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Leonelli tira Luiz Caldas do carnaval

Publicado em 18/02/2011, às 08h16   Liz Silveira e Jota Júnior



Na manhã desta sexta-feira (18), uma notícia abalou os amantes da velha guarda musical baiana. O secretário estadual do Turismo, Domingos Leonelli, tirou Luiz Caldas do carnaval de Salvador, quando ele completa 40 anos de carreira na folia baiana.

Durante conversa com Zé Eduardo, no Programa do Bocão, da rádio Sociedade, o cantor divulgou em primeira mão que teve o seu projeto rejeitado por Leonelli. "O que me entristece é que, durante toda a minha vida, me dediquei ao carnaval. Jamais saí da Bahia e, quando viajo para o exterior, faço propaganda do meu estado", lamentou.

"De todos os absurdos que já ouvi, esse é um dos maiores", indignou-se Zé Eduardo.

Luiz Caldas comentou que o secretário do Turismo foi taxativo ao dizer que o governador estaria fazendo cortes. "Não entendo, pois a secretaria e o estado lucram muito com o carnaval e quem faz a festa somos nós, artistas", revoltou-se.

Ouvintes telefonaram sem parar, mostrando indignação com a retirada do "Pai do Axé" do Carnaval. Houve, inclusive, quem fomentasse uma possível manifestação para reivindicar a presença do cantor no evento.

"Fico revoltado porque me tiraram às vésperas de março. Agora não terei nem a oportunidade de ser contratado por outros estados, não há mais tempo", disse o cantor

Leonelli se defendeu, alegando ser apenas um gestor público que lida com leis orçamentárias. "Luiz Caldas pediu R$250 mil, acho justo até, não estou julgando seu valor artístico nem cultural, mas o governo lida com recursos públicos, é impossível atender a cada cantor e suas expectativas"

A declaração do secretário deu início a uma discussão calorosa sobre o assunto. "Eu tinha patrocinadores, tinha tudo, agora não há tempo para mais nada", rebateu Luiz Caldas.

"O governo não é empresário de artista, temos que distribuir os recursos do estado de maneira racional", respondeu Leonelli.

Ao final do Programa do Bocão, Zé Eduardo deu um ultimato ao indagar se Luiz Caldas estaria ou não presente no carnaval. "Por mim, é claro que sim. Mas só posso oferecer R$90 mil", disse o secretário.

O cantor não pareceu muito satisfeito com a proposta e disse que, por esse valor, só tocaria um dia em cima do trio elétrico. "Há 40 anos me dedico à música, os foliões querem mais de mim", entristeceu-se.

Repercussão – A notícia do corte na verba que deveria ser destinada ao cantor Luiz Caldas traz novamente a reflexão sobre a inexistência de apoio do poder púbico para os artistas chamados “independentes do Carnaval”. A cada ano, pelo menos uma polêmica envolve a participação da ala de cantores e compositores que não contam com grandes esquemas de patrocínio.

Ano passado,  Pepeu Gomes soube, minutos antes da abertura da festa, que o trio elétrico contratado para ele havia sido substituído por outro de baixa qualidade  

“Acho que deveria haver um projeto especial para dar valor diferenciado aos artistas independentes, que fizeram a história do Carnaval, que fizeram tudo acontecer”, avalia a cantora Sarajane, uma das pioneiras da axé music.

“Acho que R$90 mil é pouco para um artista como Luiz Caldas, imagine meu caso, que só tenho R$29 mil, dinheiro que é para pagar banda, equipe, imposto, tudo isso”, acrescenta.

Para Sarajane, a necessidade de que governo e prefeitura financiem os independentes não se dá apenas pelo valor artístico e cultural, “mas sobretudo por que são artistas que não estão na grande mídia e que esbarram na dificuldade de captar recursos, já que as marcas e empresas dão preferência a quem tem maior visibilidade”, analisa.

A cantora critica ainda a baixa capacidade de conseguir verbas da iniciativa privada para a folia baiana. “O carnaval de Salvador não consegue captar 30% do que o do Rio de Janeiro consegue”, salienta.

Corte - Outro artista da ala dos independentes do carnaval – que inclui ainda nomes como Moraes Moreira e Armandinho -, o cantor e compositor Gerônimo evita polemizar sobre o corte no valor que seria destinado a Luiz Caldas,  mas admite que a tesoura do governo do estado também passou sobre ele. “Vou saber hoje (18) o quanto será cortado, mas todos nós já sabíamos disso”, diz.

Contudo, Gerônimo critica o que considera falta de visão das grandes empresas, que só dão preferência a quem está na crista do sucesso. “Tem patrocinador, como a Ford e a Skol, que tem a sua fatia de consumo já consolidada na Bahia, em quase todas as classes sociais, mas não estende isso, não retorna tudo que ganha como função social e cultural”, diz.

Para matar a saudade, assista Luiz Caldas cantando ' Tieta '

Classificação Indicativa: Livre

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