Meio Ambiente

Moradores do Itaigara se revoltam com obra de hipermercado na região e denunciam conivência de órgão público

Leitor BNews
Eles levaram o caso até o Inema, o Ministério Público e à Sedur, mas, até o momento, as obras seguem a todo o vapor  |   Bnews - Divulgação Leitor BNews

Publicado em 12/02/2019, às 06h53   Márcia Guimarães


FacebookTwitterWhatsApp

A construção de um hipermercado tem causado grandes problemas aos moradores do Itaigara, em Salvador. Eles procuraram o BNews para reclamar do intenso barulho de obras a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana, a destruição de áreas de Mata Atlântica e o soterramento de um rio que passa na região, realizados pela Construtora Serrana. 

Os moradores levaram o caso até o Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), o Ministério Público e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), mas, até o momento, as obras seguem a todo o vapor. 

“Estamos enfrentando uma série de problemas: barulhos em horários indevidos, inclusive aos domingos, e a destruição de uma área do bioma Mata Atlântica, com a supressão de vegetação sem a autorização prévia e ainda cortaram muito mais do que estava estabelecido. Além disso, mesmo a Sedur tendo o conhecimento que o rio deságua na bacia do Lucaia e que boa parte do trajeto está in natura e com sua mata ciliar preservada, liberou o alvará dizendo que o rio era tamponado, o que não é verdade. Vemos irregularidades na avaliação da Sedur e achamos isso estranho”, elencou a advogada e moradora do Itaigara, Carla Cunha. 

Segundo ela, a Prefeitura de Salvador desafetou 29 terrenos na capital baiana em 2017 e começou a leiloar alguns deles. Neste grupo estavam uma área de playground no Itaigara, destinada ao lazer dos moradores desde a época da constituição do loteamento, e uma via pública (que é o braço da ladeira Yitzhak Rabin). “Os moradores do Itaigara se uniram para lutar contra a desafetação e contra o leilão fraudulento. É uma área de Área de Preservação Permanente (APP), com presença de rio. Temos provas e estudos de um especialista sobre o que está acontecendo na região, mas a Sedur fechou o olho. Além disso, há a sobreposição da área vendida, a Construtora Serrana ampliou a área de obra sem autorização para construir um Hiperideal”, explicou a advogada. 

Carla lembra que, como se trata de um loteamento muito bem planejado, foram reservadas áreas para lazer, escola, construções verticais (prédios) e de casas. “Temos, num raio de 1 km, oito supermercados. Por que a gente ia querer mais um fazendo barulho, trazendo mau cheiro, com carga e descarga a qualquer hora, acabando com o nosso sossego, piorando o trânsito e destruindo o nosso meio ambiente? Aqui a gente ouvia pássaros, mas agora eles estão fugindo assustados com os barulhos das máquinas, invadindo os prédios atrás de água. Essa obra causará também alagamentos na rua e nas nossas garagens que ficam abaixo do nível da rua. Além disso, já encontramos uma cobra entrando no estacionamento de um prédio daqui. A construtora fala que teve audiência pública, mas não fomos ouvidos!”, destacou.

A moradora conta que, há cerca quatro anos, o Itaigara foi apontado como o bairro de maior índice de desenvolvimento humano, comparado ao da Suécia. Ela diz que a população do bairro aguarda providências, pois não quer mais prejuízos ao direito a “uma cidade agradável, sem poluição, sem ruído e com ar adequado”. 

“É uma situação esdrúxula quando a gente observa que, mais uma vez, o poder do dinheiro e o poder público se unem em malefício da população. Não se pensa em uma cidade sustentável, em uma cidade onde o bem-estar da população é levado em consideração. Só se pensa no lucro das empresas, que vão continuar atropelando a vontade do povo. A nossa vontade é manter a paz do bairro”, reclamou Carla. 

Com as fotos, vídeos e estudo em mãos, o Ministério Público da Bahia fez uma série de perguntas para o seu corpo técnico responder após analisar o local. O órgão também questionou o Inema e a Sedur sobre o soterramento do rio. Veja alguns dos vídeos:

Defesa

A Sedur informou que a obra realizada na Rua Anísio Teixeira, no Itaigara, se trata de uma intervenção regular. “A obra possui todas as licenças do órgão necessárias para a implantação do supermercado: Alvará de Licença de Construção, Autorização de Supressão de Vegetal e Licença Ambiental, atendendo todas as normas legais vigentes. A Sedur esclarece que as informações sobre aterramento do rio e o avanço da obra para área de Mata Atlântica não procedem. O empreendimento está realizando a limpeza do canal, que foi uma contrapartida imposta pelo órgão e com parecer favorável da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), além da supressão de vegetação também autorizada pela prefeitura”, alegou o órgão.

A reportagem procurou o responsável pelo Hiperideal e fundador da Construtora Serrana, João Gualberto, mas não obteve retorno.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp