Especial

Mulheres Negras: “O caminho é longo, mas a luta nos fortalece”, afirma Olívia Santana

Vagner Souza /BNews
Deputada é primeira mulher negra a ocupar o cargo na Bahia  |   Bnews - Divulgação Vagner Souza /BNews

Publicado em 07/10/2019, às 20h53   Aina Kaorner


FacebookTwitterWhatsApp

Primeira mulher negra a se eleger deputada estadual na Bahia, Olívia Santana (PCdoB) tem um novo desafio: se tornar a primeira mulher negra eleita prefeita da capital baiana.

“Não quero colocar o carro adiante dos bois”, pondera a deputada, mas afirma que colocou o nome à disposição no PCdoB nas eleições de 2020. 

“Estamos estabelecendo um debate que é muito positivo sobre a cidade, defendendo um projeto democrático, construído coletivamente, discutindo medidas alternativas para Salvador enfrentar esse momento de crise política e agenda nacional de retrocesso. Temos um cenário difícil, mas temos muitas possibilidades”, avalia a deputada.

Iniciando a carreira política em 1987, no movimento estudantil da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Olívia Santana é referência quando se fala na luta dos movimentos negro e feminista. Apesar disso, ela garante que não quer ser vista como uma candidata que tem resposta apenas para um segmento da população. “Quero ser vista, assim como os brancos que são eleitos, como alguém que seja capaz de conduzir Salvador. Não é uma questão exclusivamente da epiderme, mas de um projeto para a cidade”, destaca.

Homenageada da série de entrevistas do BNews, Mulheres Negras, Olívia Santana lembra que foi difícil se posicionar na política, como mulher, negra, em um ambiente majoritariamente composto por homens.

“A cultura impõe que a mulher, nos movimentos mistos, está ali para apoiar a decisão dos homens. Sempre quis colocar minha opinião e estimular que outras mulheres também pudessem se posicionar. Enfrentei muitos conflitos, porque para a mulher exercer liderança é difícil. Já chorei muito, mas depois levantava, sacudia a poeira e ia novamente para o movimento. A política é dura, mas não tem uma fórmula. Tem que ter coragem de expor opiniões, ouvir, refletir, confrontar pensamentos e busca construir juntos”, ensina.

Com mais de trinta anos de vida pública, Olívia vê avanço e fortalecimento do movimento de mulheres negras. “As mulheres estão mais ousadas. Fico encantada em ver a força que a juventude tem em se colocar, se posicionar. A conquista das cotas, por exemplo, foi importantíssima. Ainda há uma desigualdade muito brutal, o caminho é longo, mas a luta nos fortalece”.

Questionada se a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro, fez com que ela se sentisse coagida em expressar seus ideais políticos, Olívia é enfática: “Costumo dizer que meus heróis não morreram de overdose”, brinca, parafraseando a música ‘Ideologia’, de Cazuza. 

“Se [Nelson] Mandela tivesse medo a ponto de paralisá-lo, ele não teria feito a transformação que fez na África do Sul. Sempre penso nessas pessoas que me inspiram. Nina Simone já dizia que ‘liberdade é não ter medo’. O que aconteceu com Marielle é chocante, mas tenho uma indignação muito maior que o medo. Mataram Marielle, mas outras mulheres negras se revelaram e levaram adiante o seu legado. Se eles acham que nos matando vão fazer com que a gente recue, estão absolutamente errados. Estamos aqui porque nos movemos por propósitos. Jamais vou recuar”, garante.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp