

O população em peso (83%) vai à direita quando a pergunta é se o uso de drogas deve ser proibido porque toda a sociedade enfrenta as consequências, e evangélicos ainda mais (90%). A alternativa minoritária defende que narcóticos não sejam vetados porque é o usuário que paga o pato.
Aborto e comunidade LGBTQI+. Nessa dupla de pautas que tanto inflama a bancada evangélica no Congresso, essa base religiosa é mais conservadora em geral. Isso não quer dizer, no entanto, que ela vai se posicionar majoritariamente contra as visões mais progressistas.

Oito em cada 10 entrevistados (79%) dizem que a homossexualidade deve ser aceita na sociedade. Evangélicos não demonstram uma maioria tão ampla, mas os 64% que ratificam a ideia tampouco são desprezáveis. Só 27% do grupo afirmam que a orientação homoafetiva homossexual deve ser desencorajada.

Sobre aborto: no Brasil, o procedimento só é permitido em casos de estupro, risco de morte materna ou anencefalia. Pois 42% dos evangélicos querem que continue assim, número próximo aos 39% do total populacional. Em compensação, 37% dos evangélicos preferem que a interrupção da gravidez seja banida em qualquer situação, contra 32% do país como um todo.

O resto do bloco religioso se divide entre quem quer ampliar parcial (15%) ou irrestritamente (4%) as possibilidades de uma mulher recorrer ao aborto. Há ainda 3% que não souberam responder ou responderam outra coisa.

No espectro econômico, há algumas agendas que ajudam a entender se uma pessoa compartilha uma visão de mundo mais à esquerda ou mais à direita. Aqui, a identidade religiosa —ser evangélico ou não— parece fazer pouca diferença. A população se divide sobre pagar mais impostos para receber serviços gratuitos de educação e saúde, ou ter menos carga tributária e contratar serviços particulares.

Sete em cada dez brasileiros acham que o governo tem o dever de ajudar grandes empresas que podem ir à falência, ou que o governo precisa ser o maior responsável por investir no país, perspectivas mais esquerdistas.

Metade dos evangélicos, quando questionados sobre leis trabalhistas, dizem que elas mais ajudam do que atrapalham, enquanto 41% gostariam que parte delas fosse eliminada por perturbarem o crescimento das empresas. A média nacional é mais generosa com os trabalhadores: 56% apoiam o pacote legislativo, e 37% preferiam que ele fosse mais amigável ao empresariado.

Esses são alguns dos pontos apresentados pelo Datafolha para traçar o perfil ideológico do país, e também de parcelas específicas dele —como fizemos aqui com o segmento evangélico, um ativo eleitoral que vem mobilizando os pré-candidatos à Presidência.

Uma questão incluída na série mostra a dimensão da fé para o Brasil: acreditar em Deus torna as pessoas melhores? A maioria (79%) assina embaixo dessa hipótese. Entre os evangélicos, a ideia tem ainda mais ibope: 88% concordam que a crença enaltece o homem.

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