Brasileira, vítima de xenofobia desabafa após ser agredida nos EUA: “A voz daquela mulher ecoa na minha mente o tempo todo”

A secretária Raíssa Garcia,  de 36 anos, foi espancada por uma americana na última quarta-feira (29) em Massachusetts, nos Estados Unidos. A brasileira chegou a ouvir de Michelle Milburn, de 45 anos: "Não vai acontecer nada comigo. Eu sou americana. Você tem que voltar para o seu país", dizia a mulher que foi presa no mesmo dia, mas segue em liberdade após pagamento de fiança.

Em entrevista para o Portal O Globo, Raíssa contou que não consegue mais trabalhar, tem dificuldade de sair na rua e disse que a voz da agressora ecoando em sua cabeça.

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"Estou toda machucada porque, além de tudo, também sofro de fibromialgia crônica. Estou sem condições de trabalhar e meus filhos com medo de ir à escola. A voz daquela mulher ecoa na minha mente o tempo todo falando aquilo que ela repetia para mim. Minha vida não está normal. Ando na rua sentindo que tem alguém me vigiando e falando alguma coisa e, desde aquele dia, não consigo dormir mais", relatou a brasileira.

Raíssa continuou relatando seu trauma: "Eu vou me recuperar, sou uma mulher forte. Mas acho que vai demorar muito tempo. Estou tomada por uma sensação de impotência muito grande porque foi uma violência gratuita”, falou a brasileira. 

 “Ela julgou que eu não era americana. Ela não esperou eu trocar uma palavra sequer. Por que ela chegou a essa conclusão? Porque o meu cabelo é escuro? Porque eu tenho traços indígenas? Sou descendente de índios, sou do Brasil. Tenho muito orgulho de ser brasileira e de ter conseguido chegar sozinha nesse país com dois filhos. Isso ela não vai conseguir tirar de mim." disparou contra a americana.

Ainda em entrevista para O Globo, a brasileira contou que se mudou para os Estados Unidos em 2018, para dar uma vida melhor aos seus dois filhos, que cria sozinha.

Além disso, Raissa está sendo vítima de diversos comentários ofensivos na internet, os quais tentam justificar a agressão. 

"Houve muitos comentários negativos vindos de pessoas que nem conheço. Uns falavam que eu provoquei a situação, outro dizia que eu deveria ter apanhado até morrer. Na polícia,fui informada que todas essas pessoas serão arroladas no processo como crime de ódio. Quem faz esses comentários também está cometendo um crime. As pessoas precisam entender que internet não é terra sem lei", disse a brasileira. 

RELATO DA AGRESSÃO

Raíssa Garcia relatou sobre como foi que deu início a agressão. Ela contou que viu a americana gesticulando e falando sozinha. A brasileira estava parada ao lado dela, que também estava dentro de um carro, dirigindo.

No início, Raíssa achou que Michelle estava falando com alguém pelo celular. Porém, a americana abriu a janela e começou a se dirigir diretamente para ela. Foi quando a brasileira abriu sua janela e começou a ouvir ofensas como: "Volta para o seu país. Volta para o seu país agora. Aqui é 'America'. A - m - e - r - i - c - a (ela soletrou)".

Aí comecei a falar com ela em inglês. Perguntei por que ela estava mandando eu voltar para o meu país e o que eu tinha feito contra ela. Ainda disse que estava dirigindo corretamente, com o documento necessário. Ela só me respondeu: 'Você precisa voltar'., contou Raíssa. 

Depois disso, a americana colocou o carro na frente da brasileira, impedindo sua saída do local. Raíssa então, teria saído do carro para filmar a placa do veículo de Michelle. A partir disso, foi quando começaram as agressões, com um um molho de chaves. 

" Ela veio apontando o dedo para mim, encostou no meu rosto, me enforcou e me deu dois murros na cara de mão fechada. Eu tentava defender meu rosto e ela me batia muito na nuca, na cabeça, no estômago, na costela e na boca. Quando ela tentou fugir eu fui atrás e abri a porta do carro dela. Nesse momento, ela jogou o carro em cima de mim, saiu e me deu pancadas mais fortes, inclusive com as chaves", relatou.

Michelle ainda estava em ligação com seu filho e começou a falar com ele: "Está vendo o que eu faço com ela?”. Segundo Raíssa, o menino ficou desesperado com a situação: "gritava desesperadamente": "Para, mãe. Você vai matar ela", contou a brasileira.  

O momento foi filmado por mais ou menos  50 pessoas, segundo Raíssa. Durante a agressão, ela pedia, em português, para que alguém chamasse a polícia, porém, ninguém atendeu ao pedido. Depois que a americana deixou o local, a brasileira, agredida, ligou para as autoridades. Eles chegaram em dois minutos. Raíssa foi levada ao hospital, onde recebeu atendimento médico.