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Vídeo: Acarajé vira patrimônio do RJ; Érico Brás e internautas se revoltam

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Iguaria popularizada na Bahia recebeu honraria no RJ  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa / Pixabay
Juliana Barbosa

por Juliana Barbosa

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Publicado em 29/10/2023, às 12h14


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O acarajé, comida tradicional e representativa do cardápio da Bahia, apesar da origem africana, se tornou patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro no dia 28 de setembro, causando uma revolta entre os baianos. A Lei 10.157/23, dos deputados Renata Souza (Psol), Dani Monteiro (Psol) e Átila Nunes (MDB), foi sancionada no último dia 24 pelo governador Cláudio Castro, e garante o título ao preparo, sua produção e comercialização no estado.

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"O acarajé é uma especialidade gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira. Trata-se de um bolinho feito de massa de feijão-fradinho, cebola e sal, e frito em azeite de dendê. Seu nome vem da língua africana iorubá, onde ‘akará’ quer dizer 'bola de fogo' e ‘jé’ significa 'comer'", diz comunicado do Palácio Tiradentes.

A honraria cria uma situação revoltante para os baianos: o "Bolinho de fogo" em si é patrimônio lá no Rio, mas não na Bahia. Por aqui, é o ofício das Baianas de Acarajé (a tradicional produção e venda em tabuleiros) que recebe desde 2012 a configuração de patrimônio imaterial da cultura baiana, pela Lei nº 14.191/2012. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) considera o valor patrimonial do ofício a partir de 2005.

Indignado com a situação, o ator Érico Brás se pronunciou nas redes:

“Eu não quero saber porque o acarajé foi tombado no Rio de Janeiro e não foi tombado na Bahia. A culpa não é do Rio não, a culpa é de Salvador, a culpa é da Bahia, sabe por quê? Porque as pessoas responsáveis por fazer isso, as autoridades, não fizeram, assim como não fizeram com Cachaça, com Capoeira”, começou o ator.

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“Por que os caras não fizeram? É engraçado que a gente já viveu aquela disputa histórica maluca de o samba nasceu no Rio, nasceu na Bahia, nasceu no Rio, samba nasceu na Bahia e ganhou características urbanas no Rio de Janeiro, é óbvio, mas pra que essa maluquice? A gente já perdeu um monte de coisa, quer saber o que a gente vai perder daqui a pouco? A gente vai perder cravinho, a gente vai perder carnaval (...) eu tô falando isso porque as autoridades que deveriam tombar tudo que é baiano(...) acho engraçado que ninguém, ninguém quer tombar churrasco, ninguém quer tombar hambúrguer, ninguém quer tombar milkshake. Mas acarajé todo mundo quer.” 

Na web, os internautas também se posicionaram, chateados com o fato:

Sobre o Acarajé:

Símbolo da Bahia e uma oferenda sagrada do candomblé, crocante e servido quente (na temperatura e da pimenta), o acarajé é uma especialidade da gastronomia afro-brasileira, feita de um bolinho de massa de feijão fradinho, cebola, sal e outros temperos, frita no azeite de dendê. Pode ser simples ou recheada. A combinação mais usada é vatapá, salada vinagrete, camarão seco e caruru.

Existem controvérsias em relação à origem do acarajé e quando ele chegou ao Brasil, mas acredita-se que escravos vindos de Benim trouxeram a iguaria para as terras brasileiras entre o fim do século XVIII e o início do século XIX.

A palavra acarajé, na África, deriva de akara (bola de fogo) e jê (comer). Juntando as duas palavras quer dizer “comer bola de fogo”. Uma lenda diz que é a comida ritual do orixá Iansã. Sua origem vem do mito da relação de Xango com suas esposas Oxum e Iansã. O bolinho se tornou assim um tipo de oferenda entre esses orixás. Ele é considerado por muitos como uma comida sagrada. Por este motivo sua receita, além de não poder ser modificada, deve ser preparada pelas filhas-de-santo.

Mas foi o acarajé dos Iurubas da África ocidental, originário do faláfel do Oriente Médio, que deu origem ao brasileiro. Os Árabes levaram essa iguaria para a África nas suas diversas incursões durante os séculos VII e XIX. As favas secas e o grão de bico do faláfel foram substituídos pelo feijão fradinho na África. A diferença é que na gastronomia baiana, o acarajé é mais temperado e mais saboroso, diferentemente daquele servido aos orixás.  

Nossa equipe procurou a Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia mas, ainda não obteve resposta. Em nota, a Presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Rita Santos, disse que espera que "a terra mãe do Brasil abrace a causa e faça valer a importância desta iguaria aqui em nosso Estado".

