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BNews Novembro Negro: Combate ao racismo estrutural é o principal desafio para a população negra no mercado de trabalho

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Com a pandemia, a desigualdade racial no mercado de trabalho foi agravada  |   Bnews - Divulgação Arquivo/Agência Brasil

Publicado em 11/11/2021, às 06h17   Redação BNews


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Não é novidade que a desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro é histórica, no entanto, a crise ocasionada pela pandemia da covid-19 agravou ainda mais a situação. Dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Economia apontam que os pretos e pardos, que representam mais da metade da população do país (56,8%) foram os mais prejudicados pelos efeitos da crise econômica, sobretudo os pretos.

Os principais indicadores mostram que: o desemprego aumentou mais entre os pretos; A taxa de desemprego entre os pretos foi mais expressiva que entre os demais; O nível da ocupação entre os pretos ficou ainda menor que o dos brancos; A queda da taxa de ocupação entre os pretos foi mais intensa que entre os demais; Pretos têm menor proporção entre os trabalhadores com carteira assinada; A remuneração dos pretos é menor que a dos demais em todos os segmentos.

De acordo com o IBGE, na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2020, que correspondem aos três primeiros meses de pandemia, a taxa de desemprego entre os pretos ficou em 17,8%, e entre os pardos, em 15,4%. A dos brancos, por sua vez, ficou em 10,4%.

Assim, a diferença da taxa dos pretos em relação à dos brancos foi de 7,4 pontos percentuais (p.p.), à dos pardos de 2.4 p.p., e de 4,5 p.p. em relação à média geral do país.

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Na Bahia, segundo dados do último estudo realizado pelo IBGE, a pobreza é maior entre pretos ou pardos (43,8%) do que brancos (38,6%). Em Salvador, essa diferença era ainda maior em favor dos brancos: 15,2% deles estavam abaixo da linha de pobreza em 2018, frente a 23,6% dos pretos ou pardos.

Já o rendimento médio domiciliar per capita de pretos ou pardos é cerca de 30% menor que o dos brancos no estado e quase metade (-47,3%) em Salvador. Na capital, a desigualdade salarial por cor ou raça supera a causada pela informalidade, e trabalhadores brancos informais ganham, em média, 5,3% mais que pretos ou pardos formalizados.

Entrave para a população negra no mercado de trabalho

De acordo com a vice-presidente estadual da União de Negros Pela Igualdade (Unegro-BA), Marina Duarte, os índices obtidos pela pesquisa do IBGE são resultado de um processo histórico, fruto do chamado racismo estrutural. Para ela, o principal desafio para combater o racismo está no próprio sistema que privilegia brancos e ricos e desfavorece os negros.

"Dentro desse sistema você encontra o capitalismo econômico que aprofunda a crise civilizatória. É um sistema onde encontramos uma estrutura perversa com a população pobre e essa população é formada pelo povo preto em sua maioria, que se submete muitas vezes ao subemprego, aos trabalhos análogos a escravidão. Essa crise econômica desencadeia vários outros fatores que levam a fome, ao desespero por dignidade, o desemprego", afirma.

Ainda conforme Marina Duarte, a falta de políticas públicas também contribui para o resultado do estudo divulgado pelo IBGE. "Essa segurança deveria ser feita pelo poder público com um governo voltado para a maioria da população e não um governo voltado para as grandes elites e a gente hoje vive isso", opina.

No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais agravante, segundo a ativista. "A mulher negra sofre muito mais porque se encontra na base dessa pirâmide perversa. Sofre porque é negra, mulher e pobre. A luta tem que ser raça, classe e gênero. Se a gente não tem a emancipação dessa mulher negra, a gente não consegue uma real mudança social".

As empresas e o combate ao racismo estrutural 

Como exemplo das afirmações da vice-presidente da Unegro-BA está uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, sobre diversidade nas empresas,  que apontou que nos cargos executivos das 500 maiores empresas do Brasil, apenas 4,7% estão preenchidos por pretos ou pardos.

A Suzano, referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto, que possui unidade em Mucuri, no Extremo Sul da Bahia, afirma que tem realizado diversas ações com o objetivo de contribuir para o crescimento desse índice. A exemplo disso está a meta estabelecida pela empresa de ter 30% de pessoas negras em cargos de liderança até 2025.

Em 2019, a Suzano também assinou a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, movimento formado por empresas e instituições para a promoção da inclusão racial. Com a adesão, a companhia se compromete com o objetivo da igualdade étnico-racial e foco na promoção e desenvolvimento de carreira e preparação de profissionais negros para a alta liderança.

Segundo a Suzano, internamente, são realizadas diversas ações para estimular o tema na organização, que são impulsionadas pelo Plural, movimento orgânico e voluntário de colaboradores que tem como missão usar a informação como forma de promover a diversidade e inclusão, atuando especialmente com os grupos de afinidade de negros(as), mulheres, LGBTI+, pessoas com deficiência e gerações. 

Além disso, a empresa afirma que tem realizado outras importantes iniciativas voltadas para a diversidade racial. Uma delas, o programa Afrodev, em parceria com a ShareRH, para formação e contratação de pessoas negras em cargos de ciências de dados.

Criada em 2007, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (Sepromi), é única secretaria de estado do país direcionada as questões de igualdade racial. A pasta articula o conjunto das políticas de promoção da igualdade racial e atua no eixo de combate ao racismo e da intolerância religiosa. 

Uma das principais ações desenvolvidas pela secretaria é a estruturação do estatuto de igualdade racial feita em 2014, segundo Fabya Reis, titular da Sepromi. "Nós articulamos com um conjunto de instituições, assim como também, através do serviço ofertado pelo Centro de Referência Nelsom Mandela, o apoio às vítimas de racismo, intolerância religiosa e ainda um suporte com uma unidade móvel que percorre os nossos territórios”, disse.

“Também celebramos a criação do Conselho Para Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais do Estado da Bahia, bem como a ampliação do Conselho do Desenvolvimento para Comunidade Negra com alternância entre poder público e a representação da sociedade civil", acrescentou.

Bahia e Salvador têm segunda maior participação de pretos ou pardos na população total

Os dados por estados e capitais do estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” realizado pelo IBGE em 2018 mostram que, via de regra, tanto a Bahia quanto Salvador têm indicadores de desigualdade racial abaixo da média nacional. Entretanto, a capital normalmente apresenta diferenças mais profundas que o estado como um todo.

Em 2018, tanto a Bahia quanto Salvador tinham a segunda maior participação de pretos ou pardos na população total e a maior participação de pessoas que se declaravam pretas entre os estados e as capitais, respectivamente. 

Entre os baianos, os pretos ou pardos eram 81,1% (cerca de 12 milhões de pessoas), sendo que 22,9% eram pretos (3,4 milhões). Em Salvador 82,8% da população se declaravam pretos ou pardos (2,4 milhões de pessoas), sendo 34,8% pretos (988 mil). No Brasil como um todo, 55,8% da população se declaravam pretos ou pardos em 2018 (cerca de 116 milhões de pessoas), sendo 9,3% pretos (19,2 milhões).

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