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Mercado financeiro e setor produtivo já não veem espaço para terceira via nas eleições

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Comando de bancos e grandes empresas, mercado financeiro agora avalia cenários com Lula ou Bolsonaro  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 03/01/2022, às 08h03   Folhapress


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​Banqueiros, gestores e empresários veem cada vez mais como pequena a possibilidade de existir uma terceira via para as próximas eleições presidenciais. Desde as prévias do PSDB, o comando das principais instituições financeiras e empresariais do país jogou a toalha e agora aposta em uma polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Sob condição de anonimato, a Folha ouviu três banqueiros, dois gestores de fundos de investimentos e representantes setoriais da indústria, do agronegócio e do comércio.

Com algumas nuances, todos são unânimes ao prever um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Para eles, a viabilidade de um candidato "do meio" está cada vez mais distante.

Dois fatores corroboram essa avaliação. No final de setembro, os principais banqueiros do país ainda apostavam numa terceira via com o lançamento do governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB-RS) como presidenciável.

No entanto, a confusão das prévias do PSDB no final de novembro afastou ainda mais essa expectativa de sucesso da chamada terceira via. Na disputa, marcada por problemas no aplicativo desenvolvido para a votação, o governador de São Paulo João Doria venceu Leite por 54% a 45% dos votos.

O presidente de um dos bancos mais importante de investimento afirmou que causou uma péssima impressão no mercado a mudança de tom dos tucanos, que trocaram acusações em público —o que denotou falta de coesão partidária— e a falta de unidade na construção de um nome forte para fazer frente a Bolsonaro e Lula.

Outro episódio que arrefeceu o ânimo desse grupo de banqueiros foi o anúncio precoce de Sérgio Moro para o pleito pelo Podemos.

Eles creem que o ex-ministro de Bolsonaro se precipitou em lançar-se como presidenciável e que sua estratégia com esse movimento, na verdade, mira uma vaga no Senado.

Para eles, Moro, que começou nas pesquisas de intenção de voto com cerca de 4%, tem um teto, que deverá ficar restrito a 10% e desistirá da Presidência para concorrer como senador.

O problema, ainda na avaliação desses executivos, será o senador Álvaro Dias, que também pleiteia a reeleição na única vaga do Paraná que será aberta nas eleições. Se Moro persistir como presidenciável, apostam numa pulverização do eleitorado, algo que fortalece ainda mais a polarização no segundo turno.

Apesar do descrédito, o comando das principais instituições financeiras do país ainda aguarda a virada do ano e a movimentação entre partidos, considerando possíveis fusões partidárias e a construção de novas chapas com a possibilidade de surgimento de uma alternativa. Mesmo assim, dão esse cenário como algo remoto.

Frisam que, neste momento, o quadro aponta para uma decisão entre Lula e Bolsonaro, com o petista mais forte em termos de apoio, diante de uma avaliação de que ele estaria mais apto para construir um time no Ministério da Economia capaz de consertar os estragos que Bolsonaro realizou ao desacreditar seu ministro da Economia, Paulo Guedes.

Para eles, ao longo de três anos, Guedes apresentou boas promessas de cunho liberalista, mas Bolsonaro impediu que essas entregas fossem realizadas com uma agenda política marcada pelo populismo de olho na campanha pela reeleição.

Os banqueiros também veem um Lula mais populista na sua volta ao cenário político, mas consideram que os ganhos financeiros futuros para o país e para os negócios serão maiores com o petista do que com Bolsonaro.

Fazem essa análise com base na deterioração atual nas contas públicas com a aprovação pelo Congresso da Proposta de Emenda Constitucional dos precatórios e aumento do valor do socorro aos mais pobres a ser garantido pelo Auxílio Brasil, uma reinvenção do Bolsa Família.

Para esses executivos, o mercado financeiro considera que essas medidas chanceladas pelos partidos do chamado centrão, base de apoio de Bolsonaro no Congresso, significam o fim do teto de gastos e levaram investidores a exigir um prêmio de risco maior para títulos e investimentos no Brasil. A alta da curva futura de juros é a prova desse movimento.

Em um eventual segundo mandato de Bolsonaro, os banqueiros acreditam que haveria uma aposta dobrada nessa política de deterioração fiscal. Sem espaço para reduzir despesas, com mais de R$ 100 bilhões em novos gastos obrigatórios anuais incluídos no Orçamento, não veem outra saída diferente do aumento de impostos já que Bolsonaro nunca deu provas de que pretende reduzir os incentivos fiscais. A renovação das desonerações sobre a folha de pagamento foi a principal evidência dessa política.

Com Lula, também veem um direcionamento mais populista com a possível retomada do BNDES direcionando crédito para a produção. Mas avaliam que haveria mais compromisso em demonstrar ao mercado uma sinalização consistente de recuperação do rigor fiscal, algo que consideram fundamental para que o país retome a confiança de investidores.

No setor produtivo, há uma divisão. Uma parte do empresariado apoia Lula, e outra, Bolsonaro. O atual presidente desfruta de apoio de parte da indústria, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e parte do agronegócio, especialmente os produtores do Centro-Oeste e Sul.

No entanto, segundo relatos de representantes de ambos setores, esses grupos que hoje apoiam Bolsonaro já sinalizaram ao ex-presidente Lula que poderão mudar de lado caso o segundo turno seja confirmado entre Bolsonaro e o petista.

Um importante interlocutor de pequenas e médias empresas junto ao governo Bolsonaro também compartilhou recentemente essa posição com assessores diretos do presidente.

Em resposta, Bolsonaro vem fortalecendo sua estratégia junto a esses grupos para evitar a possível debandada.

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