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Bomba! Árbitra baiana afirma ter sido assediada por instrutor da CBF; ouça desabafo

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De acordo com a vítima, as perseguições do instrutor começaram em 2012 e, ao longo dos anos, só pioraram  |   Bnews - Divulgação Divulgação/FBF

Publicado em 05/10/2018, às 16h46   Redação Galáticos Online


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No Brasil, ver uma árbitra apitando jogos do futebol masculino virou lenda. Num país e num ambiente historicamente machista, as críticas às mulheres que decidem atuar como árbitras ou bandeirinhas são, na maioria das vezes, pelo viés do gênero. Em algumas ocasiões, as guerreiras que tentam quebrar as barreiras do preconceito são assediadas de forma vexatória por quem deveria dar proteção. Essa semana, o Galáticos Online recebeu uma denúncia muito grave referente a uma árbitra de futebol do quadro da FBF (Federação Bahiana de Futebol) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que estaria sendo assediada por um instrutor da CBF.

Em contato com nossa equipe, Patrícia dos Reis confirmou que sofreu diversos assédios do instrutor de arbitragem da CBF e FBF, Belmiro da Silva. De acordo com a vítima, as perseguições do instrutor começaram em 2012 e, ao longo dos anos, só pioraram. Patrícia relata que chegou a levar o caso para o chefe da comissão, Vidal Cordeiro, no entanto, não recebeu apoio e chegou a ser orientada a esquecer o assunto para não prejudicar a carreira dela e a do seu noivo, Emerson Ricardo, que também é árbitro da CBF e FBF.

"Tudo começou em 2012, mas de forma discreta, onde nem eu mesma me toquei do que estava acontecendo e se intensificaram no meado de 2012 para 2013, onde ele me fazia ligações quase todas as noites pedindo para ter reuniões privadas comigo, que me levaria em casa, na época em Madre de Deus, independe da hora, pois ele tinha coisas muito importantes para tratar sobre minha carreira profissional. Eu sempre dava uma desculpa para evitar tal encontro. Nos treinamentos que rolavam no 19BC, onde eu sempre fiz questão de participar porque entendia que isso sim ajudaria na minha carreira, ele fazia piadas baixas, trocadilhos, na frente dos árbitros para comigo, mas ali eu me sentia protegida, pois haviam outras pessoas e ele não iria fazer nada. Com tanta perturbação dele eu e o Emerson decidimos assumir o namoro para todos, e ver se aquilo apagava. Dali em diante eu passei a ser uma árbitra ineficiente, sem preparo e ao qual ele sempre fez questão de falar mal de mim na comissão e também do meu parceiro. Nessa época, eu me abria muito com o árbitro assistente Cláudio Oliveira, muito amigo meu e que sempre me orientou a ficar longe desse cidadão, graças a fama que ele tinha. Fomos suportando até o momento que, enfim, ele saiu da Federação. Durante essa saída eu e o Emerson tivemos muitas chances e correspondendo tais, nossa carreira enfim estava tendo progresso. Mas, infelizmente, ele voltou no início desse ano. Eu preferir acreditar que ele iria ser diferente, que não iria voltar a me perseguir. Todos os árbitros do quadro Nacional sabem desse fato, pois eu mesma fiz questão de deixar sempre bem claro, pra que ninguém falasse que não sabia posteriormente. E aí ele voltou a me perseguir, em reuniões da comissão, o instrutor faz questão de sempre desfazer do meu trabalho e, até mesmo, desvalorizar tudo o que conquistei com os meus esforços e não com "ajuda" de ninguém. Ao saber do que estava acontecendo, vi no presidente da comissão uma forma dele parar. Mas, para minha surpresa, ele pediu para que meu noivo mandasse eu me acalmar e ficar quieta, pois isso era algo muito sério e era melhor deixar quieto. Ali eu vi que ele iria acabar com minha carreira, pois nem o presidente da comissão me apoiou. Tentei por várias vezes que tais fatos chegassem a Ednaldo, mas não tive resultado. Assim na última quarta feira, faltando menos de 15 dias para o Rap-Fifa, treinamento que fui selecionada pela CBF para fazer, graças aos meus desempenhos nos jogos e nos testes, me surpreendo com a minha exclusão, onde fiquei sabendo através do WhatsApp e por uma árbitra de outro estado que me perguntou o motivo da minha substituição".