Veja a nota completa:

"Primeiramente, queremos agradecer as inúmeras marcações, solicitações de pauta e mensagens por todos os meios de comunicação que recebemos ao longo do final de semana. O diálogo entre a ABAM, a sociedade civil, nossas associadas e Órgãos competentes precisa ser algo constante e de muita escuta para que possamos junt@s alinhar todas as questões que envolvam a regulamentação da nossa estrutura. 

Referente ao reconhecimento do nosso Bolinho de Fogo (ACARAJÉ) como Patrimônio Histórico e Cultural do Rio de Janeiro no dia 28 de outubro deste ano, que vem causando uma revolta entre os baianos, asseguro que é uma pauta ampla e esperamos que agora possamos chamar a atenção de quem realmente tem o poder para colocar nosso estado atualizado com essa importante causa. Precisamos juntar nossas vozes e cobrar aos nossos parlamentares da Bahia uma posição favorável e efetiva à nossa luta. 

O Projeto de Lei 10.157/23, de autoria da deputada Renata Souza (PSol), é legal e foi aprovado em 2ª discussão pelo plenário da Assembléia Legislativa do RJ. Embora a Associação direta e legitima seja baiana, o acarajé está presente há muito tempo na paisagem do Rio, é uma invenção do povo negro, africano, que está em toda parte do Brasil, tendo grande importância, sobretudo para a população negra local de cada região.

Até quando iremos assistir a patenteação e legitimidade deste importante ato estabelecido de forma legal e necessária, sem que a nossa terra, símbolo de nossa diáspora negra, berço da cultura ancestral das primeiras empreendedoras do Brasil participe efetivamente?!.

Queremos sim que o ACARAJÉ seja protegido e valorizado em todas as partes do mundo, mas a nossa expectativa é que a terra mãe do Brasil abrace a causa e faça valer a importância desta iguaria aqui em nosso Estado.

Como vocês sabem, vivemos em um estado democrático de direito e as leis para serem estabelecidas precisam de quórum parlamentar. É importante destacar que o Ofício das baianas de acarajé só foi reconhecido no âmbito Nacional no ano de 2005 e o Estadual em 2012. A Associação através da nossa Presidente Rita Santos busca as autoridades competentes há anos para que o projeto de lei seja instalado aqui na Bahia. 

Precisamos que o Acarajé siga protegido contra os absurdos de alteração no sabor, modo de preparo e forma de venda. Aqui na Bahia é comum percebermos que isso acontece regularmente e mesmo com todos os nossos esforços e engajamento midiático não temos uma LEI que possa nos amparar de forma legal. Essa é uma pauta defendida na ABAM NACIONAL. 

Aqui na Bahia já travamos varias discussões a respeito desta apropriação cultural indevida e demasiada. Ainda é comum percebermos a comercialização do Acarajé com nome de “bolinho de Jesus”, temperado com catchup, maionese ou mostarda, acompanhando a coloração do modismo americano (Pink, Red, Blue), inclusão de ingredientes que não pertencem a sua construção ancestral como bacalhau, siri entre outros sabores. 

Pasmem, diante dos absurdos citados acima e das nossas constantes comunicações com os parlamentares e legisladores locais sobre a importância em preservar o nosso patrimônio imaterial, o título estadual do oficio das baianas está vencido desde 2017 e até então segue sem o devido deferimento, embora haja constante dialogo com os Órgãos competentes. Desde abril deste ano estamos tentando montar a frente parlamentar das baianas de acarajé de forma pujante e presente na Assembléia Legislativa da Bahia - ALBA. Devido a nossa persistência atingimos o quorum mínimo de 21 Deputados numa casa que abriga mais de 40 deputados ativos.

A Lei que protege o acarajé na Bahia segue em pauta, esperamos que todos os Deputados dêem sua anuência para seguirmos com a Lei aqui em nossa terra, para assim conseguirmos o mesmo final feliz que o Rio de Janeiro teve; uma lei focada em salvaguardar nossas iguarias de tabuleiro, bem como nossas comerciantes, religiosidade, cultural ancestral e memória geracional colocando nossa maior riqueza de identidade baiana como porta voz de maior representatividade da nossa cultura brasileira. 

Vida longa ao símbolo gastronômico de nossa diáspora.

Viva o acarajé presente na Bahia, Rio de Janeiro, Ceará, Piauí, São Paulo, Rio Grande do Sul... Que seja preservado e salvaguardo como Patrimônio da Humanidade. "

Classificação Indicativa: Livre

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