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Em show inédito na Concha, Osba e BaianaSystem celebram Independência da Bahia

Fernando Vivas/ Divulgação/ GOVBA
Músicas dos três álbuns do grupo ganharam roupagem sinfônica em apresentação  |   Bnews - Divulgação Fernando Vivas/ Divulgação/ GOVBA

Publicado em 03/07/2019, às 10h15   Bruno Luiz


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Violinos ao invés da guitarra baiana de Beto Barreto. Na linha de frente, Carlos Prazeres acompanhado de duas batutas nas mãos, e não Russo Passapusso nos vocais. 

Esta poderia ser a descrição do início de um concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), mas mostra como foi, na verdade, o começo do "Concerto da Independência", que reuniu nesta terça-feira (2), na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), a Osba e o grupo BaianaSystem em uma apresentação inédita, em comemoração à Independência da Bahia.

O show trouxe sucessos dos três discos da banda ("BaianaSystem", "Duas Cidades" e "O Futuro não Demora), revisitados por novos arranjos feitos pelo próprio Carlos e Jean Marques, ambos da Osba, Letieres Leite, da Orquestra Rumpilezz, e Ubiratan Marques, da Afrosinfônica.

A apresentação começou com "Lucro", que se tornou uma espécie de canção-assinatura do grupo, cuja letra traz críticas a reflexos sociais do capitalismo, como a especulação imobiliária. Os violinos e metais deram tom épico a versos como "tire as construções da minha praia" e "lucro, máquina de louco".

O show teve início morno, com interação pouco afiada entre a Orquestra e a banda, e um Russo Passapusso mais contido em relação às suas performances catárticas no comando do "Navio-pirata", trio do Baiana no Carnaval de Salvador, e em festivais de música. O grupo comandado por Carlos Prazeres também preparou introduções longas para os sucessos da banda e interlúdios, para acompanhar o show.

Mas o afinamento veio aos poucos e se consolidou mesmo quando o repertório chegou a músicas de "O Futuro não Demora". Ali, a Osba parece ter chegado ao que melhor sabe fazer, ao repaginar canções que possuem, em estúdio, forte presença de instrumentos de orquestra sinfônica, casos de "Fogo" e "Água", que, no disco, têm participações da Orquestra Afrosinfônica. 

A acentuação destes elementos deu aos arranjos um caráter de maior grandiosidade, intensificando as experimentações sinfônicas feitas pela banda no álbum. Nem por isso faltou na execução de músicas do disco ijexá, samba-reggae, beats eletrônicos e percussão afro-baiana, esta última em belo casamento com os instrumentos de corda, madeira e metais da Osba.

Foto: Fernando Vivas/ Divulgação/ GOVBA

Ficou claro também que o Concerto da Independência era mais que um concerto. Foi um espetáculo. Teve artes cênicas, com a atriz Denise Correia interpretando um texto sobre a história das lutas pela Independência da Bahia. Espetáculo à parte, a iluminação foi elemento essencial para o conceito do show. Os tons de vermelho e azul perduraram: o primeiro, preponderante em canções do último CD; o último, em músicas de "Duas Cidades". Em "Fogo", por exemplo, o palco da Concha foi tomado por luzes vermelhas e amarelas, construindo o tom laranja característico do fenômeno que intitula a música. 

Os momentos de protesto não faltaram, o que é característico das apresentações de Baiana. Em "Sulamericano", o público repetiu, a plenos pulmões, o verso "a justiça é cega". Os gritos de "Lula Livre" também se fizeram presentes, puxados pela plateia.

Destaque para a participação do rapper Vandal, que extravasou revolta e protesto em "Jah Revolta", um dos momentos mais catárticos do show.

Russo também deixou seu manifesto contra a Ponte Salvador-Itaparica, obra quase lendária do governo estadual, prometida desde o governo Jaques Wagner (PT), mas que nunca saiu do papel. Conclamou ao público, de forma irônica, um "Ilha de Itaparica, sem ponte". Vale lembrar que o último disco da banda tem como cenários o Recôncavo Baiano e a Ilha de Itaparica. 

Para quem está acostumado às pipocas de Baiana nos festejos momescos, Russo Passapusso colocou a Concha para pular com uma introdução de "Playsom" e com "Capim-Guiné". As rodinhas dos fãs na frente do palco, também conhecidas, aconteceram, mesmo diante do espaço apertado.

O show, no entanto, terminou de forma um tanto quanto anticlimática. Quando a Concha estava tomada pela introdução de Playsom, Russo emendou novamente Lucro, contrariando as expectativas de quem estava "a mais de mil decibeis". Após isso, finalizou o show com agradecimentos àqueles que o ajudaram a aprender a educação musical.

"Quero agradecer a cada um com quem aprendi a educação musical, a alma musical", disse o vocalista, apontando para os membros da Osba e do Baia. Àqueles acostumados a mais de quatro horas de pipoca de Baiana no Furdunço e no Carnaval, uma hora e meia de show na Concha parece mesmo pouco.

Classificação Indicativa: Livre

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