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Putin é reeleito com votação recorde, e fica no poder até 2024

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Eleição presidencial russa tem comparecimento de 67%, dentro da meta traçada pelo Kremlin  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 19/03/2018, às 07h22   Folhapress


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A Rússia reelegeu neste domingo (18) o presidente Vladimir Putin com 76,6% dos votos, um recorde desde o fim da União Soviética em 1991.

Ele ficará até 2024 à frente da segunda maior potência nuclear do planeta, quando completará 25 anos de poder, 4 anos e 4 meses deles como primeiro-ministro.

A votação foi grandiloquente, com 55 milhões de eleitores apoiando Putin. O comparecimento às urnas, maior preocupação do governo em busca de legitimidade para o pleito, ficou em 67%, acima dos 65% da eleição de 2012 e dentro da meta traçado pelo Kremlin. Mas, faltando duas horas para o fechamento das urnas, o comparecimento estava em 59,5%.

O pleito apenas referendou uma campanha inexistente, na qual Putin mal apareceu. O processo político russo engessou-se nos últimos anos, o que foi evidenciado no nanismo da oposição.

A eleição foi marcada por muitas acusações de fraude, mas nada que parecesse decisivo para o resultado.
Putin celebrou a vitória subindo ao palco do evento que celebrava o quarto aniversário da anexação da Crimeia. “Essa vitória é um sinal de confiança e de esperança”, afirmou antes de puxar o coro “Rússia, Rússia, Rússia!” da plateia sob um frio de -8ºC.

A reabsorção do território, que fora russo até 1954, ajudou a dar a Putin popularidade acima de 80% com sua imagem de defensor de interesses nacionais. Na Crimeia, Putin teve 90% dos votos.

O evento é tão central para o grupo no poder que o Parlamento atrasou a eleição em uma semana para que coincidisse com a celebração.

Putin também assoprou. Em entrevista, disse que está aberto para falar com Londres sobre a crise envolvendo o envenenamento do ex-agente duplo Serguei Skripal e sua filha na cidade de Salisbury (a 130 km de Londres).

E negou que vá mudar a Constituição para ficar mais tempo no poder. “Isso que que você está falando é ridículo. Você espera que eu fique aqui até os cem anos?”, afirmou Putin, 65.

Em segundo lugar, veio o candidato do Partido Comunista, Pavel Grudinin, com 11,9%, seguido por Vladimir Jirinovski (Partido Liberal Democrático), com 5,7%.

Ksenia Sobchak, socialite e jornalista de oposição, marcou 1,6%. Outros quatro candidatos ficaram de 1% para baixo. Os dados podem sofrer leves alterações, uma vez que havia ainda alguns votos residuais a contabilizar.

Grudinin, empresário conhecido como o Rei do Morango que nem comunista ou filiado ao partido é, se disse decepcionado e apontou para fraudes. Ksenia acusou irregularidades. Ela vai montar novo partido, e rachou de vez com o líder dos megaprotestos contra o Kremlin do ano passado, o blogueiro e ativista Alexei Navalni.

Barrado de concorrer por questões judiciais que ele diz serem uma armação, apesar de ter apenas 1% das intenções de voto, ele e Ksenia bateram boca em um debate online após o pleito. Ele a acusou de ser um “instrumento de Putin” –pai dela foi o mentor político do então tenente-coronel da KGB, em 1991.

Vladimir Vladimirovitch Putin, com o novo mandato, só perderá para o ditador soviético Josef Stálin (de 1924 a 1953) em longevidade no poder desde o fim do Império Russo, em 1917.

Putin tem um partido para chamar de seu, o Rússia Unida, mas concorreu como independente. Na entrevista, ressaltou diversas vezes que o país passa por “enormes dificuldades”. Elas vêm da economia, que saiu de uma recessão profunda em 2015 e 2016, e agora cresce de forma limitada, o que dificulta a recomposição da renda. Além disso, sanções decorrentes da ação na Ucrânia tolheram a tomada de crédito de empresas privadas e estatais. 

ALAVANCAGEM
Para Putin, um ator político racional, as “grandes dificuldades” podem servir para conter seus mais recentes movimentos de agressividade em relação ao Ocidente –que são parte central da criação do mito em torno de si.

A questão é que, emprestando termo do mercado financeiro, Putin está muito alavancado. Sua presença militar na Síria recolocou a Rússia como potência no Oriente Médio. Mas com tropas turcas da Otan em operação, fora forças especiais americanas e aviões de todos os lados, sempre arrisca um conflito direto no país árabe.

A situação ucraniana ainda não está resolvida no leste do país, de maioria russa e separatista. A Ucrânia é visto como tampão essencial entre as forças da Otan (aliança militar ocidental) e a Rússia.

A ação lá, onde um golpe derrubou o governo pró-Moscou em 2014, e a guerra contra a Geórgia em 2008 estabeleceram os limites que Moscou aceita no que considera sua esfera de influência.

Mesmo a retórica militarista contra os EUA, com os novos “mísseis nucleares invencíveis” de Putin, é uma propaganda que sempre pode gerar reações exageradas.

Há espaço para erros, com tantas frentes abertas. A disputa com o Reino Unido no caso do espião assassinato é um exemplo, e com a Copa do Mundo à frente em junho, é dado certo em Moscou que atensão irá seguir alta por algum tempo.

Classificação Indicativa: Livre

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