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Hospitais X Planos = Davi X Golias

Publicado em 27/09/2010, às 10h31   Marcelo Britto


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Marcelo Britto*

Todos conhecem a história épica da luta de Davi contra o gigante filisteu Golias. Uma luta desigual, já que a Bíblia relata que Davi era muito menor do que Golias, que media “seis côvados e um palmo de altura (2 metros e 90 centímeros), enquanto o pequeno Davi pesava apenas “5 mil ciclos”, o equivalente a 57 quilos. Além dessa desigualdade no tamanho, também havia, entre Davi e Golias uma enorme desigualdade nas armas utlizadas: o gigante Golias carregava um grande escudo para proteção e uma lança, cuja ponta de ferro pesava 600 ciclos (6, kg) e provavelmente só a cota de malha usada por Golias já atingia peso do corpo Davi. Mesmo assim, Davi enfrentou Golias munido apenas de uma funda e algumas pedras.

Estas imagens são uma metáfora do relacionamento entre Hospitais e Operadoras de Planos de Saúde: uma guerra desigual na qual os hospitais representam Davi e as OPS, Golias. Enquanto o faturamento de uma grande seguradora está na casa dos bilhões de reais/ano, com filiais em todo Brasil e até no exterior, os hospitais acumulam prejuízos aos milhões. E quando analisamos o perfil dos laboratórios, clínicas e mesmo de alguns hospitais, esta desigualdade fica ainda mais evidente: esses prestadores de serviços de saúde são empresas com um faturamento de dezenas de milhares de vezes menor, com sede única, por vezes alugada, enfim uma estrutura condizente com sua capacidade.

Com estruturas enormes, as OPS seguem impondo as regras do mercado uma vez que a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar – órgão que tem como missão promover a defesa do interesse público na assistência à saúde suplementar, dando diretrizes de regulamentação às operadoras de planos de saúde e interagindo ainda nas relações com prestadores e consumidores, não cumpre satisfatoriamente o seu papel. Estabelecidos os dois representantes do processo de negociação, pergunta-se qual a capacidade de barganha que o prestador tem sobre a operadora?

Desarmados e desprotegidos, os prestadores de serviços de saúde enfrentam o desafio de buscar soluções para essa questão que vem provocando desequilíbrio nas relações comerciais e trazendo, principalmente insegurança para os usuários do sistema que, muitas vezes não conseguem atendimento na mesma medida em que pagam seus planos de saúde. Nas estatísticas de queixas dos Procons de todo o Brasil os Planos de Saúde são campeões, perdendo apenas para oeradoras de telefonia celular. Enquanto isso, os prestadores de serviços de saúde veem seus negócios colocados em risco pelas OPS, que, em sua maioria, não se pré-dispõem nem mesmo ao diálogo. Pois assim como na batalha entre Davi e Golias, os prestadores de serviços de saúde não buscam arrancar a cabeça do gigante como fez Davi. Queremos estabelecer um equilíbrio nessas relações em que possa prevalecer a equidade comercial, a justiça e, principalmente asseguar a qualidade de atendimento à saúde da população.

* Marcelo Britto é médico, presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Ahseb) e da Federação Baiana de Saúde (Febase).

Classificação Indicativa: Livre

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