Após ficar sabendo que foi substituída da escala e que não iria participar do RAP, espécie de teste para apitar jogos nacionais, a árbitra procurou a Federação Bahiana de Futebol. Lá ela foi informada que saiu da escala, pois dos quatro treinos realizados nos meses anteriores, ela só teria participado de dois. No entanto, Patrícia revela que o real motivo para exclusão do curso foi pessoal e motivado por Belmiro. 

"Prontamente me dirigir a Federação e lá fiquei sabendo que isso se deve ao fato de que em 4 treinos que ocorreram nos meses anterior eu só fiz 2. Assim como eu, outros árbitros iriam também sair de escala, mas eu estava no rap, e fui tirada. Essa era a desculpa. Confrontei todos na reunião e eu disse que sabia o real motivo, já que no treinamento que estava presente o senhor Belmiro deixou bem claro que 3 das 4 meninas do quadro Nacional estavam muito bem e eu não estava inclusa nessa lista, o mesmo fez questão, nas últimas reuniões que participei, de desacreditar minha palavra para que ninguém acreditasse em mim, quando eu jogasse no ar tudo o que estava acontecendo".

Inconformada, Patrícia foi procurar o chefe da comissão, Vidal Cordeiro, para denunciar Belmiro, porém, segundo relatos da vítima, ele se omitiu diante da situação e chegou a revelar que o coração dela sabia o real motivo que ela havia sido retirada.

“Voltando a minha retirada do Rap, que foi o estopim para tudo isso, eu questionei os membros da comissão. Principalmente o presidente Vidal Lopes, pois eu falava pra ele que eu sabia os reais motivos aos quais eu estava sendo excluída e tudo se devia a Belmiro, pois ele estava fazendo minha caveira para Ednaldo, e simplesmente o Vidal abaixou a cabeça e pediu para que eu falasse baixo. Quando insistir ele disse que no meu coração eu sabia do motivo. Isso me fez sair de mim, eu queria saber o porquê eles não falaram para Ednaldo os reais motivos de Belmiro tanto me criticar, porque eles estavam deixando aquilo acontecer comigo, eu estava há 5 anos me preparando para o Rap e sair assim, nas vésperas do treinamento. Ninguém me falava mais nada, só pediu para me acalmar e falar baixo. Tive apoio sim, de alguns membros da comissão, mas em sua maioria, principalmente o presidente da comissão, que tinha obrigação de me proteger e denunciar tudo a Ednaldo, preferiram se calar e me calar. Fui informada que não farei o teste mantenedor do quadro nacional agora dia 09, o que acarretará na minha exclusão das escalas também da CBF. Todos as ligações podem ser verificadas com uma simples quebra de sigilo telefônico, e tudo ficará as claras, para que homens como esse entendam que não somos mercadorias, ou propriedade deles. Basta! Eu não queria me expôr, nunca quis assim, mas agora eu terei a certeza que Ednaldo e Ricardo sabem”. 

Ainda de acordo com a vítima, no mês passado, o árbitro assistente Jucimar Dias, ligou para o companheiro dela para falar que ela estava falando demais e que isso poderia prejudicar a carreira dele. Durante a ligação, Jucimar chegou a falar que Belmiro da Silva gostaria de ter uma reunião em particular com Emerson, noivo de Patrícia e que também é árbitro. 

"No último mês, fomos surpreendidos com uma ligação do árbitro assistente Jucimar Dias, grande defensor do Belmiro, que fazia questão de divulgar que o seu grande amigo seria o presidente da comissão a partir de Janeiro. Nessa ligação, Jucimar falou para o Emerson que eu estava falando demais e que Belmiro estava preocupado com o andamento da carreira de Emerson, e pediu para que Emerson atendesse Belmiro e que conversassem. Minutos depois, o próprio Belmiro ligou e falou que no dia seguinte, onde teríamos um treinamento, ele queria conversar em particular com o Emerson, pois estava ocorrendo conversas que poderia prejudicar sua carreira. Emerson só finalizou dizendo "ok". Mas no treinamento não deu abertura para tal reunião privada, pois ninguém me incluiu nela, já que era eu que estava falando demais".

O Galáticos Online entrou em contato com Vidal Cordeiro na manhã desta sexta-feira. O chefe da comissão de arbitragem atendeu nossa ligação muito bem, mas, ao saber que se tratava de um jornalista do Galáticos, disse que estava ocupado no momento e que só poderia falar à noite. O site também tentou contato com o instrutor da CBF, Belmiro da Silva, e com o presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, mas as ligações não foram atendidas.

Ouça o desabafo feito pela árbitra:

Classificação Indicativa: Livre

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