Polícia

Vítima de violência doméstica diz que foi agredida psicologicamente por policiais

Marcello Casal Jr./Arquivo Agência Brasil
"Os policiais me ameaçaram, dizendo que me jogariam no camburão com a minha filha", contou a estudante  |   Bnews - Divulgação Marcello Casal Jr./Arquivo Agência Brasil

Publicado em 30/04/2019, às 20h20   Márcia Guimarães


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A estudante M. H., 28 anos, foi vítima de violência doméstica por parte do ex-companheiro, mas além de sofrer dentro de casa, foi agredida psicologicamente por policiais que a atenderam quando ela quase foi assassinada pelo ex-marido. Ela veio para a Bahia, em 2015, com a filha e o então esposo. Morando no bairro de São Cristóvão e dependendo financeiramente dele, as agressões começaram.

“Eu já tinha sofrido quatro agressões, mas a quinta foi a mais violenta. Evoluíram de verbais para a física. Tudo começou a se agravar porque eu não estava trabalhando, dependia dele financeiramente e a relação tinha chegado ao fim. Só estávamos na mesma casa porque eu não tinha condições de ir embora, não tinha a quem recorrer. Ele era o pai da minha filha, que na época tinha três anos e presenciou tudo. Ele não nos respeitou”, relatou M. Na quinta e última agressão, em 2017, ele a empurrou, a enforcou, a esmurrou e pegou uma faca para tentar assassiná-la.

Ela conta que chamou a polícia para socorrê-la, mas os oficiais só apareceram duas horas depois e porque diversas mulheres que faziam parte do movimento feminista do qual M faz parte ligaram insistentemente para a central de polícia. “Eu estava com a cara arrebentada, mas a polícia não quis levá-lo. Ele utilizou a minha orientação sexual – sou bissexual -, dizendo que eu estava traindo ele, que eu estava com outra mulher, que eu não prestava... E de vítima, a polícia começou a me tratar como errada na história, me coagindo o tempo todo a não denunciar, insinuando também que eu tinha batido a cara na parede. Os policiais me ameaçaram, dizendo que me jogariam no camburão com a minha filha. Eu voltei atrás e disse que não precisava mais e eles foram embora”, denunciou a vítima.

Desamparada, ela conseguiu que amigas pagassem o seu transporte e conseguiu sair de casa com a filha. No dia seguinte, a Defensoria Pública as encaminhou para um abrigo do Estado. “Fiquei quase um mês abrigada com a minha filha. Apesar de serem ineficientes ainda, fui ajudada por políticas públicas nesse período. Foi doloroso demais ver a minha filha passar por delegacia, IML... ela ficou comigo o tempo todo. Algumas sequelas ficaram nela”, descreveu. 

Assim que saíram do abrigo, elas foram acolhidas por amigas. O agressor está respondendo pelo caso na Justiça, mas a demora tem desestimulado M. O homem voltou para o Mato Grosso.

“Precisamos de políticas públicas que eduquem esses homens. Quem foi penalizada fui eu. Me arrependo muito de não ter terminado antes, pois poderia ter me poupado e poupado a minha filha de passar por situações de mais violência, de risco de vida. O problema foi a condição que eu estava na época. A mulher tem direito à sua própria vida, tem direito de existir e de ter dignidade”, ressaltou.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar, que respondeu que, para que sejam investigadas, as acusações precisam ser formalizadas junto à Corregedoria ou à Ouvidoria (através do site www.pm.ba.gov.br ou do telefone 08002840011) da Polícia Militar. “A identidade do denunciante será mantida em sigilo. Mesmo porque o papel da Polícia Militar está relacionado à manutenção e preservação da ordem pública e à salvaguarda de vidas”, acrescentou o órgão.

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