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Após nove anos, barracas de praia continuam como sonho distante em Salvador

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As mais de 500 barracas de praia demolidas em 2010, a pedido da Justiça, empregavam milhares de pessoas  |   Bnews - Divulgação Reprodução/IG

Publicado em 25/04/2019, às 07h00   Márcia Guimarães


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Os baianos e turistas que aproveitavam as praias de Salvador no início dos anos 2000 ainda sentem saudade das barracas que tomavam a orla marítima da capital. Elas tinham mesas, cadeiras, espreguiçadeiras, sombreiros, som, comidas e drinks feitos na hora, além de chuveiro com água doce e banheiro. As mais de 500 barracas de praia demolidas em 2010, a pedido da Justiça, empregavam milhares de pessoas e proporcionavam uma acomodação diferenciada aos frequentadores.

Quase dez anos depois das demolições, muitos dos ex-donos das barracas de praia morreram e outros tiveram que buscar outra forma de sobreviver. “Perdemos 560 barracas. Muitos morreram, uns estão passando necessidade, uns catando latas, outros botaram outros comércios. A minha barraca era uma das que mais recebia turistas na praia. Hoje nem vemos turistas na praia. Não foi culpa de João Henrique ou de ACM Neto, mas da Justiça”, contou o fundador e diretor da Associação dos Barraqueiros de Salvador, Gilson Lobo. 

A limitação judicial é de apenas 250 kits móveis nas praias, em mais de 50km de extensão, entre São Tomé de Paripe e Ipitanga, sendo que antes havia mais de 500 barracas. Lobo reclama que, desde a derrubada das barracas, a situação está “horrível”.

“Perdemos milhares de turistas por causa disso, o movimento caiu muito. Em diversas praias há ‘garçons’ que ficam extorquindo os visitantes. Eles chegam a pedir R$ 60 apenas para as pessoas ocuparem uma mesa, foram os preços abusivos das mercadorias. Em Piatã mesmo, basta passar lá cinco minutos perto do antigo Casquinha de Siri para ver a atuação deles. Querem cobrar demais e cada dia que passa vai piorando e não se toma uma providência contra isso”, denuncia Lobo. 

Apesar de serem poucos, uma das possibilidades de trabalho para os ex-barraqueiros seria o aluguel dos quiosques que se encontram na orla de Salvador. Lobo diz que os ex-proprietários das barracas demolidas investiram tudo o que tinham, na época, na modernização de seus estabelecimentos e não teriam condições de alugar algum dos quiosques, que são divididos através de licitações.

“Fora que não tem esses quiosques todos e eles ainda não estão atraindo os turistas, já que não estão na areia e os preços das coisas lá são caros. Hoje, eu estou usando um isopor em Piatã e o kit praia, mas preciso me virar com outras coisas porque só com isso não dá. Estou esperando uma reforma que coloque barracas de praia. Não precisa ser nada grande não, não precisa de fio elétrico, basta fazer umas barraquinhas 3x3 ou 4x4 nas praias. Isso já vai melhorar muito e atrair os turistas de volta. E tem que tirar esse pessoal que está na praia extorquindo também”, solicita o diretor da associação.

Opção sem pé na areia

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Cláudio Tinoco, reconhece que a alternativa dos quiosques não trouxe de volta as condições que Salvador tinha no passado. Ele lembra que cidades como Lauro de Freitas e Fortaleza mantêm as suas barracas nas areias das praias, com estruturas construídas na área de praia e com serviços de mesas, banheiros, chuveiros. Em Fortaleza, inclusive, há verdadeiros beach clubs. 

“A decisão da Justiça Federal, infelizmente, só surtiu efeito em Salvador. Por outro lado, esse processo nunca foi fechado pela Justiça e isso condiciona a gente a estar submetido àquelas regras pactuadas anteriormente. Na gestão do prefeito ACM Neto (DEM), conseguimos um ganho tremendo com os quiosques porque as áreas só foram desobstruídas, as barracas retiradas e não foi deixada nenhuma opção de ocupação de novos equipamentos”, lembrou Tinoco. 

Para amenizar a situação dos permissionários, a prefeitura instalou guarderias (contêineres) para que eles possam guardar seus equipamentos no local. “É claro que nós precisamos fazer com que os serviços prestados, mesmo com as limitações que foram impostas, sejam qualificados, sem disputa ou guerra, como ocorre em Itapuã e no Porto da Barra, por exemplo. Por isso que a Secretaria de Ordem Pública vem agindo para ordenar e disciplinar. As requalificações feitas pela prefeitura ajudaram muito na melhoria da infraestrutura e valorizou muito ao acesso à praia”, avaliou o secretário. Por conta da questão judicial, as barracas de praia tradicionais não são uma opção no momento.

Classificação Indicativa: Livre

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