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Às vésperas do Dia da Mulher, Vitória contrata jogador que esfaqueou a namorada e revolta torcedoras

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Apesar das manifestações contrárias da torcida, a vinda do atacante Wesley Pionteck foi confirmada pelo presidente do clube  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa

Publicado em 06/03/2021, às 14h50   Tiago Di Araujo


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Na próxima segunda-feira, dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Por toda história de luta feminina que envolve, a data é marcada por homenagens às mulheres e destaque à representatividade delas nos dias de hoje. No entanto, em pleno 2021, as torcedoras do Esporte Clube Vitória não estão se sentindo nenhum pouco representadas pelo time que torcem.

O motivo é que, na semana em que é celebrada a data de orgulho e luta feminina, o Vitória acertou a contratação do atacante Wesley Pionteck. O jovem atleta, de 24 anos, chega diante de manifestações contrárias da torcida rubro-negra pelo histórico fora de campo.

O jogador foi condenado por esfaquear sua ex-namorada durante uma discussão, em janeiro de 2019, e respondeu pelo crime de lesão corporal, com pena de um ano e quatro meses. Ele cumpre a pena em regime aberto e resta 11 meses. Recentemente, Wesley chegou a ser anunciado pelo Juventude e Paraná, mas os dois clubes recuaram após repercussão negativa nas redes sociais.

Porém, no Rubro-Negro baiano, a torcida feminina não teve voz e não interferiu em nada na decisão do presidente Paulo Carneiro, responsável pela contratação. Assim como torcedoras do Juventude e do Paraná, as "leoninas" até mostraram indignação pelas redes sociais, assim como perfis que noticiam o dia-a-dia do clube, mas nada adiantou até então.

A reportagem do BNews conversou com torcedoras do Leão e constatou um cenário de pura revolta. "Para mim isso é um desrespeito, a melhor palavra que define isso é desrepeito. É uma desvalorização da mulher torcedora, da mulher como um todo, dar hoje, uma posição de idolatria a um agressor, a um criminoso, e aqui, não só no Vitória, mas em nenhum outro time deveria ter espaço para pessoas assim", declarou a torcedora Ludmila Santana ao BNews.

Para Larissa Andrade, a atitude é reflexo de uma gestão machista do clube. "Eu já estava acompanhando o caso a alguns dias, e achei até que era fake news por um momento, não me surpreende pela gestão que é marcada por diversos episódios de machismo e falta de consideração com atletas femininas, assim como é uma tentativa de sujar o nome do time", afirma.

Torcedora atuante, ela conta que buscou junto com outras, de certa forma, impedir a contratação. Ela se refere à campanha #WesleyNão, que ganhou força nas redes sociais nos últimos dias. "Fizemos algumas manifestações online sobre isso, mas acredito que não foi o suficiente para impedir a contratação que também está sendo feita por debaixo dos panos. Mas, é sujar mais uma vez o nome do clube com polêmicas. Estamos com dívidas, e com vários problemas, e essa contratação é o reflexo de uma ideologia que está há anos dentro da gestão do Vitória e precisa ser urgentemente retirada", destaca.

Responsável também por campanhas nas redes sociais em apoio ao futebol feminino, Clara Dourado acredita que a contratação cause danos à imagem do clube. "Acredito que o dano para a imagem do Vitória, a possível perda de patrocinadores e o desgaste com a torcida em confirmar essa contratação em plena semana do dia da mulher não valem o risco".

Apesar de defender a ressocialização, ela argumenta que não deve ser feito alçando à posição de ídolo, como muitos jogadores são vistos no futebol hoje em dia. "Acredito que essa contratação não deveria acontecer. Não por punitivismo puro e simples, ou pelo fato de que o atleta não merece ser ressocializado. Todos merecem. O retorno ao futebol é uma forma não só de ressocialização do atleta, mas alcá-lo à posiçaõ de ídolo, de prestígio, o que traz revolta pela sensação de impunidade". E continua. "Os escândalos envolvendo ateltas mostram que apenas a vítima é socialmente penalizada. Os atletas costuam seguir sua carreira como se nada tivesse acontecido", conclui.

Quem também conversou com a reportagem foi a torcedora Pilar Guimarães, de 24 anos, que não escondeu a tristeza ao ter conhecimento de que teria o atleta vestindo a camisa do clube. "Como torcedora, apaixonada pelo Vitória, que sempre se sentiu representada pela torcida, pelo clube, é extremamente uma contratação que faz com que a gente repense na tranquilidade que é torcer para o Vitória. É horrível imaginar ver um atleta desse vestindo nossa camisa e representando nosso clube, sendo que ele agrediu uma mulher, e da forma que foi. Então, é extremamente triste, é um retrocesso enorme, e deixa de representar qualquer mulher que torça pelo time, porque o Vitória não pensou na gente. O presente do Vitória pelo Dia da Mulher foi contratar um agressor de mulher", enfatizou.

*Durante a produção desta matéria, a reportagem do BNews identificou o receio de muitas torcedoras para falar do assunto. Muitas até se posicionaram contrárias ao clube, mas não autorizaram a veiculação das suas declarações nesta publicação.

Histórico contra interesses femininos no futebol
Vale lembrar que a manifestação de torcedoras contra a vinda do atacante Wesley Pionteck é apenas um dos capítulos do histórico contrário do clube aos interesses femininos no futebol. De responsabilidade do presidente Paulo Carneiro, o Rubro-Negro se tornou vexame em cenário nacional ao "implantar" dificuldades para as atividades das atletas.

Em meio à sua campanha para retornar a presidência do Leão, o mandatário chegou a declarar que não queria que o time feminino jogasse no Barradão, sede oficial do clube. "A primeira coisa que vou fazer [se eleito] é tirar o futebol feminino de lá. Porque não é lugar... Ou joga futebol masculino ou joga futebol feminino, tem que ser em lugares diferentes",  afirmou Carneiro ao canal BAR FC.


Foto: Tiago Caldas / Divulgação / ECV

Posteriormente, já no comando do clube, ele criou empecilhos para o repasse de R$ 120 mil da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ao futebol feminino. Uma reportagem do site Uol, acusou o clube de cortar o orçamento para o setor nos últimos anos e mantém equipes quase que amadoras oferecendo ajuda de custo mínima com alimentação e transporte (menos de R$500 por mês).

Na época, um grupo de torcedores do Vitória criou uma campanha para ajudar a equipe feminina do Leão da Barra. A Frente Vitória Popular lançou o #EuApoioAsLeoas para arrecadar recursos que serão direcionados para as atletas, sendo descontados apenas os custos de produção e da plataforma.

Procurado pela equipe do BNews, o Esporte Clube Vitória afirmou que não iria se manifestar sobre o protesto. 

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