Meio Ambiente

Relatório usado pela PF para operação contra navio suspeito de vazar óleo foi rejeitado pelo Ibama

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Até o momento, 966 locais em 11 estados do Nordeste e Sudeste foram atingidos  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 18/12/2019, às 19h45   Folhapress


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Em depoimento na Câmara para a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do derramamento de óleo, Pedro Bignelli, coordenador-geral do Cenima (Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais), afirmou que o Ibama rejeitou o relatório que levou a Polícia Federal a deflagrar a operação Mácula contra o navio Bouboulina, de bandeira grega, e empresas ligadas a companhia proprietária da embarcação no Brasil. 

Até o momento, 966 locais em 11 estados do Nordeste e Sudeste foram atingidos. Ainda não se sabe qual a fonte do vazamento, mas a análise do óleo que atingiu o litoral, feita pela Petrobras, revelou que o produto é de origem venezuelana. 

Segundo Bignelli, ainda não há como apontar um responsável pelo vazamento, mas o coordenador diz que o resultado apresentado pelo relatório, produzido pela empresa Hex Tecnologia, é um falso positivo, ou seja, indica um resultado que não condiz com a realidade. Bignelli afirma que rejeitou o relatório porque o produto não apresentava consistência. 

"O produto tinha imagens sem coordenadas, coloração duvidosa. Como técnico, e com 25 anos de mestrado em sensoriamento remoto pelo Inpe, nunca tinha visto aquela cor. Não nos foi apresentada a imagem que teria sido utilizada, não nos foi apresentada a composição colorida. Não me senti confortável em assumir aquilo como um relatório verdadeiro", diz. 

Ainda de acordo com seu depoimento, a empresa não quis mostrar o relatório, em um primeiro momento, sem que o Cenima assinasse uma uma ordem de serviço antes. Após pressão de Bignelli, a Hex voltou atrás e apresentou parcialmente os resultados, estes que foram considerados pouco conclusivos pelo centro, ligado ao Ibama. 

"A primeira coisa que nos chamou a atenção foi a forma como foi apresentada a proposta, em completo desacordo com os termos de referência do contrato. Fizeram um relatório em seis dias úteis com o trunfo de terem 'descoberto' a fonte do derramamento. Para ver o produto teríamos que assinar uma ordem de serviço. Isso é completamente inconsistente, tecnicamente falando, nós exigimos ver o produto", afirma.

Na mesma semana, segundo ele, a Polícia Federal deflagrou a operação contra duas empresas no Rio de Janeiro ligadas à Delta Tankers, companhia proprietária do navio, com base nas informações do relatório da Hex Tecnologia. Com a operação, Bignelli teria sido, segundo disse, cobrado por seu superior por ter "comido bola". 

"Eu disse a ele que não comi bola [ao rejeitar o relatório] e que não coloco meu currículo neste trabalho'" teria sido a resposta dada pelo coordenador. 

Com a repercussão da operação, a equipe do Cenima passou a investigar os supostos resultados do relatório de forma inversa para identificar o que, de fato, eram as manchas que a Hex afirmava serem óleo. 

"Chegamos à conclusão de que era feição de clorofila, o que é completamente incompatível com óleo. Ficamos plenamente tranquilos de dizer que aquilo [o relatório] era mais um falso positivo", diz. 

Procurada para comentar a revelação do coordenador do Cenima, a Marinha se reservou a dizer que "desde a abertura dos inquéritos investigativos, a Marinha do Brasil analisa todas as possibilidades com relação ao crime ambiental de derramamento de óleo que atingiu o litoral brasileiro. As investigações continuam em andamento".

A empresa Hex não respondeu aos questionamentos da Folha até a publicação deste texto. 

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