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"PT é o que há de pior na política, mas voto colado com Lula é natural", diz Romeu Zema

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Romeu Zema sinalizou dar apoio a Jair Bolsonaro em Minas Gerais  |   Bnews - Divulgação Foto: Reprodução/TV Globo

Publicado em 22/09/2022, às 08h13   Natália Cancian / Folhapress


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Eleito em 2018 com o bordão "Bolsozema", o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que busca a reeleição, diz que recusou aliança com o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno por fidelidade partidária.

Questionado sobre um possível apoio no segundo turno, evita concretizar apoio a Bolsonaro, mas diz que "apoiar o PT te adianto que não apoiarei".

Em entrevista à Folha de São Paulo, Zema elogia Bolsonaro, mas diz que o governo federal "faz polêmicas desnecessárias".

À frente das pesquisas, diz ver como ato de "imediatismo" e "oportunismo" a aliança entre seu principal adversário, Alexandre Kalil (PSD), com o ex-presidente Lula e que o aval para exploração mineral na Serra do Curral, hoje na Justiça, atendeu questões técnicas.

Folha: O sr. foi eleito em 2018 na esteira de uma onda antipolítica. Agora, concorre à reeleição e já se define como político. O que mudou?

ROMEU ZEMA [R. Z.]: Fui eleito numa situação excepcional. Havia naquele momento um clamor antipolítica devido ao impeachment, petrolão, corrupção de toda natureza e recessão de 2015 e 2016. Hoje me considero um político, mas quero deixar claro que sou um político totalmente diferente do convencional no Brasil.

Não tenho um parente dentre os 600 mil funcionários do estado de Minas, não tenho um apadrinhado e dispensei todo tipo de privilégio e mordomia que os governadores que me antecederam sempre tiveram. Moro nesta casa há três anos e meio, não em um palácio. Não tenho sete aeronaves à disposição, vendi ou então transferi as mesmas para o comando aéreo do estado.

Folha: O sr. citou as aeronaves. Mas continua usando...

R. Z.: As aeronaves antes eram de uso exclusivo do governador. Não tenho nenhuma de uso exclusivo, só as utilizei a trabalho. Quando vou para a minha casa [em Araxá], vou de carro. Já coincidiu de ir aéreo porque tinha compromisso em Uberaba no dia anterior. Utilizo, porque não dá para ir a Montes Claros cedo e estar aqui à tarde para atender a um ministro de Brasília. Com transparência.

Folha: Em 2018, o sr. chamou a atenção quando pediu votos a Bolsonaro ao fim de um debate na Globo. Também chegou a adotar o bordão 'Bolsozema'. Já nesta eleição, apesar da insistência do presidente, evitou declarar apoio a Bolsonaro. Por quê? Chegou a cogitar aliança?

R. Z.: Em 2018 foi diferente. Temos que lembrar que quem arrasou Minas Gerais foi o PT do [ex-governador Fernando] Pimentel. A última coisa que eu como mineiro desejava era um governo PT em Minas e também no Brasil.
Neste ano a minha situação é diferente. Quando fui eleito tínhamos [no Novo] quatro vereadores no Brasil. Hoje temos deputados estaduais, federais e um prefeito. Tenho um partido que me dá apoio e um candidato a presidente, que é o Luiz Felipe D'Ávila. Continuo discordando de boa parte do que o PT faz e de parte do que Bolsonaro adota como condução do governo.

Folha: Do que o sr. discorda?

R. Z.: A pandemia poderia ter sido mais bem conduzida, de forma centralizada. Pandemia é hora de correr atrás de salvar vidas e curar pessoas, e não de causar polêmicas. Parece que o governo federal tem causado polêmicas desnecessárias.

E por uma questão de fidelidade partidária estou apoiando o candidato do Novo. Falei isso para ele [Bolsonaro]: continuo apoiando e admirando parte do seu governo. Se pegarmos corrupção no PT e corrupção hoje, acabou não. Mas acho que deve estar 90% a 95% menor do que na era PT. É um avanço notável.

Folha: Mas há casos emblemáticos. Foi divulgado recentemente que a família do presidente comprou 51 imóveis em dinheiro vivo...

R. Z.: Sim. É preocupante. Precisa ser apurado, mas não vi ninguém embolsando mala de R$ 40 milhões [referindo-se a dinheiro apreendido pela PF em apartamento atribuído a Geddel Vieira Lima em 2017]. Nenhum diretor da Petrobras com R$ 300 milhões na conta. Tem que ser apurado, mas com toda certeza tivemos uma redução.

Folha: O sr. diz que a decisão de apoiar o candidato do seu partido é questão de fidelidade partidária. Em eventual segundo turno, pode apoiar Bolsonaro?

R. Z.: Espero que resolva no primeiro turno e, no segundo, apoiar o PT só te adianto que não apoiarei. Para mim é o que há de pior na política no Brasil.

Folha: Hoje uma parte do eleitorado que vota em Lula diz que vota também no senhor. Quando diz que não vota no PT não é um aceno contrário a esse eleitorado? E como vê o movimento que muitos chamam de 'Luzema'?

R. Z.: Vejo com naturalidade. O eleitor é pragmático. Vota onde percebe melhores perspectivas e tivemos no passado uma coincidência durante o governo do presidente Lula de uma série de fatores no mundo, como a alta das commodities, que fez com que o Brasil vivesse um momento bom. Não podemos falar que a gestão foi boa. Houve um momento bom, mas por conjunturas externas.

