Especial

Mães órfãs: mulheres contam sobre a dor de perder filhos em tragédias

Publicado em 08/05/2016, às 20h13   Chayenne Guerreiro e Brenda Ferreira (@bocaonews)


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Marinúbia, Rute e Graça, são mães de perfis, classes sociais e estilos de vida completamente diferentes, entretanto, têm uma história em comum: as três perderam seus filhos em tragédias. Para elas, o dia das mães não é mais o mesmo há alguns anos.
Nesta data tão importante para alguns brasileiros, o Bocão News conversou com as três personalidades que marcaram as páginas dos jornais baianos nos últimos anos. Elas são mães de Emanuel e Emanuele, Davi Fiúza e Daniel Prata, respectivamente. 
Marinúbia não tem mais com quem passar a data
   Foto:Juarez Matias
Faz dois anos e sete meses que a vida de Marinúbia Gomes Barbosa não é mais a mesma. Ela perdeu os dois filhos Emanuel, 22, e Emanuelle Gomes, 23, em uma tragédia que aconteceu no dia 11 de outubro de 2013, quando os dois sofreram um acidente de moto. Os irmãos passavam pelo bairro de Ondina e, segundo testemunhas, teriam discutido com a médica Kátia Vargas Leal Pereira, que dirigia um Kia Sorento. Ela foi acusada de ter perseguido as vítimas, que foram lançados contra um poste e morreram no local.
A médica ficou ferida após o acidente e ao receber alta do hospital, foi diretamente para o presídio feminino, na época. A família dos jovens ainda aguarda o júri popular que irá julgá-la. Para a mãe dos meninos, o vazio é a maior lembrança. “É o terceiro dia das mães sem eles. Eu procuro não pensar, não comemorar, tenho tentado deixar um pouco pra trás, evito entrar nas redes sociais, quando eu mais eu mergulho nesse assunto mais triste eu fico, a cada dia das mães, a cada aniversario, a cada vez que entro em casa, olho os cantos e não vejo eles. Tem sido assim a minha vida, triste. Pra mim é como se tivesse sido ontem, é dor sem fim, um vazio sem tamanho", conta. 
De acordo com Marinúbia, Kátia Vargas vai a júri popular. Ela ainda aguarda a justiça marcar a data do julgamento. “Estamos esperando a determinação da justiça, temos que esperar não tem outra coisa que eu possa fazer. A Kátia entrou com uma solicitação a muito tempo atrás para que não fosse a júri popular, mas a justiça negou. Agora a única coisa que resta é que marquem a data. Meus filhos foram assassinados em via pública, as pessoas me perguntam o que eu vou fazer, não quero vingança, não tenho ódio, só peço a Deus que isso não fique impune e que alguma coisa sirva de exemplo para que não aconteça novamente", diz.
Rute nunca pôde enterrar o filho Davi 
Entre a dor de sepultar o próprio filho e a dor da espera de notícias sobre um sequestro, parece não existir explicação. Enquanto algumas mães tiveram a oportunidade de dar um último adeus a seus filhos, Rute Fiúza, até hoje aguarda a resposta de um crime em que Davi fiuza, 16 anos, foi vítima de sequestro, em São Cristóvão no dia 24 de outubro de 2014.  
Na época, em declaração à imprensa, familiares, testemunhas e a mãe do adolescente acusaram policiais militares. Segundo Rute, Davi foi levado de capuz e amarrado dentro do porta-malas de um carro. Ela ainda ressaltou que o filho não tinha armas e nenhum envolvimento com crime. 
Em abril deste ano, quase um ano e meio após o desaparecimento de Davi, 23 policiais militares foram indiciados pelo assassinato do jovem, além dos crimes de ocultação de cadáver e formação de quadrilha. 
De acordo com o advogado da família de Davi, Paulo Kleber Carneiro Carvalho Filho, a investigação, comandada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), aponta que 19 dos indiciados eram alunos do curso de formação da PM. 
Dia das mães é lembrado por Graça Prata como um ano e meio sem o filho 
8 de novembro de 2014. Esta data marcou o início da dor que parece não ter fim para os amigos e familiares do publicitário Daniel Prata. O rapaz, de 29 anos, morreu após o carro que conduzia colidir com o veículo do advogado Roberto João Starteri Sampaio Filho. Roberto é suspeito de ter provocado o acidente no bairro do Itaigara, em Salvador. 
Recentemente, a Justiça negou o pedido do acusado para ter de volta a licença para dirigir, que fora suspensa desde o ocorrido. A decisão foi tida como uma vitória para a família. 
   Foto: Gilberto Júnior
A data para Graça Prata, mãe de Daniel, virou um dia que ela prefere esquecer. “Esse é o segundo dia das mães sem o Daniel, eu estou sozinha em Salvador, minha família toda mora fora.  Meu filho tinha irmãs que me chamaram para passar o dia com elas, mas eu não vou. Não vou aguentar, por que elas são mães, pra mim ver comemoração de mãe e filho não dá pra mim. Eu tenho sofrido muito esses dias, por mais que eu reze e peça forças a Deus não tenho conseguido. Eu vou no cemitério colocar uma flor pra ele e rezar. É triste pensar que o vagabundo que matou ele está solto e vai passar com o dia com a mãe e a mulher, enquanto eu estou aqui sem o meu Daniel", lamenta. 
De acordo com ela, o processo ainda está sem definição na justiça. “Ainda não tem nada definido na justiça, estamos esperando para saber se o Roberto vai a júri popular. Ele entrou com pedido de restabelecimento de carteira que foi negado, graças a Deus. É um sentimento de impotência. A gente fica sofrendo, eu quero continuar lutando na justiça mas passo por muitas dúvidas. O assassino do meu filho foi liberado no terceiro dia de prisão, ele acusa o Daniel. Eu já esperava isso por que a única saída para ele é transformar o Daniel em um delinquente, já que todas as provas apontam para ele. O laudo pericial definiu o excesso de velocidade dele como a culpa do acidente", completou.
Até o fechamento dessa matéria, todos os casos continuam sem resolução da justiça. 
Matéria publicada originalmente em 8/05 às 03h13

Classificação Indicativa: Livre

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