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Israel mata ao menos 8 palestinos na maior incursão à Cisjordânia em 20 anos

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A incursão mobilizou centenas de soldados e incluiu ataques aéreos com drones  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Vídeo

Publicado em 03/07/2023, às 18h25   FolhaPress


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Ao menos oito palestinos morreram e 50 ficaram feridos nesta segunda-feira (3), no campo de refugiados de Jenin, na que já é considerada a maior incursão de Israel contra o território da Cisjordânia ocupada em quase duas décadas. A ofensiva mobilizou centenas de soldados e incluiu ataques aéreos com drones.

A ação ordenada pelo prêmie Binyamin Netanyahu, cujo governo é o mais à direita na história de Israel, ocorre após pressão de setores radicais da base aliada e não tem data para acabar. O episódio agrava a delicada situação de segurança na região e desperta preocupação.

Uma operação dessa magnitude não era registrada desde a Segunda Intifada, na primeira metade da década de 2000, marcada pelo levante palestino contra autoridades de Israel e por episódios de violência que provocaram mortes dos dois lados. Na manhã desta segunda, pelo menos seis drones israelenses sobrevoavam a região, que abriga 17 mil pessoas em uma área de menos de meio quilômetro quadrado.

O governo de Israel disse que a operação começou pouco depois da 1h no horário local (19h de domingo em Brasília), com ataques de drones contra supostas infraestruturas terroristas em Jenin. Em seguida, centenas de soldados avançaram por terra com veículos blindados.

Segundo Tel Aviv, as tropas israelenses atacaram um prédio que servia como centro de comando para a Brigada de Jenin, organização formada por combatentes de grupos militantes, sob a justificativa de interromper atividades de grupos extremistas no campo de refugiados. Retroescavadeiras blindadas foram usadas para abrir caminhos bloqueados, e tiroteios intensos foram ouvidos por horas.

Israel Katz, ministro da Energia e membro do gabinete de segurança de Israel, limitou-se a dizer que a operação duraria o "tempo que fosse necessário" e sugeriu que as forças israelenses podem permanecer no local por dias. "Uma operação não termina em um dia."

Horas depois, o premiê Binyamin Netanyahu afirmou que a operação "muda a equação" da luta do Estado contra o terrorismo. "Jenin se tornou um refúgio para o terrorismo. Estamos colocando um fim nisso", afirmou, acrescentando que as ações se concentram em uma área densamente povoada, mas que todo o cuidado estaria sendo tomado para não afetar civis.

O Ministério da Saúde da Palestina confirmou a morte de pelo menos oito pessoas em Jenin —outras 50 ficaram feridas, incluindo dez em estado grave. Outro homem foi morto na cidade de Ramallah, durante a noite, após ser baleado na cabeça próximo a um posto de controle, em condições ainda não esclarecidas.

Autoridades palestinas e organizações internacionais acusam Israel de atingir civis. "Há bombardeios e invasão de terras", disse à agência de notícias AFP Mahmud al-Saadi, diretor do Crescente Vermelho (equivalente à Cruz Vermelha em países muçulmanos) palestino. "Várias casas e estabelecimentos foram bombardeados [...]. Há fumaça saindo por todos os lados", acrescentou.

"O que está acontecendo é uma guerra real", disse o motorista de ambulância palestino Khaled Alahmad à agência Reuters. "Houve ataques do céu visando ao acampamento [de refugiados]. Toda vez que entramos [em Jenin], vemos de cinco a sete ambulâncias cheias de feridos."

Forças israelenses não usavam drones para realizar ataques na Cisjordânia desde ao menos 2006, mas voltaram a usar o equipamento em áreas perto de Jenin em 21 de junho e nesta segunda. E a escala crescente de violência que pressiona as forças terrestres deve fazer essa tática continuar, disseram militares à Reuters.
"As pessoas sabiam que provavelmente iríamos entrar [em Jenin], mas o método do ataque aéreo os pegou de surpresa", disse o tenente-coronel Richard Hecht, porta-voz do Exército israelense.

A operação iniciada nesta segunda-feira mobiliza de 1.000 a 2.000 soldados e pretende "quebrar a mentalidade que os extremistas têm do campo como um porto seguro", de acordo com o Exército de Israel, que diz que o local se tornou "um ninho de vespas".

Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou que a operação é um "crime de guerra contra um povo indefeso". Centenas de combatentes de grupos extremistas, incluindo Hamas, Jihad Islâmico e Fatah, estão baseados no campo, criado há 70 anos para abrigar refugiados após a Guerra da Palestina de 1948. Os combatentes na região têm armas variadas e dispositivos explosivos.

Abbas, como já é de praxe após operações de Israel na Cisjordânia, também disse que suspendeu o diálogo sobre segurança que a Autoridade Palestina mantém com Tel Aviv.

"A resistência enfrentará o inimigo e defenderá o povo palestino. Todas as opções estão abertas para atacar o inimigo e responder à sua agressão a Jenin", disse em comunicado o Jihad Islâmico. Já o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que a Inteligência do país estava "monitorando de perto a conduta dos inimigos".

As forças israelenses afirmaram ter apreendido um lançador de foguetes improvisado. Também disseram ter destruído um local usado para produção de armas e armazenamento de explosivos.

Paralelamente à tensão na Cisjordânia, o governo de Bibi, como Netanyahu é conhecido, foi alvo nesta segunda-feira de um protesto com milhares de pessoas no Aeroporto Internacional Ben Gurion, o principal do país. A maioria dos presentes levava cartazes que pediam democracia e versavam contra a reforma judicial pautada pelo governo. Ao menos 37 pessoas foram presas.

No último dia 19, uma operação do Exército israelense com o apoio de um helicóptero, outra tática rara na região, deixou ao menos cinco mortos, incluindo um adolescente, além de 91 feridos. Após a ofensiva, quatro israelenses foram mortos perto de um assentamento judaico na Cisjordânia, em ações que motivaram ataques de colonos contra aldeias e cidades palestinas. Com a espiral de violência, membros do governo radicalizaram discursos e exigiram medidas firmes.

As tensões na região já haviam aumentado após a morte, em maio, de Khader Adnan, líder do Jihad Islâmico, por greve de fome. Ele estava preso sob a custódia de Israel e era acusado de incentivar verbalmente a violência. Autoridades israelenses afirmam que o militante havia recusado consultas médicas e tratamento, mas organizações de direitos humanos dizem que a morte poderia ter sido evitada.

Em nota, o grupo extremista informou que a morte de Adnan havia sido honrosa e que Tel Aviv pagaria o "preço pelo crime". Desde o início do ano, ao menos 185 palestinos, 25 israelenses, uma ucraniana e um italiano morreram no conflito entre Israel e palestinos, segundo levantamento da agência AFP.

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