Esporte

Academia de boxe que formou 3 medalhistas olímpicos sofre com falta de apoio em Salvador

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Nessas três décadas, a academia, que abriga o projeto Campeões da Vida, já atendeu cerca de 8.000 pessoas  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Twitter

Publicado em 07/08/2021, às 19h58   Dante Ferrasoli, Folhapress*


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Luiz Dórea está feliz, mas não está surpreso. Ex-boxeador, campeão mundial júnior em 1988 e fundador da Champion, academia no bairro da Cidade Nova, em Salvador, ele já mandou 14 lutadores para Olimpíadas, três dos quais medalhistas: Adriana Araújo, bronze em Londres-2012, Robson Conceição, ouro na Rio-2016 e, agora, Hebert Conceição, ouro em Tóquio-2020.
Assim, encarou com tranquilidade a chegada ao pódio do pupilo "preparado exatamente para isso".

Criada em 1990, a Champion começou por acaso, como um lugar para o próprio Dórea treinar. "Só que foi aparecendo tanta gente... Quando vi, já tinham quase cem. Não pensava em ser técnico, mas me tornei."

Nessas três décadas, a academia, que abriga o projeto Campeões da Vida, já atendeu cerca de 8.000 pessoas. Assim, a história do treinador se confunde à do boxe baiano, o mais forte do Brasil. O primeiro boxeador a treinar na Champion e disputar uma Olimpíada, por exemplo, foi Luís Cláudio Freitas, irmão mais velho de Acelino "Popó" Freitas. Ele disputou os Jogos de Barcelona, em 1992.

Apesar do incontestável sucesso na formação de atletas olímpicos, Dórea se queixa da falta de apoio ao projeto -em 31 anos, só recebeu ajuda em 2012, da estatal Bahiagás. "A gente não tem apoio de governo, de prefeitura nem de empresa privada. A Bahia é o coração do boxe no país há muitos anos. O que mais precisamos fazer para termos o reconhecimento que merecemos?", questiona. "Eu tive sorte, sou um abençoado e consigo manter o projeto, mas quantos têm esse sonho e ficam pelo caminho?"

Dórea mantém a Champion com recursos próprios. Além de treinador de boxe, também atua no MMA -Rodrigo Minotauro, Anderson Silva e Vitor Belfort, nomes importantes da modalidade, por exemplo, são ou foram alunos do técnico. Daí, afirma ele, vem verba para segurar o projeto. Mas não sobra.

"Todos os professores são voluntários. Também somos psicólogos, nutricionistas e amigos dos alunos, porque não temos estrutura para ter esse tipo de coisa", diz. Ainda assim, tanto o projeto quanto o boxe baiano são um sucesso, o que ele atribui a um tripé: o trabalho de base, com crianças a partir dos 10 anos de idade, além de treino e do que ele chama de aptidão natural dos baianos às artes marciais. "Temos ginga, assimilamos muito rapidamente. Você vê isso em cada canto de Salvador."

Conceição chegou à Champion aos 14 anos. Inicialmente, ele buscou, em outra academia, o fit boxing, prática que visa o emagrecimento. Mas a federação baiana tinha uma vaga aberta no campeonato brasileiro na categoria até 81 kg, e o professor do garoto à época enxergou o potencial e o levou a Dórea.

Ele, que nunca havia lutado, treinou por um mês e venceu o torneio. Ainda relutou em seguir no boxe, pois queria entrar no MMA. Convencido por Dórea, não parou mais. Depois, aos 19, chegou à seleção brasileira.

"A gente sempre soube o quão longe o Hebert poderia ir. Quem chega sem ter lutado e é campeão brasileiro meses depois chama muito a atenção. No cenário nacional, desde então, ele não perdeu mais", diz André Leão, 34, professor na Champion desde 2015.

Bia Ferreira, que, assim como Conceição, trará uma medalha para o Brasil -disputa, na madrugada deste domingo (8), a final da categoria até 60 kg- também é ligada à academia, embora não tenha se formado ali. O pai dela, o ex-boxeador Sergipe, treinava na Champion e a levava para acompanhá-lo. A família, porém, mudou de estado, e ela concluiu a formação em Juiz de Fora (MG).

Atualmente, Dórea está em Los Angeles, nos EUA, junto com outro de seus pupilos, Robson Conceição, ouro na Rio-2016, para a disputa do título mundial de sua categoria, a superpena. A organização do evento ofereceu, e a equipe aceitou treinar na Califórnia para ter acesso à infraestrutura da competição.

Classificação Indicativa: Livre

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