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Estudo de processo de reciclagem em células rende Nobel a japonês

Publicado em 03/10/2016, às 08h10   Folhapress


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O Nobel de fisiologia ou medicina deste ano foi para uma área bastante fundamental da ciência biológica. O japonês Yoshinori Ohsumi, de 71 anos, foi o escolhido de 2016 por causa de sua pesquisa sobre os mecanismos da autofagia.
A autofagia é uma função celular ligada ao reaproveitamento de componentes celulares e também está ligada a doenças. A falha desse mecanismo faz com que o organismo não consiga se livrar de "lixo celular", causando seu acúmulo e doenças como alzheimer e diabetes.
Etimologicamente, autofagia significa "comer a si próprio" e o conceito surgiu na década de 1960. O processo está intimamente relacionado a uma estrutura denominada lisossomo –já velha conhecida dos livros básicos de biologia.
O belga Christian de Duve (1917-2013) ganhou o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1974 pela descoberta dessa organela celular. Restava saber, no entanto, como era a estratégia da célula para fazer o "descarregamento" de lixo celular até o lisossomo.
Os cientistas já haviam observado que outros compartimentos celulares (que passaram a ser denominado autofagossomos) tinham aparentemente uma rota certa até encontrarem o lisossomo. O problema era entender como isso funcionava.
Aí é que foi a grande sacada do japonês, que traçou uma estratégia que permitiu o estudo do mecanismo de autofagia em levedura –organismos unicelulares do reino dos fungos fáceis de se manter em laboratório.
Ele conseguiu produzir leveduras mutantes que não conseguiam completar o processo de reaproveitamento do material celular, o que ajudou no estudo da autofagia. Esse trabalho foi publicado em 1993.
O processo de autofagia pode ser usado pela célula para prover energia rapidamente para algum processo e também para fornecer "peças" para a construção de outras proteínas e componentes que sejam mais necessários do que a parte descartada ou defeituosa. O mecanismo, finamente controlado por 15 genes, também é importante na falta de nutrientes.
A autofagia também está presente, por exemplo, quando é necessário eliminar vírus e bactérias durante uma infecção; também é um controle de qualidade importante para remover organelas e proteínas defeituosas por causa do envelhecimento.
Apesar de a escolha desse ano residir em um departamento bastante básico, a biologia celular, não faltam exemplos de possíveis impactos clínicos da descoberta.
A desregulação de algum dos 15 genes envolvidos pode fazer com que haja consequências negativas para o organismo. Por exemplo, o mal de Parkinson e o diabetes tipo 2, além de outras doenças ligadas ao envelhecimento estão associadas à falhas na autofagia.
Outra implicação do mau funcionamento do processo é o aparecimento de câncer. Já existem pesquisas de drogas e outras estratégia que tem como alvo elementos do processo autofágico para combater a doença.
Ohsumi, que é pesquisador no Instituto de Tecnologia de Tóquio, teve um papel importante na área ao dar um grande salto na década de 90, após 30 anos de estagnação. Além dos genes, o cientista conseguiu caracterizar cada estágio, desde a formação e a fusão de vesículas até o desfecho do processo, com a renovação dos componentes.
A escolha do vencedor do mais importante prêmio da área é realizada por um grupo de 50 pesquisadores ligados ao Instituto Karolinska, escolhido por Alfred Nobel em seu testamento para eleger aquele(s) que tenha(m) feito notáveis contribuições ao futuro da humanidade para receber a láurea.
A reunião que define os vencedores da láurea de fisiologia ou medicina acontece na primeira segunda-feira de outubro, e os vencedores são anunciados logo em seguida. A escolha é feita com base em uma pré-seleção de dezenas de indicados (neste ano foram 273) por instituições convidadas ou outro laureados, por exemplo. Após a chegada das indicações, há um processo de filtragem e avaliação ao longo do ano até o anúncio em outubro do ano seguinte.
A cerimônia de premiação propriamente dita acontece só em dezembro.
Entre as descobertas premiadas no passado estão a descoberta da estrutura do DNA por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (1962), a da penicilina por Fleming e outros (1945), a do ciclo do ácido cítrico por Hans Krebs (1953), e a da estrutura do sistema nervoso por Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal (1906).
Outras descobertas notáveis premiadas pelo Nobel de Medicina ou Fisiologia são a da insulina (1932), da relação entre HPV e câncer (2008), a da fertilização in vitro (2010), a de que existem grupos sanguíneos (1930) e a de como agem os hormônios (1971).
Os vencedores dividirão o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (pouco mais de R$ 3 milhões). O dinheiro vem de um fundo (de mais de 4 bilhões de coroas suecas, ou R$ 1,52 bilhão, em valores atuais) deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Os prêmios são distribuídos desde 1901.
Em 2015 os vencedores do prêmio nobel foram cientistas da Irlanda, Japão e China pela descoberta de substâncias que ajudam a controlar verminoses e malária.
Na terça (4) e na quarta (5) serão anunciados os prêmios nas áreas de física e de química, respectivamente. Os dois são distribuídos pela Academia Real Sueca de Ciências.
Em 2015 ganharam o Nobel de física um japonês e um canadense pela descoberta de que neutrinos (pequenas partículas que compõem o Modelo Padrão da física) têm massa.
No mesmo ano, o prêmio de química ficou com um sueco, um americano e um turco pela descoberta de mecanismos enzimáticos de reparo de DNA no organismo –o que evita, por exemplo, o surgimento de cânceres por causa de mutações provocadas pela radiação solar.

Classificação Indicativa: Livre

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