Meio Ambiente

Assassinatos de ativistas ambientais aumentam 20% em um ano no Brasil; relembre os crimes

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País ocupa a terceira posição no ranking global, com 24 mortes ligadas às causas do meio ambiente  |   Bnews - Divulgação Thomas Samson/AFP via Getty Images

Publicado em 29/07/2020, às 12h25   Yasmin Garrido



Maio. Apenas neste mês de 2019 não há registro formal de assassinato de ativistas ambientais e indígenas no Brasil, segundo levantamento feito pelo BNews. O país ocupa a terceira posição no ranking dos que mais mataram neste segmento no ano passado, de acordo com o mais recente relatório anual da ONG Global Witness, divulgado nesta quarta-feira (29). Foram 212 assassinatos em todo o mundo, sendo 24 no Brasil, o pior índice já registrado desde o início da publicação, em 2012.

O país, que subiu uma posição desde 2018, quando ocupava o quarto lugar com 20 ocorrências, tendo aumentado esse número em 20% em 12 meses, ficou atrás apenas das Filipinas, com 43 mortes, e da Colômbia, que registrou 64 assassinatos. A Região Amazônica foi palco de 33 mortes de ativistas, e  90% dos óbitos ocorridos no Brasil foram nesta área.

O relatório cita a política do governo Bolsonaro como uma das vertentes que levaram ao aumento do índice de homicídios de defensores do meio ambiente. “Em nenhum lugar essas questões são mais aparentes do que no Brasil. As políticas agressivas do presidente Bolsonaro para expansão do agronegócio e da mineração na Amazônia têm tido grave consequências para as populações indígenas”, diz trecho da publicação escrita originariamente em inglês.

Ainda de acordo com a Global Witness, os principais fatores para a violência contra ativistas no Brasil foram o conflito por terras e a grilagem, seguidos de conflitos em torno de água, construção de barragens e mineração. 

“O presidente está fazendo o possível para travar uma guerra contra os direitos humanos e o meio ambiente – exatamente o que os defensores da terra e do meio ambiente do Brasil estão lutando para defender”, conclui a Global Witness.

A cara da morte
A primeira morte registrada em 2019 foi a de Elizeu Queres de Jesus, assassinado a tiros, em janeiro, por seguranças da fazenda Bauru, de propriedade do ex-deputado estadual José Riva, e outras nove pessoas foram baleadas.

Já em 11 de janeiro, a polícia do Distrito de Alto Guarajus encontrou o corpo de Gustavo Jose Simoura com marca de um tiro no peito e cortes na cabeça. A investigação leva em consideração as hipóteses de acerto de contas ou desentendimentos relacionados a conflito agrário.

Em 29 de janeiro, a ativista ambiental e de direitos humanos Rosane Santiago Silveira foi brutalmente torturada e assassinada na cidade de Nova Viçosa, na Bahia. De acordo o filho dela, Tuian Santiago Cerqueira, a mãe sofria ameaças de morte e já havia registrado três boletins de ocorrência.

No mês seguinte, o cacique Francisco de Souza Pereira, 53 anos, foi assassinado a tiros em na casa onde morava, na zona norte de Manaus, no Amazonas. O crime foi presenciado pela mulher e a filha dele, que era liderança em 42 aldeias, além de responsável pela distribuição de terras e ajuda a membros da comunidade com alimentos e vestimentas.

Ainda em fevereiro, o indígena Ubirajara Zeferino da Cruz, 21 anos, foi encontrado morto carbonizado na cidade de Águas Belas, no agreste pernambucano. O corpo dele foi encontrado com sinais de tortura.

Em março, as vítimas foram Dilma Ferreira Silva, 45 anos, o marido dela, Claudionor Costa da Silva, 43 anos, e o amigo do casal, Milton Lopes, 38 anos, todos três assassinados na residência da militante do MAB, situada no Assentamento Salvador Allende, no município de Baião, no Pará.

Ficou confirmado que as mortes aconteceram em contexto de conflitos agrários, sendo este o primeiro massacre no campo brasileiro em 2019, de acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em 2 de abril, o corpo de Nemis Machado de Oliveira, 50 anos, foi encontrado no Amazonas. Ele, que era líder das famílias de posseiros do Seringal São Domingos, que fica na tríplice divisa entre Acre, Amazonas e Rondônia, foi vítima de um ataque em um seringal, na região conhecida com Ponta do Abunã, no município de Lábrea, extremo sul do Amazonas.

