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Parlamentares dos EUA ampliam ofensiva e alertam Biden sobre ameaças de Bolsonaro

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Deputados e senadores entregaram nesta sexta-feira (9) uma carta a Joe Biden em que alertam para o risco de golpe na eleição presidencial de outubro  |   Bnews - Divulgação Divulgação/PR/White House

Publicado em 09/09/2022, às 17h11   Thiago Amâncio// Folhapress



Em uma das ações mais incisivas até aqui de parlamentares americanos contra manifestações golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL), deputados e senadores entregaram nesta sexta-feira (9) uma carta a Joe Biden em que alertam para o risco de golpe na eleição presidencial de outubro e acusam o brasileiro de ameaçar as instituições democráticas.

A entrega ao americano se dá dois dias depois de moções em defesa da democracia no Brasil serem apresentadas na Câmara e no Senado. A carta de agora é mais incisiva porque pela primeira vez cita Bolsonaro e elenca manifestações antidemocráticas do presidente, enquanto as moções de quarta (7) eram mais genéricas.

"Escrevemos para expressar nossa profunda preocupação com os ataques sistemáticos às instituições democráticas da quarta maior democracia do mundo", afirmam os parlamentares. O texto é subscrito por 8 senadores e 31 deputados, que pedem que Biden deixe claro que o Brasil perderá o apoio para ingressar na OCDE e o status de aliado da Otan, reivindicações de Bolsonaro.

A carta cita também a invasão do Capitólio, um dos episódios mais traumáticos da história recente americana, por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que manifestou apoio a Bolsonaro na eleição deste ano. "Tendo passado pessoalmente pelos horrores da insurreição de 6 de Janeiro, todos sabemos muito bem as consequências que podem ocorrer quando demagogos promovem desinformação sobre a legitimidade e integridade do processo eleitoral, atacando publicamente autoridades eleitorais independentes", diz o texto.

A carta foi entregue dois dias depois de Bolsonaro usar os eventos do Bicentenário da Independência do Brasil como atos de campanha, em que manteve a retórica golpista, e faz parte de um esforço internacional que considera que, sem apoio de Washington, uma ruptura democrática teria muito mais dificuldade de ser levada a cabo no Brasil.

"À luz desses desafios sérios e muito familiares à democracia brasileira, os EUA têm o dever, como parceiro de longa data do Brasil, de usar todas as ferramentas diplomáticas e ajuda disponível para denunciar e deter ações que ameaçam incitar a violência política no país e minar a integridade do processo eleitoral", diz o texto, capitaneado pelo senador Patrick Leahy (Vermont), presidente pro tempore do Senado, e pela deputada Susan Wild (Pensilvânia).

Assinam a carta ainda uma série de parlamentares expressivos, como a deputada Alexandra Ocasio-Cortez, estrela da esquerda dos EUA, e o deputado Jamie Raskin, que investiga a invasão do Capitólio e indicou que pode incluir Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro ligado à direita americana, nas apurações do ataque de 6 de janeiro.

A movimentação parlamentar americana ganhou força depois que entidades de direitos humanos do Brasil se reuniram com legisladores no fim de julho, capitaneadas pelo grupo Washington Brazil Office, para alertar as autoridades do país sobre os riscos às eleições brasileiras.

Os parlamentares afirmam que o sistema eleitoral brasileiro, "reconhecido como um dos mais seguros e mais confiáveis sistemas eleitorais do mundo", é constantemente atacado pelo presidente. O texto cita também que candidatos que representam minorias estão em risco e mostra preocupação com o aumento da circulação de armas no país.

Outra menção é a uma reunião que Bolsonaro promoveu com embaixadores no fim de julho, na qual mentiu sobre a segurança das urnas e repetiu ataques ao Supremo Tribunal Federal.

"Dadas as ameaças sem precedentes às eleições, instamos você [Biden] a tomar medidas adicionais para deixar inequivocamente claro para o presidente Bolsonaro, seu governo e para as forças de segurança brasileiras que o Brasil se encontrará isolado dos EUA e da comunidade internacional se houver qualquer tentativa de subverter o processo eleitoral do país", afirma a carta.

"Seu governo deve garantir que o governo brasileiro entenda que qualquer esforço do tipo terá consequências sérias, incluindo futuras cooperações bilaterais de defesa e segurança."

Mais contido do que o Legislativo, o Executivo americano também tem mandado recados de que espera que o resultado do pleito de outubro seja respeitado. Na noite de quarta, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que os EUA estão monitorando as eleições e reforçou que Washington confia nas instituições democráticas brasileiras. Mais cedo, em nota para celebrar os 200 anos da Independência, o secretário de Estado, Antony Blinken, havia realçado a importância do comprometimento com a democracia.

Em julho, após Bolsonaro convocar os embaixadores, a representação de Washington em Brasília emitiu comunicado em que afirmou confiar no sistema eleitoral brasileiro, "modelo para as nações". Dias depois, em conferência de ministros da Defesa das Américas, o secretário Lloyd J. Austin defendeu que as forças militares devem estar "sob firme controle civil", sem citar as eleições brasileiras.

No único encontro que teve até agora com Biden, Bolsonaro teria pedido ajuda para derrotar o favorito nas pesquisas, o ex-presidente Lula (PT), segundo a agência de notícias Bloomberg. Na reunião, em Los Angeles, o brasileiro repetiu que queria "eleições limpas, confiáveis e auditáveis"; o americano respondeu, segundo o Departamento de Estado, que "os EUA não toleram e não aceitam intervenção no sistema eleitoral em nenhum lugar".

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