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Entenda o rito e quem é quem nas eleições americanas

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Como de costume no pleito, não faltam polêmicas que incendeiam a disputa eleitoral  |   Bnews - Divulgação Divulgação e Gage Skidmore

Publicado em 03/11/2020, às 20h58   Tiago José Paiva


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Nesta terça-feira (3) os eleitores dos Estados Unidos foram às urnas em uma das mais importantes eleições presidenciais deste século para o país. Em meio a pandemia do novo coronavírus, milhões de americanos terão a chance de escolher entre a permanência do atual presidente, o republicano Donald Trump, ou optar por um novo caminho com o democrata Joe Biden.

Como de costume no pleito, não faltam polêmicas que incendeiam a disputa eleitoral. Além da crise da Covid-19, que afeta diretamente a votação, será possível votar pelo correio e por drive-thru, por exemplo, o que gera material para o levantamento de supostas fraudes, como já feito pela candidatura de Trump.

Do lado de Biden, a polêmica que permeia sua candidatura é um suposto escândalo em relação ao seu filho, Hunter Biden, cujo teriam sido encontrados em seu notebook arquivos que comprovariam negócios ilegais com o governo da Ucrânia. As suspeitas em relação à candidatura democrata teve impacto direto na demissão do jornalista Glenn Greenwald do The Intercept, que alega ter sido censurado por não compactuar com Biden.

Porém, antes de entender o cenário das eleições de 2020 dos Estados Unidos, que irão decidir o comandante da maior economia do mundo, da moeda mais importante do planeta e comandante em chefe das maiores forças armadas globais, é necessário compreender como funciona o pleito americano, afinal sua dinâmica é completamente diferente dos moldes brasileiros. 

Afinal, como funciona?

O primeiro ponto sobre as eleições dos Estados Unidos é que o voto é facultativo, ou seja, ou cidadãos não são obrigados a votar, podendo optar por isso sem ter que justificar sua ausência ou pagar multas. Levando isso em conta, além da campanha pelo voto no candidato, a dinâmica é modificada pela quantidade de pessoas que votam ou não. Neste ano, foram amplamente abordados tanto a necessidade quanto a importância do voto por ambos lados da disputa 

A segunda e mais incisiva diferença no rito eleitoral é que a eleição americana é indireta. Ou seja, o próximo ocupante da Casa Branca não necessariamente será o que tem mais votos da população. Os votos dos eleitores de cada estado servem para eleger delegados no Colégio Eleitoral. Estes delegados — 538 nomes no total — representam os votantes de seu estado e fazem a escolha final do próximo presidente.
Para se declarar um vencedor das eleições eleitorais dos EUA, são necessários pelo menos 270 delegados dos 538 totais. Cada estado americano tem um certo número de delegados, baseado na quantidade de distritos que estão contidos nele. Esses distritos são recortes de 435 pedaços — cujo número também é o de deputados do país — baseados no tamanho da população. Há estados com apenas dois distritos, e outros com números que chegam a 53.

Além da quantia semelhante ao número de deputados, também são levados em conta o número de dois senadores por estado, que resultam em mais dois delegados por cada um das 55 unidades federativas, resultando no total de 535. Os três delegados restantes são correspondentes aos três votos dos distritos presidenciais de Columbia e Washington. A heterogeneidade do sistema e é tida como consequência do federalismo americano, que permite regras personalizadas e individuais para cada estado. 

Por fim, nos estados há um controverso sistema do “vencedor leva tudo”, que funciona da seguinte maneira: na Califórnia, o candidato “A” teve 50,1% dos votos válidos, contra 49,9% do candidato “B”. Apesar da proximidade, o candidato “A” levará todos os delegados pertencentes ao estado. Essa possibilidade permite que o candidato com menos votos gerais de eleitores vença as eleições. Em 2016, Donald Trump derrotou Hillary Clinton desta maneira. 

Quem é quem?

Atual presidente dos Estados Unidos, Donald John Trump tem 74 anos e surpreendeu ao mundo em 2016, quando se elegeu presidente da maior potência mundial. Magnata da indústria do entretenimento e personalidade televisiva, Trump possui uma fortuna de US$ 2,1 bilhões, resultantes de seus empreendimentos. Seu governo vem sendo marcado por inúmeras polêmicas, como acusações de racismo e sexismo, além da sua polêmica abordagem em relação ao coronavírus. No entanto, sua gestão é marcada por um avanço econômico, que impulsiona seu governo a ter 39% de aprovação pelos cidadãos americanos. 

Vice-presidente dos EUA na gestão de Barack Obama, Joseph Robinette Biden Jr. tem 77 anos e é político de carreira, sendo um dos mais longevos parlamentares dos Estados Unidos, exercendo o mandato de senador pelo estado de Delaware por seis mandatos consecutivos, entre 1973 e 2009. Tido como um “democrata moderado”, Biden é a favor da descriminalização da maconha e do casamento das pessoas de mesmo sexo, adotando um viés mais progressista em sua campanha. 

Também em busca da reeleição ao lado de Trump, Mike Pence é o vice-presidente dos Estados Unidos. Pence foi governador do estado de Indiana antes de assumir o executivo americano e é um dos principais nomes nativos da política do partido Republicano. Na ala de Biden, sua candidata à vice é a senadora Kamala Harris. Ex-procuradora-geral do estado da Califórnia, Kamala é a primeira mulher negra a integrar a chapa presidencial de um grande partido político americano.

Cenários em 2020: Trump vs. Biden

Assim como no ano de 2016, de acordo com as pesquisas eleitorais feitas até o momento, Joe Biden é o franco favorito, muito provavelmente levando a maioria do voto popular. Os republicanos apostam no fato de que Donald Trump tenha o eleitorado fiel — e tido como "envergonhado", pois escondem suas reais posições das pesquisas — e bem distribuído geograficamente, o que pode fazê-lo vencer nos "swing states", estados decisivos para as eleições. 

No entanto, o maior questionamento sobre o cenário das eleições americanas é a provável judicialização do pleito, visto que cada partido terá legitimar ou deslegitimar a maior quantidade possível de votos. Tudo isso por conta da questão dos votos pelo correio, possibilitados pela pandemia da Covid-19. A expectativa é que ocorram inúmeros pedidos de recontagem e questionamentos, o que deverá atrasar a divulgação dos resultados das eleições.

A expectativa inicial é que a contagem final dos votos deverá levar semanas, o que pode levar com que um dos candidatos — e seus apoiadores — não aceitem os resultados das eleições. Donald Trump vem atiçando esta possibilidade, afirmando que há fraudes em votos pelo correio e que as eleições são armadas. A tensão eleitoral poderá gerar uma onda de protestos, incluindo a possibilidade de manifestações violentas.

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