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Após rompimento de barragem destruir casas em Coronel João Sá, moradores falam em recomeçar

Vagner Souza /BNews
Tragédia afetou mais de 500 pessoas, 150 famílias estão desabrigadas   |   Bnews - Divulgação Vagner Souza /BNews

Publicado em 14/07/2019, às 20h36   Diego Vieira



O sofá que costumava reunir a família na sala para assistir TV, hoje é sustentado por blocos e madeiras. O amontoado de móveis, roupas e colchões ainda molhados completam o cenário de devastação na residência da dona de casa Conceição de Jesus. Moradora da Rua José Antônio dos Santos, uma das dez atingidas na cidade de Coronel João Sá pelo rompimento parcial da barragem do Quati, na última quinta-feira (11), ela relata que apesar de ainda não saber como, o momento é de recomeçar.

“Dói muito, mas fazer o que né? Agora é chamar por Deus pra ver se a gente coloca tudo no lugar de novo. É muito ruim a gente pensar que até dias atrás as nossas coisinhas estavam aqui tudo organizadas e agora foram tudo por água abaixo. Quando compramos esses móveis aqui, a gente começou do zero e agora vamos começar do zero novamente”, desabafou dona Conceição, que mora na casa com o marido e o filho de 11 anos. 

A situação não é diferente para o lavrador Domingos Mendes, que aproveitou a tarde deste domingo (14), para tentar contar o prejuízo após perder praticamente todos os móveis. Vizinho de dona Conceição, ele também teve a casa invadida pela água do Rio do Peixe, com o rompimento da barragem.

“Eu não consigo nem comer. É muito triste ver a minha casa e as minhas coisas nessa situação. Estamos aqui vivendo nas mãos de Deus. Tivemos que jogar muitas coisas fora e falaram que não era para usarmos nada que foi molhado com a água contaminada do rio. Ser for assim vamos ficar só com a roupa do corpo”, disse. 

O lavrador divide o imóvel pequeno com sete filhos e a esposa, dona Josefa de Jesus, que tentava arrumar o que restou enquanto o marido conversava com a reportagem. Apesar dos prejuízos, ela fala em agradecimento por ela e sua família estarem vivos.

“O que nos resta é se conformar e pensar em recomeçar. O importante é que estamos vivos. Agora é pedir forças a Deus, ter fé e esperança e retomar a vida. Tomamos prejuízo com coisas que conseguimos com muito trabalho. A gente não tem boas condições de vida, agora é contar com Deus e a ajuda do povo”, contou ela emocionada, mostrando os colchões que conseguiu salvar da enxurrada. 

Já na Rua Senhor do Bonfim, dona Eurides Nascimento abriu a casa de apenas dois cômodos, nesta tarde, para aproveitar o sol na tentativa de secar as paredes e o chão que ainda estão encharcados. No caso dela, não sobrou nada, apenas a esperança de recomeço ao lado do marido e dos quatro filhos, que estão provisoriamente hospedados no ginásio de esportes do município. 

"A água entrou aqui derrubando e levando tudo. Até a porta dos fundos foi levada. É triste entrar na minha casa e encontrar ela assim vazia. Tendo que ir comer na casa dos outros. Mas, fazer o que? Não temos dinheiro para comprar outros móveis. Agora é esperar pelos outros que puderem ajudar”, relatou,  olhando para a casa vazia, que foi dada de presente pelo seu pai.

Quem também tenta voltar à rotina após perder diversos bens materiais é a aposentada Rita Alves, de 77 anos. À reportagem, ela relembra uma enchente que ocorreu em 2013 na região. Na época, a água não chegou a invadir a sua casa, diferente da última quinta, o dia em que a barragem se rompeu.

“Teve uma cheia aqui em 2013 que invadiu a área de serviço, mas dessa vez a água entrou na casa toda. A gente consegue as coisas com tanto esforço e agora está tudo perdido. Mas, o importante é que estou viva pra contar a história”, afirmou a idosa.

Ao lado dela, a filha Rosimeire Alves, diz que o que resta é esperar pela solidariedade dos outros. “Agora temos que recomeçar a vida de novo. Só Deus para ajudar e o povo para doar as coisas para nós. Nós somos fracos e não temos condições. Minha mãe teve um AVC e o pouco dinheiro que temos é para comprar os remédios dela”, disse.

Além dessas famílias, o rompimento da barragem afetou mais de 500 pessoas em Coronel João Sá. De acordo com a gestão municipal, ao todo 150 famílias estão desabrigadas. Muitas delas, estão vivendo em escolas e repartições públicas do município. 

Classificação Indicativa: Livre

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