Folha: O sr. era tido como um dos governadores mais alinhados a Bolsonaro no mandato. Como avalia a gestão do presidente?

R. Z. Vale lembrar que esse alinhamento era algo relativo, porque virou moda na política você sair mandando pedra toda hora. O presidente dava um espirro e saía uma carta que eu recebia no zap para poder assinar contra o espirro do presidente. E falei: não sou avaliador de presidente, sou governador de Minas, e não vou ficar assinando cartinha uma atrás da outra.
Se eu tiver problema com alguém, vou lá, sento e discuto. Toda hora ficar mandando recadinho não é a melhor visão.
O governo federal teve acertos e também teve falhas. A pandemia teve erros grandes de comunicação. Nesse pós pandemia o Brasil está numa situação melhor do que muitos países antes elogiados.

Folha: Como vê a aliança do Kalil com o Lula? As pesquisas mostram que seu principal adversário pode crescer associado a Lula.

R. Z.: Na política o que tenho visto é que imediatismo e oportunismo sempre permanecem. Não é essa a minha maneira de agir. Poderia muito bem ter escolhido um aliado nacional, e falei: "não, vou mostrar aqui o meu trabalho".

Então mais uma vez ele [Kalil], que foi lá atrás um candidato que falou que não era PT e que não tem brilho e luz própria, precisa se apoiar em alguém para se alavancar, como ele sempre fez na vida, no Atlético, depois na Prefeitura de Belo Horizonte e agora na campanha no Lula, o que demonstra sua fragilidade.

Folha: Seu vice, Paulo Brant (PSDB), faz parte hoje de uma chapa contrária e tem feito críticas ao sr. dizendo que não é verdade que "Minas está nos trilhos" [em referência ao slogan de Zema]. Sente-se traído?

R. Z.: Uma das coisas que mais leio é sobre os estoicos, Marco Aurélio, Epicuro e Sêneca, que falam: do ser humano, espere traições e ingratidão, sempre. Estou acostumado e não me afetou em nada. A bem da verdade, fiquei satisfeito, porque se tinha alguma dívida por ele ser meu vice, hoje vejo que foi extinta.

Folha: As demissões que o sr. fez no gabinete dele logo em seguida foram resposta política?

R. Z.: É uma decisão correta. Quando entram em campo 11 jogadores do Cruzeiro e 11 do Atlético, se um jogador do Cruzeiro veste a camisa do Atlético e joga a favor do Atlético está errado. O que fizemos foi: dê aí a nossa camisa de volta e vá jogar no time que você optou.

Folha: Passados mais de três anos e meio de gestão, o que vê como acerto e o que faria diferente?

R. Z.: Estou fazendo já de diferente nesta [campanha] e só não fiz na outra por falta de experiência. Eu era um candidato de primeira viagem, fiz voo solo. Eu e os candidatos do meu partido na ocasião elegemos três deputados estaduais e dois federais. Hoje estamos trabalhando com alianças e outros partidos, e provavelmente o número vai ser muito maior, não sei se 35 e 20 [deputados]. Isso faz toda a diferença na política.
Também errei na escolha do presidente da Assembleia, que se aproveitou da minha falta de experiência, se colocou como um candidato do governador eleito e depois travou todas as pautas importantes. Mas perdeu, porque o que ele barrou o Supremo aprovou.

Folha: Um dos pontos em discussão é o regime de recuperação fiscal. Hoje o estado tem uma dívida que vai a R$ 150 bilhões. Como pretende resolver em eventual segundo mandato?

R. Z.: Não estamos reinventando a roda. O que estamos fazendo o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Goiás já fizeram. Pergunte a esses governadores que têm a opção de desligar do regime de recuperação fiscal a qualquer momento se querem. O regime vai resolver o problema de Minas, porque em vez de ter que pagar a dívida já vencida, suspensa devido às liminares no valor de R$ 50 bilhões em cinco anos, vamos ter R$ 30 bi e de uma forma facilitada.

Folha: O sr. já se posicionou favorável à exploração mineral na Serra do Curral, bastante criticada. Pretende rever sua posição?

R. Z.: Essa posição é do Copam [conselho de meio ambiente]. Temos o conselho que avalia e a sociedade pode opinar. E a Serra do Curral teve essa aprovação que atendeu a todas as questões técnicas e todos os atores puderam se manifestar, disso temos atas.
Sei que está próximo a um emblema de Belo Horizonte, mas não vai afetar o visual da Serra do Curral. Seria um crime minerar um Pão de Açúcar. E já propusemos o tombamento da Serra do Curral para deixar claro que o que queremos é que seja preservada, de forma definitiva, lembrando que boa parte dela já foi afetada e merece ser recomposta, e dentro desse tombamento teremos essas medidas.

Folha: O sr. é visto como opção da direita para 2026. Como vê essa possibilidade?

R. Z.: Nem penso a respeito. Estou focado nessa eleição, nesse momento, e assim que ela passar vou estar focado em resolver os problemas de Minas. Daqui a dois a três anos que vou estar cogitando alguma coisa. Não sei se vou continuar ou não. Quem sabe aparece aí uma excelente opção e eu posso voltar e ficar vivendo a minha vida com mais tranquilidade.

Classificação Indicativa: Livre

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