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Garrafa de vidro perde espaço e vinhos passam a ser comercializados em caixa, lata e litrão

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A garrafa e a rolha só são imprescindíveis no caso dos vinhos de guarda  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 09/08/2022, às 18h57   Redação BNews


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O público que gosta de degustar um bom vinho está acostumado com o líquido armazenado em garrafas, mas isso pode mudar muito em breve. Novos formatos estão sendo apresentados aos consumidores por uma série de razões.

Mas isso não significa que o vinho será de qualidade inferior. A garrafa e a rolha só são imprescindíveis no caso dos vinhos de guarda, aqueles que têm de ser bebidos depois de muitos anos. Ou seja, aqueles vinhos que a grande maioria das pessoas não tem dinheiro para comprar.

A falta de garrafas de vidro nos últimos anos trouxe uma série de problemas para os produtores de vinho no mundo todo. Muitos vendem e não conseguem entregar porque não têm como engarrafar. Quando chega a nova safra, os tanques ainda estão cheios com o vinho dos anos anteriores.

A situação ficou ainda pior com a pandemia devido a várias quebras em toda a cadeia produtiva, da matéria-prima à distribuição. Com a guerra na Ucrânia, a produção também foi prejudicada, já que a fabricação de garrafas de vidro demanda fornos a altíssimas temperaturas, e na Europa, a maior parte destes fornos é alimentada com o gás russo, cujo abastecimento anda comprometido.

A escassez de garrafas fez crescer o número de produtores que optam por formas alternativas de envase: lata, bag in box (BiB), litrão (pet), growlers retornáveis. No entanto, apenas acelerou um processo que já vinha acontecendo e que vai continuar depois que a pandemia e a guerra acabarem.

Bag in box

Bem conhecido no mercado como BiB, o formato tem feito grande sucesso na Europa, especialmente na Escandinávia. Segundo reportagem do Uol, na Suécia, representa 56% do volume e 36% dos valores do mercado de vinhos.

"Deixou de ser voltado para vinhos baratos", diz Ricardo Braga, um publicitário brasileiro radicado em Portugal que lançou recentemente os vinhos Lekubi, uma coleção de vinhos especiais em embalagens luxuosas de bag in box.

"Na França, há bag in box de vinhos grand cru. Em Londres, o restaurante St. John, um duas estrelas Michelin, vende vinhos bag in box. Percebemos que é um grande mercado, que no Brasil está sendo mal explorado".

Os vinhos da Lekubi são comercializados em dois formatos, um retangular (R$ 199) e um quadrado (R$ 499) ambos de 3 litros, o equivalente a 4 garrafas de 750 ml. A reportagem explica que o primeiro é reservado para brancos, rosés e tintos frescos, de entrada. Tanto que seu formato foi pensado para caber na porta da geladeira.

Já o segundo é reservado para tintos mais complexos. Atualmente toda a coleção é de vinhos portugueses, mas Braga diz que o portfólio deve ser ampliado para outros países. Depois de aberto, o vinho Lekubi dura até dois meses. A embalagem é bem mais leve do que uma garrafa, fácil de empilhar e completamente reciclável. No Brasil, a empresa traz um total de nove rótulos de vinhos portugueses (sete tintos, um branco e um rosé), produzidos por importantes vinícolas situadas no Douro, Alentejo, Setúbal e Palmela.

A Lekubi foi fundada por Braga e Ribeiro, dois empresários brasileiros radicados em Portugal, Deosdete Ribeiro Júnior e Ricardo Braga, para investir na criação de uma linha de bag in box única, com vinhos premium. O objetivo é tornar-se líder do segmento no Brasil, onde as embalagens bag in box ainda representam apenas 1% do mercado.

E a aposta é a de que o formato terá grande impacto no mercado brasileiro, inclusive sobre o volume de consumo local: “Estamos muito animados com o potencial de crescimento da LEKUBI no Brasil. Não apenas no consumo em casa, mas também no segmento de bares, restaurantes, hotéis e dos eventos. Acreditamos que podemos ser mais um instrumento para colaborar na democratização do vinho no Brasil”, complementa Ribeiro.

O crítico de vinhos Eric Asimov escreveu esta semana em sua coluna no "The New York Times", que no futuro, garrafas de vidro serão um produto de luxo. Ele explicou que por mais charmosa que seja, a garrafa de vidro é cara demais, pouco ecológica e difícil de transportar.

Os estudos apontam que os vinhos em lata costumam ser vinhos para serem consumidos jovens . No entanto, como 95% dos vinhos engarrafados hoje também devem ser consumidos antes de dois anos, muitos poderiam trocar para lata.

"O vinho em lata não precisa mirar em um novo consumidor", diz Jaqueline de Vasconcelos Barsi, criadora dos vinhos Artse. "Nós miramos numa nova situação de consumo, a situação de consumo da cerveja: churrasco, praia, piquenique, balada".

O consumidor dos novos formatos, de fato, pode entender de vinho. O líquido em grande parte das vezes tem realmente qualidade (depende do produtor assim como no formato tradicional). Contudo, tem de ser bastante desprovido de preconceitos.

O litrão, por exemplo, que é uma garrafa pet, certamente busca um público bem pouco convencional. "A proposta é chamar atenção", diz o enólogo Carlos Sanabria, proprietário da Vinhos Sanabria, que vende litrões de tinto (cabernet sauvignon), rosé (merlot) e branco (lorena), por R$ 69,00 tanto no seu site como na loja física, em Brasília. Todos os vinhos são feitos por ele mesmo no Rio Grande do Sul, com mínima intervenção.

"É um vinho rápido e fácil de beber. Sem pretensões de envelhecer. É para beber logo". Acaba pegando um público na maioria mais jovem.

O litrão é considerado algo que o vinho trouxe do mundo da cerveja artesanal. É uma derivação do growler, que é um recipiente para ser reaproveitado. "Para vinhos de entrada, vinhos frescos, do dia-a-dia, faz cada vez menos sentido a garrafa de vidro", diz o empresário Ariel Kogan, sócio da sommelière Gabriela Monteleone no projeto Tão Longe e Tão Perto, que oferece vinhos de pequenos produtores nacionais (de mínima intervenção) em torneiras por todo o país.

A armazenagem e a distribuição desses vinhos em torneiras são muito semelhantes às do chope: em barris pressurizados sem contato com o oxigênio.

"A garrafa de vidro é uma das embalagens menos sustentáveis, se não for a menos sustentável de todas. O modelo mais interessante do ponto de vista da sustentabilidade é o refil. O refil pode ser com growler de vidro, pet ou cerâmica. A gente incentiva muito as pessoas a usarem o de cerâmica ou de vidro, mas precisa ter o growler de pet porque ele é o mais fácil para ser vendido por delivery."

O meio ambiente, no entanto, não é a única preocupação. "Sem dúvida tem a ver com nossa preocupação com a sustentabilidade, com o futuro da humanidade", diz. "Mas também com o acesso ao vinho. Com esse formato, com esse modelo, a gente consegue dar acesso a um vinho de ótima qualidade a um preço muito mais justo". O litrão pet está por R$ 72,00.

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