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Na Sombra do Poder: sai Dilma entra Temer; mas na hora H a voz falhou

Publicado em 13/05/2016, às 06h00   Editoria de Política (Twitter: @BocaoPolitica)



Na hora H, a voz falhou  
Cada vez mais enfraquecido, o governo tão somente assistiu ao previsível desfecho da abertura do processo de impeachment e o consequente afastamento da presidente Dilma Rousseff. Viu passivamente as escancaradas tratativas da oposição e a montagem da equipe de Michel Temer, que apesar da aparente serenidade já falava aos quatro cantos como novo comandante do país. Ora por carta ora por pronunciamento antecipado, “vazado” via zap zap. 
Mas nesta quinta, quando precisou, enfim, falar como presidente interino em lugar da petista, a voz falhou. O nervosismo driblou a costumeira frieza e uma tosse embargou suas primeiras palavras à nação. Recorreu à taça de água no púpito, mas como a rouquidão não cessou, Temer apelou à plateia: preciso de uma pastilha! E prontamente foi socorrido por um dos súditos. Com o gogó recuperado, traçou as linhas gerais da nova administração.

Papagaio de pirata

O afastamento da presidente Dilma Rousseff teve um gosto especial para o senador Aécio Neves. De certo modo conseguiu emplacar uma vitória retardada sobre a petista, num revanchismo declarado às eleições de 2014. O gozo, todavia, não foi completo. Teve que engolir a coroação do peemedebista, que sequer foi às urnas. Até hoje, sua posição de maior prestígio na presidência da República foi como papagaio de pirata na posse de Michel Temer.

Coalizão ou fisiologismo?

Lição da história: governabilidade se negocia e cargo se distribui. Engana-se quem pensa que os ministérios de Temer seriam comandados exclusivamente por quadros técnicos. Política se faz com acordo e discussão na vida real. Agora, resta saber se a palavra de ordem será coalizão ou fisiologismo. Mais que isso, interessante será observar se as duas coisas, na realidade, não significam o mesmo.

Resistentes

Os quadros de primeiro escalão do governo Dilma Rousseff optaram por ficar na órbita do chamado gabinete de “resistência” da presidente afastada. Jaques Wagner está incluso nesta lista. Estes agentes formarão uma espécie de conselho externo para ter a liberdade de correr o país e o exterior na busca de apoio às teses de golpe.

Reerguendo o PT

Ainda sobre Wagner, as conversas para que ele assuma a presidência do PT estão correndo a todo vapor. Um dia antes da aprovação do afastamento da presidente, líderes do partido na Câmara e Senador, além de governadores e dirigentes da legenda apoiam a convocação de uma eleição extraordinária para elegê-lo. Duas leituras são feitas: a atual direção desagrega o partido e, portanto, precisa sair para que haja unidade na crise; e o desgaste é grande da “turma” de São Paulo que vem dando as cartas no partido há muito tempo.

O protagonista

Geddel Vieira Lima (PMDB) assume a Secretaria de Governo e a expectativa é grande para saber como está o humor e o trato pessoal e político do ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva. Geddel é peça chave na gestão de Temer. Reconhecido como um dos protagonistas agentes da ruptura com o PT. Agora, resta saber se o temperamento vai permitir que ele atue na articulação política.

Roubando a cena

Por falar em temperamento, Geddel estava com os ânimos agitadíssimos na cerimônia oficial do novo governo. Feliz da vida pela reviravolta política que ajudou a construir, o novo ministro da Secretaria de Governo quebrou o protocolo e roubou a cena ao extrapolar num cumprimento. Tudo sob o olhar clínico do novo chefe.

‘Mui amigos’

Por enquanto, Geddel brinca com os neoaliados. Nessa levada, chamou a atenção nas redes sociais uma foto em que aparece ao lado do senador Magno Malta (PR), baiano nascido em Macarani, pastor evangélico, cantor e legislador pelo estado do Espírito Santo. Como o vizinho faz uma ‘pose estranha’, Geddel legendou a foto elogiando a "chinfra do amigo senador".

Tietagem

Lúcio Vieira Lima (PMDB), irmão de Geddel e deputado federal, era assediado por diversos parlamentares durante o processo de impeachment. Sabia-se que ele é mais ponderado que o irmão e é nesse sentido que o deputado tende a ser bombeiro e interlocutor dos aliados. Lúcio já deve estar se preparando para fazer o meio de campo.

