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Fatos & pitacos: "Não devemos sentir constrangimento por não dar conta de tudo"

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Publicado em 28/11/2023, às 09h00   Bruna Varjão


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Mulheres são maioria em comitê responsável pelo 1º Fórum Baiano de Direito das Cidades


Cinco mulheres ligadas pela liderança feminina. Isabela, Marcela, Layanna, Carolina e Érica são jovens, financeiramente independentes e conscientes do que precisaram enfrentar para conquistar seus respectivos espaços na sociedade e no mercado de trabalho. Essas mulheres integram o comitê de oito pessoas responsáveis pela organização do 1º Fórum Baiano de Direito das Cidades, que acontece no próximo dia 30, sob realização da Associação Comercial da Bahia (ACB) e do Instituto Baiano de Direito Imobiliário (IBDI), e dividiram com a Fatos&pitacos um pouco das suas experiências pessoais e profissionais.


Machismo histórico

“São séculos de desigualdade e o resultado é uma sociedade ensinada a pensar a partir de perspectivas exclusivamente masculinas”

Quando decidiu ingressar na faculdade de Direito, em 2000, Isabela Suarez sabia que estava escolhendo uma carreira na qual os cargos de liderança, majoritariamente, são ocupados por homens. Os sinais já foram vistos nos primeiros meses de estágio em repartições públicas na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, Isabela é diretora do Núcleo de Sustentabilidade da Associação Comercial da Bahia (ACB) e Presidente da Fundação Baía Viva, no entanto, chegar a uma posição importante não é fácil para as mulheres que, historicamente, foram educadas para ocupar o lugar do silêncio. “São séculos de desigualdade e o resultado é uma sociedade ensinada a pensar a partir de perspectivas exclusivamente masculinas”, pontua.

O silenciamento social

Conciliar múltiplas responsabilidades pode desencadear conflitos pessoais e inseguranças


Apostar no empreendedorismo também não é um caminho fácil para as mulheres. Advogada de sucesso, Carolina Pina escolheu vivenciar estes desafios e conquistas, após ter decidido abrir o próprio escritório voltado para o Direito Ambiental. Apesar do currículo vasto, ela não titubeia para ressaltar o maior obstáculo enfrentado na trajetória: falta de incentivo. “Mulheres foram educadas para ficarem em silêncio”, lamenta. O silenciamento social, atrelado à tripla jornada são potentes desestimuladores das mulheres. Conciliar múltiplas responsabilidades pode desencadear conflitos pessoais e inseguranças, sobretudo diante da dificuldade de conseguir ‘dar conta de tudo’. “Não devemos sentir constrangimento por não dar conta de tudo e temos que aceitar o fato de que precisamos de apoio”, ensina Carolina.

Ser vista e ouvida

“Temos muitas advogadas, mas poucas em cargos de liderança”


Mas engana-se quem pensa que o caminho é construído por flores. Sócia de um escritório de advocacia que já tem 24 anos de história, Marcela Varjão conta sobre o quanto é difícil conquistar um espaço sólido no mercado de trabalho. “Temos muitas advogadas, mas poucas em cargos de liderança”, pontua. Marcar reuniões, defender ideias, ser vista e ouvida são alguns dos desafios diários profissionais, mas para além disso, as mulheres também precisam driblar as imposições sociais. “Conciliar o trabalho com essas expectativas que existem sobre esse ser feminino talvez seja o maior dos desafios. E sem dúvidas, esse é um fator que impede as mulheres de alcançarem cargos mais altos”, ressalta. Orgulhosa, Marcela lembra que, apesar das dificuldades, ainda há espaços que priorizam o protagonismo feminino. “A parceria entre o Instituto Baiano de Direito Imobiliário e a Diretoria de Sustentabilidade da Associação Comercial da Bahia, resultou no Fórum Baiano de Direito das Cidade, em Salvador. E eu vejo como a concepção desse evento, também é pensado para valorizar a mulher nesse espaço, porque houve essa preocupação de pensar em palestrantes e mediadoras que fossem mulheres, justamente porque a gente também quer dar esse lugar de protagonismo para a mulher”, disse.


O julgamento x redes de apoio 

A mulher, quando bonita demais, geralmente, sofre uma invisibilização da competência profissional


Os obstáculos são diversos e podem variar de acordo com a posição que a mulher ocupa na organização. Layanna Piau, advogada e sócia de um escritório renomado, garante que criar redes de relacionamentos, que são importantes para as relações comerciais diversas, não é fácil para uma mulher. “Estreitar relação cliente-advogado é muito importante, mas muitas vezes as mulheres terminam tendo mais dificuldade. Se eu proponho sair com um cliente, o que pode acontecer de forma recorrente, isso será julgado, diferentemente se eu fosse um advogado homem”, desabafa. Mas além das atitudes, os aspectos físicos, relacionados à aparência, também é um fator usado em julgamentos contra as mulheres.  “Os aspectos físicos são frequentemente utilizados para diminuir o mérito ou justificar qualquer posição de destaque da mulher”, conta. Para diminuir essa tensão, redes de relacionamentos nos ambientes organizacionais têm sido cada vez mais fortalecidas entre as mulheres. “Vários grupos de mulheres empreendedoras têm sido criados. São mulheres indicando mulheres. A gente sai dessa perspectiva da concorrência e passa a se enxergar como rede de apoio”, garante.

Atuar de forma coletiva é ponto chave

Não se retrair diante de situações adversas e atuar de forma coletiva são pontos chaves para a diminuição da desigualdade de gênero

Advogada especialista em Direito Ambiental e Sustentabilidade, com pós-graduação e mestrado não foram atributos suficientes para impedir que Érica Rusch passasse por experiências de tentativas de silenciamento. Mas ela sabe que, independente de currículo, a firmeza feminina precisa ser a primeira característica para não ser mais uma vítima do machismo estrutural. “É rotineiro não ter a voz concedida e não ser ouvida. Nesses momentos é preciso assumir a voz altiva para não permitir que isso avance”, ensina. Acostumada a coordenar grupos de mulheres, Érica afirma que não se retrair diante de situações adversas e atuar de forma coletiva são pontos chaves para a diminuição da desigualdade de gênero. “A força coletiva sempre maior que a individual”, garante.

Érica também destaca a importância de observar quais portas são abertas para as mulheres e como elas devem ser usadas. Quando foi convidada para integrar a Comissão Executiva do 1º Fórum Baiano de Direito das Cidade, Érica disse que observou no evento uma participação de mulheres em posições de lideranças, diferente do habitualmente ofertado no mercado em geral. “A grade de palestrantes é formada por muitas mulheres com debates diversos. Esse é o primeiro Fórum Desenvolvimento da Cidade que traz a mulher lada a lado, mostrando que somos capazes de ocupar qualquer espaço”, ressalta.

Classificação Indicativa: Livre

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