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PT reage à escolha de candidato do PDT no Ceará e sinaliza rompimento

Agência Brasil
O PT do Ceará afirmou que a escolha de Roberto Cláudio representa um "rompimento tácito e unilateral da aliança"  |   Bnews - Divulgação Agência Brasil

Publicado em 20/07/2022, às 09h32   Folhapress/ João Pedro Pitombo



Um dia após o PDT barrar a reeleição da governadora Izolda Cela e escolher o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio como o candidato ao Governo do Ceará, o PT afirmou que a decisão representa um rompimento e deve lançar candidatura própria, implodindo uma aliança de 16 anos. Em nota divulgada nesta terça-feira (19), o PT do Ceará afirmou que a escolha de Roberto Cláudio representa um "rompimento tácito e unilateral da aliança" e disse que na decisão do PDT "prevaleceu a arrogância, o capricho e a expressão de mando". O partido informou ainda que continuará o diálogo com os demais partidos aliados.

Roberto Cláudio foi referendado como pré-candidato a governador nesta segunda-feira (18) em reunião do diretório estadual do PDT. Ele teve 55 votos contra 29 da governadora Izolda Cela (PDT), que pleiteava ser candidata à reeleição com o apoio do governador Camilo Santana (PT). Izolda Cela assumiu o governo do estado em abril após renúncia de Camilo Santana, que se desincompatibilizou para concorrer ao Senado. Além do PT, partidos como MDB, PP, PV e PC do B defendiam que a governadora fosse candidata à reeleição em outubro.

Roberto Cláudio, que foi prefeito de Fortaleza de 2013 a 2020, faz parte do núcleo duro do PDT no Ceará e era o nome preferido do presidenciável Ciro Gomes (PDT) para a sucessão. Ele enfrenta resistências em parte do PT, que fez oposição à sua gestão na capital cearense. Também disputavam a indicação no PDT os deputados Mauro Benevides Filho e Evandro Leitão, mas ambos retiraram a postulação nesta segunda-feira, antes da votação no diretório.

Presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo disse que escolha de Roberto Cláudio, apesar de não ter sido consensual, aconteceu de forma transparente e democrática. O embate entre PT e PDT acontece nas vésperas das convenções partidárias e põe em xeque a aliança entre os dois partidos no Ceará, que começou a enfrentar desgastes no estado a partir da escalada de críticas de Ciro Gomes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aliados ou com candidaturas separadas, os dois partidos terão como desafio enfrentar o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), que é favorito na disputa estadual e deve concorrer com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Com convenção marcada para 24 de julho, o PT definirá nos próximos dias se continua aliado ao PDT ou lança candidato próprio ao governo. Em pesquisas internas, foram testados os nomes dos deputados federais José Guimarães, José Airton Cirilo e Luizianne Lins. Mas também são opções para sucessão nomes fora do radar como os deputados estaduais Augusta Brito, Elmano de Feitas e Fernando Santana.
Ainda há uma possibilidade de apoio a uma candidatura ao governo do ex-senador Eunício Oliveira (MDB), inimigo declarado de Ciro Gomes. O emedebista adiantou que não vai apoiar Roberto Cláudio e não descarta embarcar no palanque de Capitão Wagner.

A reportagem apurou que a decisão de manter a aliança ou lançar candidato próprio será de Camilo Santana, que tem o aval de Lula para fazer o arranjo que for mais conveniente ao partido no Ceará.
Em uma rede social, Camilo disse lamentar que Izolda tenha sido preterida: "Lamento muito que a primeira mulher governadora do Ceará não poderá concorrer à reeleição, após decisão do PDT".

O PT, por sua vez, classificou a negativa de reeleição da governadora de "triste espetáculo de constrangimento público da primeira mulher a chegar ao governo do estado". "A negação do seu direito à reeleição, pelo seu partido, ficará registrada com uma triste página na história política do Ceará", informou o partido.

Izolda foi vice-governadora por sete anos e secretária estadual de Educação. Apesar de filiada ao PDT, tem trajetória próxima ao PT em Sobral, berço político dos irmãos Ferreira Gomes. O marido de Izolda, Veveu Arruda (PT), foi prefeito da cidade de 2011 a 2017 com o apoio de Ciro. Após a votação desta segunda-feira, Izolda disse que o PDT barrou o seu direito de concorrer à reeleição, mas que respeita a decisão.

A deputada federal Luizianne Lins (PT) se solidarizou com a governadora e disse que ela foi vítima de "violência de gênero" ao ser preterida para a reeleição. Ex-prefeita de Fortaleza e com relação conflituosa com os Ferreira Gomes, Luizianne faz parte do grupo que candidatura própria do PT ao governo. O deputado José Airton Cirilo (PT) afirmou nesta terça (19) que a decisão do PDT fortalece a tese da candidatura própria do PT e de "construção de um palanque leal a Lula no Ceará".

Dentro do PDT, a escolha do candidato para a sucessão é tratada como um assunto interno do partido. Roberto Cláudio disse que vai procurar Camilo Santana e dialogar para manter a aliança com o PT.
André Figueiredo também disse que o PDT segue aberto ao diálogo: "Não sendo possível, é um direito dos outros partidos lançarem candidaturas próprias. Nós vamos à luta". O presidenciável Ciro Gomes e seu irmão, o senador Cid Gomes, não falaram publicamente sobre a decisão o PDT do Ceará.

Há dez dias, em entrevista ao Avesso Podcast, Ciro Gomes suscitou dúvidas sobre a fidelidade de Camilo Santana ao seu grupo político e atribuiu a Lula o impasse no Ceará. "Lula é tão irresponsável que está lá se acertando com Eunício e já pegou o governador de lá [do Ceará] –já prometeu que vai ser ministro– que era nosso aliado, ou é nosso aliado. Ainda não sei direito como é que vai desdobrar isso lá. Está lá a confusão danada produzida pelo Lula", disse.

A candidatura de Ciro Gomes ao Planalto enfrenta isolamento e tem palanques estaduais fragmentados e dissidentes que devem apoiar Lula. Em campos opostos na eleição presidencial, PT e PDT devem se aliar em três estados: Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Piauí.

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