Mensagem subliminar

Por falar em Lúcio, o deputado fez uma selfie durante o pronunciamento de posse do presidente interino Michel Temer. Mas, olha quem estava lá atrás? O [ainda] secretário de Promoção Social e Combate à Pobreza, Bruno Reis. Alguém pode me dizer o que ele estava lá fazendo? O prefeito ACM Neto, pelo menos, não deu as caras.

Um lugar ao sol

O deputado Benito Gama (PTB) quer um lugar ao sol no novo governo. Trabalhou duro para destituir a presidente Dilma Rousseff. Seu partido ficou com o Ministério do Trabalho com Ronaldo Nogueira. BG, como é chamado na Câmara, ainda não conseguiu emplacar cargos, mas ascende dentro da bancada do partido na Casa Baixa e pode abocanhar uma liderança.

Ninguém entende

O senador Walter Pinheiro (sem partido) deve ser anunciado como secretário estadual da Educação, no dia 16. Ninguém nega a capacidade técnica de Pinheiro, contudo, no Congresso Nacional poucos conseguem entender esta “parceria” entre Rui Costa e o senador. Seja pelo fato de Pinheiro deixar o mandato para assumir uma secretaria estadual, seja pela saída inoportuna dele do PT. Ninguém entende, mas estes não são tempos de muita coerência e compreensão.

Forçando a barra

Antônio Brito nega de pés juntos que não conversou com Rui Costa sobre assumir a Secretaria da Saúde. Interessante que o que se ouve em Brasília é outra coisa. Sim, conversou. Não impôs ou está forçando a barra, mas que o assunto está na agenda está.

Amizade colorida

A amizade entre a deputada federal Tia Eron (PRB-BA) com Eduardo Cunha parece estar cada vez mais fortalecida. Fontes contaram ao Bocão News que a deputada acompanhou o ex-presidente da Câmara nos dias que sucederam o afastamento do peemedebista. Cunha estava irritado, nervoso e inconsolável. No momento que recebeu a decisão do Supremo Tribunal, se descontrolou. Dizem as más línguas que as paredes da Casa tremeram.

“Hosana nas alturas”

Falando em afastamento, se durante a aprovação do processo de impeachment de Dilma Rousseff foi possível ouvir os fogos de artificio da oposição, dias antes a comemoração parece ter sido maior. A grande maioria dos deputados deram “Hosana nas alturas”, quando souberam da queda de Cunha. Parece que rei deposto é rei morto na Câmara Federal. Na verdade, não só na Casa de Leis. O mesmo deve ocorrer no Palácio do Planalto.

‘Saudação, coronel’

Enquanto em Brasília senadores discutiam o futuro do país, na Bahia a Polícia Militar dava tchau a Coronel, que se aposentou depois de 30 anos de vida dedicada à Cavalaria da PM e teve direito à coroa de cenouras. Coronel, como é carinhosamente conhecido entre a tropa, é um cavalo que serviu à corporação em Salvador e agora vai repousar em uma fazenda no município de Entre Rios, numa unidade pertencente à Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. 

De escanteio

E por falar na Bahia, o governador Rui Costa terá que explicar uma escolha que fez. Durante reunião, nesta quarta-feira (11), no Palácio de Ondina, Rui e João Leão receberam o vereador e pré-candidato à prefeitura de Candeias, Doutor Pitágoras (PP). Apertos de mão e um apoio à prefeitura foram selados. Será que Carlos Martins foi jogado para escanteio? O governador terá que explicar.

Conquista

Isolado em Vitória da Conquista, Arlindo Rebouças pode ter candidatura retirada pelo PSDB estadual. É o que circula nos bastidores da região conquistense. Em março deste ano, o PSDB de Conquista apresentou a pré-candidatura a prefeito do vereador Arlindo Rebouças, com a presença dos deputados estaduais Luciano Ribeiro (DEM) e Herzem Gusmão (PMDB). Todavia, dois meses após o lançamento, os tucanos na cidade estão sem aglutinar mais nenhuma outra agremiação de peso. Com isso, a direção estadual poderá abortar uma possível candidatura de Arlindo nas eleições de 2016 para prefeito, devendo se coligar com uma candidatura de oposição.

Ainda sonhando

Pelo visto, Alice Portugal (PCdoB-BA) ainda cultiva a esperança de ter o apoio do PT para as eleições municipais deste ano. E não se opõe em deixar isso bem claro. Durante um debate na UFBA, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) estava discursando e criticando as alianças do PT. Jean disse que o partido precisava ceder. Alice, pré-candidata a prefeita de Salvador, foi rápida, levantou o dedo e falou em alto e bom som “começando por Salvador”, arrancando riso do público. 



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