Ainda em abril, no dia 29, o corpo do ex-agente da Comissão Pastoral da Terra Edmar Valdinei Rodrigues Branco, 59 anos, foi encontrado na Gleba Jangada Roncador, zona rural de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.

No início de junho, um pastor foi assassinado na cidade de Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco. A hipótese da polícia é a de que Aluciano Ferreira dos Santos, 41 anos, que era militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tenha sido vítima de execução.

Em agosto, o tuxaua da etnia Apurinã, Carlos Alberto Oliveira de Souza, 44 anos, foi assassinado com mais de 10 tiros, em Manaus. A mulher dele, Jussilene Ferreira da Costa, 29 anos, disse à polícia que a vítima estava recebendo ameaças de morte.

Testemunhas acreditam que o crime tenha sido motivado por vingança, já que Carlos Alberto era um dos líderes da invasão Cemitério dos Índios e não aceitava a presença de membros de facções criminosas no local.

No mesmo mês, o chefe indígena do povoado waiãpi, no interior do Amapá, Emyra Waiãpi, foi encontrado morto com os olhos perfurados e o órgão genital decepado. Os waiãpi dizem que ele foi vítima de um assassinato cometido por invasores não-indígenas.

O colaborador da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, foi a primeira vítima do mês de setembro no Brasil. Ele trabalhava em uma base do órgão indigenista no Vale do Javari, atacada quatro vezes entre 2018 e 2019.

O objetivo principal da atuação de Maxciel era impedir a entrada de invasores a uma área identificada como a de maior presença de índios isolados do mundo, na base Ituí-Itacoaí, que funciona sobre uma balsa no norte do Amazonas.

Já em outubro, o trabalhador rural Alexandre Coelho Furtado Neto, um dos moradores da Ocupação 1200, localizada em Ourilândia do Norte, Sul do Pará, foi assassinado com um tiro de espingarda no peito. Ele era uma das lideranças da ocupação, engajado na luta pela criação do assentamento, desde o início, em 2006.

A golpes de pau e pedras, um jovem Guarani, identificado como Demilson Ovelar Mendes, foi assassinado no oeste do Paraná na primeira quinzena de novembro. O corpo dele foi encontrado numa plantação de soja, a cinco quilômetros do local onde ele vivia com a mãe e três irmãos.

Dezembro foi o mês que reuniu o maior número de mortes de ativistas ambientais e indígenas em 2019, no Brasil. Foram cerca de cinco assassinatos, o que representa 21% do total registrado no ano. 

Logo na primeira semana do mês, Márcio Rodrigues dos Reis, um dos líderes dos sem-terra de Anapu, no Pará, onde a missionária americana Dorothy Stang foi assassinada em 2005, foi assassinado com uma facada no pescoço, durante emboscada em uma estrada isolada da região. Ele era casado e tinha 4 filhas.

Em seguida, ainda na primeira semana, dois índios da etnia Guajajara morreram e outros dois ficaram feridos durante um atentado registrado entre as aldeias Boa Vista e El Betel, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão. As vítimas fatais foram identificadas como os caciques Firmino Silvino Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara.

Também em dezembro, o ambientalista Francisco Sales Costa de Sousa, 60 anos, foi assassinado na casa onde morava, no povoado Centro do Totô, no Maranhão. Ele foi atingido com dois tiros na parte de trás da cabeça e, de acordo com as investigações, o crime tem características de pistolagem e por encomenda.

À época do assassinato, ele estava na linha de frente da defesa de mais de 300 hectares de mata fechada na Floresta Amazônica, conhecida como Mata São Pedro. Francisco Sales foi candidato a deputado federal nas eleições de 2018 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Colômbia e Filipinas
O relatório da Global Witness mostrou que o contexto filipino tem se tornado mais fatal para os ativistas, com a criminalização de protestos e dos defensores ambientais, rotulados como rebeldes e terroristas.

As Filipinas foram também o país com mais assassinatos ligados a conflitos com o setor da mineração (16), que também figura como o setor mais ligado à morte de defensores ambientais no mundo, com 50 assassinatos em 2019.

Já a Colômbia fica no topo do ranking com quase um terço dos assassinatos globais, em um contexto de violência crescente nos últimos anos, marcados pelo pós-conflito com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Clique aqui para ler na íntegra o relatório da Global Witness.

Classificação Indicativa: Livre

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