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Superando a Perda: Como lidar com a dor do luto no Dia dos Finados

Luto não tem tempo determinado de duração, mas pode ser 'suavizado' - Divulgação | Freepik
Psicólogo Sérgio Lopes conversou com o Bnews e deu dicas para atravessar o processo  |   Bnews - Divulgação Luto não tem tempo determinado de duração, mas pode ser 'suavizado' - Divulgação | Freepik
Alex Torres

por Alex Torres

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Publicado em 02/11/2023, às 05h00 - Atualizado às 05h00


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Com o surgimento na França da Idade Média, por volta do século X, o Dia dos Finados, comemorado em 2 de novembro, é marcado por práticas e costumes de visitar túmulos de familiares e enfeitá-los com flores. A motivação por trás do gesto seria de que isso ajudaria os mortos a "alcançar a salvação com mais facilidade".

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Apesar da prática ter a finalidade de ajudar as pessoas que já faleceram, aqueles que permanecem em vida também precisam de atenção especial, principalmente para reaprender a guiar seus passos sem as pessoas que outrora foram tão importantes. Nestes casos, a dor do luto pode ser algo imensurável e durar por bastante tempo.

Para entender melhor esse processo, o Bnews conversou com o psicólogo Sérgio Lopes, que explicou o conceito do luto e ampliou ainda mais o significado desta dor, trazendo para perdas que fogem da esfera de 'vida ou morte'. O profissional ainda fez questão de pontuar que a forma como o sentimento atinge cada um pode variar de acordo com o indivíduo.

"Quando se fala do luto, precisamos pensar que cada indivíduo traz diferentes histórias, seus processos e significados. Uns vão sofrer mais do que outros e temos que ver o que está por trás. Na verdade, a gente não sabe - ou estamos aprendendo a lidar - com a perda. Todo o luto é um processo de transição. Quando falamos nisso, logo de cara pensamos num familiar ou amigo que a gente perdeu, mas toda a relação afetiva, como um término, ou até mesmo um processo seletivo que a pessoa está apostando muito, pode se configurar como luto. Uns vão sentir mais do que outros e o processo é se dar conta daquilo que estamos perdendo", afirmou Sérgio.

Tem tempo?

Quando se está passando por uma dor muito grande, como é o caso do luto, um dos primeiros questionamentos que vêm à cabeça seria de quando todo esse sentimento negativo vai passar. Apesar de sabermos que o sofrimento não costuma durar para sempre, determinar um prazo para o fim da tristeza também não é possível.

Segundo o psicólogo Sérgio Lopes, precisa haver uma atenção especial, principalmente quando a dor do luto extrapola um período considerado normal. Nestes caso, procurar a ajuda de um profissional seria o mais recomendando. Outro fator a ser observado também seria avaliar o tamanho do 'objeto de perda'.

"Varia de cada sujeito. Algumas pessoas passam o período de um ano, enquanto outros menos ou mais. Agora, quando esse período ultrapassa um tempo maior, precisamos tomar cuidado, porque pode se tornar um processo depressivo e precisaria de uma ajuda profissional para ver o significado dessa perda. Um falecimento de um pai ou uma mãe, que possui um significado simbólico e de afeto... Ao perder essa figura, a pessoa vai lidar com um sofrimento maior e arrastar por muito tempo. Mesmo assim, não tem um tempo determinado", explicou.

Psicólogo Antônio Sérgio Lopes
Arquivo Pessoal

Etapas do luto

Além de não haver um período definido, o processo da dor ainda pode reunir diversas características, as chamadas 'etapas do luto'. Questionado sobre esses momentos, o psicólogo detalhou essas fases, mas pediu um cuidado redobrado, naquela que poderia resultar em um quadro depressivo para o paciente.

Entre as etapas, estaria a de negação da perda, que seria quando a pessoa não aceita a realidade e, muitas vezes, opta por se isolar. A partir deste momento, pode ocorrer ainda a raiva e a busca por um culpado, chegando a responsabilizar a si próprio ou figuras como Deus. Outra característica descrita seria a da 'barganha' e a busca por benefícios dentro do sofrimento.

"Tem essa etapa da barganha, que seria: 'até que ponto posso barganhar esse momento que perdi alguém e, por exemplo, não trabalhar direito?' Então também acontece essa busca por algum benefício. Tem a famosa etapa da depressão, que seria quando, de fato, você se isola e entra nesse processo. Por fim, vem a aceitação, porque não tem mais como passar aquilo e compreende a realidade. Tem pessoas que ficam muito no estágio da depressão por conta do significado que possui cada perda, então ela mergulha num processo mais duradouro e, nestes casos, se faz necessário o acompanhamento no profissional, mas isso vai da resiliência de cada dor", alertou Sérgio.

Mesmo com todas essas características, o psicólogo ratificou que não há uma ordem precisa destas fases, podendo ocorrer de forma completamente inversa. "Fica na subjetividade de cada um. A única etapa fixa seria a aceitação, porque é o fim do processo. Agora, a forma de lidar vai de cada um".

Como sair?

Sobre a forma de lidar melhor com o processo do luto, Sérgio pontua que estar próximo a uma rede de apoio pode ser considerado algo fundamental. Mesmo assim, ainda existem pessoas que optam por não compartilhar suas dores e, nestes casos em específico, seria interessante tomar cuidado para não desenvolver problemas ainda maiores.

"De modo geral, se você tem um bom convívio familiar, estar próximo dos 'seus' é algo que ajuda. Agora, tem pessoas que preferem se isolar. Nestes casos, seria interessante ficar atento. Alguns não gostam de estar em lugares que o ente querido frequentava, outros irão enfrentar logo de cara. Então esse processo do luto vem de alguma forma, vai ter que atravessar e não tem como correr. A questão é o tempo, uns vão demorar mais, enquanto outros saem bem mais rápido", ponderou.

Por fim, uma das soluções mais conhecidas dentro da psicologia para tratar questões relacionadas a traumas é a fala. Conseguir conversar abertamente acerca de um problema pode trazer um pouco mais de 'leveza' para a dor.

"Falar sobre isso é um começo, mas não pode ser algo forçado. Aquele que está no luto, precisa ser deixado para falar no momento certo em que se sentir mais à vontade. Então se a pessoa está fragilizada, falar sem ter uma confiança ou intimidade... não adianta o outro perguntar. Talvez o ideal seja apenas abraçar, mas sem falar muita coisa. Não dá para forçar muita coisa, porque é um momento delicado. Tem que ver qual a rede de apoio que a pessoa tem, um amigo próximo e que conhece a intimidade. Nesses casos, a palavra tem um poder de curar", finalizou o psicólogo Sérgio Lopes.

Classificação Indicativa: Livre

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