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Detentos constroem telescópios e doam a escolas públicas na Paraíba

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Reeducandos em projeto de ressocialização já construíram oito telescópios  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Pixabay

Publicado em 25/12/2022, às 15h26 - Atualizado às 15h27   Cadastrado por Lorena Abreu



Quatro detentos da cadeia pública de Esperança, no Agreste da Paraíba, estão produzindo ferramentas que dão a possibilidade de enxergar além do céu: telescópios. A ideia do projeto partiu do diretor da unidade prisional Lindemberg Gonçalves Lima, que sempre teve apreço pela astronomia e encontrou dentro da unidade prisional outros com o mesmo interesse.

Em junho de 2022, Lindemberg resolveu introduzir a proposta dentro da cadeia como um meio de ressocialização com os presidiários. “A ideia surgiu da minha paixão pela astronomia e do desejo de promover a ressocialização dos nossos reeducandos”, diz o diretor.

A ressocialização de pessoas privadas de liberdade é um processo que utiliza de procedimentos pedagógicos para que detentos possam contribuir com a sociedade fora do ambiente prisional. O projeto foi intitulado como “Esperança no Espaço”.

“Desde criança eu tenho paixão pela astronomia, mas foi uma matéria sobre a sonda Voyager 2, em uma revista, em 1989, que me fez estudar sobre o assunto”, explica Lindemberg Gonçalves.
A produção dos telescópios acontece praticamente todos os dias, e Lindemberg Lima explica que os quatro reeducandos foram escolhidos por critérios comportamentais observados dentro da unidade prisional. “[Eles foram escolhidos pelo] comportamento e interesse pelo projeto, mostrando vontade de mudar de vida, mas queremos expandir esse número [de participantes]”, explica.

De acordo com a direção da unidade prisional, a parceria da distribuição dos telescópios para as escolas do município consiste, em contrapartida, no suporte de professores da rede municipal de ensino para lecionarem para os detentos.

A partir do ensino promovido dentro da unidade prisional, dois apenados conseguiram prestar o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL), e conseguiram ingressar em cursos de graduação no ensino superior nas áreas de gestão pública e pedagogia. Além disso, os reeducandos que participam do projeto têm direito a remissão da pena, que na base de cálculo da unidade prisional, a cada 3 dias trabalhados para o projeto, 1 dia é diminuído da pena do indivíduo, segundo informações dom portal G1.


Participante do projeto, Antônio Ramos relatou que tem sido uma experiência enriquecedora poder produzir materiais científicos dentro da prisão e que a educação adquirida dentro da unidade prisional tem sido um diferencial para a construção intelectual do indivíduo.

“Estou aqui fazendo um trabalho de educação informal, aprendendo dentro da cadeia, e levando [o trabalho] para a comunidade, para as crianças e as escolas”, explica.Oito telescópios foram produzidos na cadeia Pública de Esperança e outros cinco estão em fase final de produção. Após a confecção do primeiro telescópio, ele foi apresentado em julho para a juíza da 1ª Comarca de Esperança, Paula Frassinete Nóbrega de Miranda, que decidiu apoiar o projeto doando verbas de prestação pecuniária para viabilizar a proposta financeiramente, na aquisição de recursos necessários.

De acordo com a unidade prisional, com os insumos necessários, a cada semana três telescópios são produzidos, utilizando materiais encontrados no dia a dia das pessoas, como:

sobras de madeira das indústrias de móveis;
tubos de PVC de 150mm;
cape de esgoto;
cabo de vassoura;
raios de bicicletas;
cano de PVC normal;
produtos adquiridos por meio de compra externa (lasers, espelhos e lentes oculares).

Os telescópios que são produzidos na Cadeia Pública de Esperança são do modelo newtoniano refletor. De acordo com o professor de física Breno Morais, é um modelo que possui duas lentes: uma objetiva, que está diretamente apontada para o objeto a ser observado, e a ocular, onde colocamos o nosso olho. Portanto, as lunetas são chamadas comumente de telescópios refratores. Em 1672, Isaac Newton substituiu a lente objetiva por um espelho côncavo, produzindo, assim, o telescópio refletor, corrigindo boa parte dos problemas produzidos pelos telescópios refratores.

Esses telescópios contam com espelhos refletores dentro de sua composição, que funcionam da seguinte forma:

A luz oriunda de um objeto celeste, ao entrar no telescópio, atinge o espelho côncavo que está dentro do instrumento e, ao sofrer reflexões, atinge a lente ocular que, por sua vez, tem a capacidade de ampliar e formar uma imagem virtual próxima a ela (e ao olho do observador), fazendo com que o objeto observado aparente estar mais próximo e, como consequência, possa ser observado com mais detalhes. Em tese, um telescópio pode observar qualquer objeto astronômico com boa luminosidade.
O equipamento produzido na unidade prisional de Esperança mede 203 mm de diâmetro e possui uma distância focal de 1.600 mm. O professor Breno Morais explica que a distância focal é a distância entre o espelho refletor (a objetiva) e o ponto de convergência (dentro do telescópio) da luz refletida oriunda de um objeto astronômico. “O mais importante sobre a distância focal é a capacidade de ampliação de um objeto celeste proporcionada pelo equipamento. Por exemplo, para uma distância focal de 1.600 mm e uma ocular com distância focal de 4 mm, ao observar a lua, é possível conseguir um aumento de 400 vezes (1.600/4)”, ensina o professor.

Os telescópios têm aumento útil de uma imagem de 228 vezes. De acordo com Lindemberg Lima, o corpo celeste mais distante possível captar imagens com os telescópios produzidos na unidade prisional foi a Galáxia do Sombreiro, a 30 milhões de anos-luz de distância da Terra.

A portaria que solicitou a aplicação da pena de demissão foi publicada no Boletim Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) deste sábado (24).

De acordo com o documento, assinado pelo secretário Humberto Freire, os policiais realizaram uma abordagem sem mandado de busca e apreensão ou ordem de serviço.

Classificação Indicativa: Livre

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