Política

Executivos da Lava Jato não têm direito a visita íntima e comem com as mãos

Publicado em 23/02/2015, às 05h59   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Assim que chegaram à custódia da Polícia Federal de Curitiba (PR), na manhã de 14 de novembro de 2014, 23 empresários e executivos presos na sétima fase da Operação Lava-Jato foram acomodados em um auditório. Pacientemente, alguns dos maiores empreiteiros do país, como Leo Pinheiro, presidente da OAS, Ricardo Pessoa, presidente da UTC, Sergio Mendes, vice-presidente da Mendes Junior, Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e Ildefonso Colares Filho, presidente da Queiroz Galvão, entregaram a carteira de identidade aos policiais.
Eles foram levados para uma ala formada por três celas de paredes brancas, unidas por uma sala comum. Com um beliche, uma mesa e banco de concreto, cada uma delas está preparada para receber duas pessoas. Espremidos nos cubículos, os empresários começaram a tratar das coisas práticas. Os mais velhos dormiriam nas camas. Os demais, em colchonetes espalhados pelo chão. Cada cela tem um vaso sanitário de aço pregado no chão e uma pia.
Um dos investigados presos naquele dia, e que agora está em liberdade, relatou à Folha: "Nada separa a latrina do restante do espaço. A pessoa tem que ir ao banheiro na frente de todos os outros que estão presos ali. Nós então colocamos um colchão entre a privada e as camas. Quando alguém estava usando, colocava uma toalha sobre ele. Assim os outros não se aproximavam". Nos primeiros dias, o sanitário entupiu. Coube a Erton Medeiros Fonseca, diretor da Galvão, solucionar o problema. "Depois desse evento, providenciamos um saco e não jogamos mais papel na latrina", relata o ex-preso.
Ainda segundo o jornal, a pressão de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, que é cardiopata e bipolar, foi a 23 por 12. Ele e José Ricardo Breghirolli, da OAS, só choravam. Leo Pinheiro, da OAS, e Sérgio Mendes, da Mendes Junior, ficavam calados. Erton, da Galvão, não saía da cela. Agenor Medeiros, diretor da OAS, estava agitado. A ponto de aborrecer os carcereiros.
A publicação afirma também que os demais conseguiam demonstrar alguma normalidade. Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras que conseguiu ser solto, até cantava para alegrar os colegas. "Ele tem um vozeirão", diz um ex-preso. O repertório incluía bossa-nova e MPB. Com medo de escutas ambientais, evitavam puxar assunto sobre as acusações que os levaram até ali. Chegavam a conversar baixinho e com a mão na boca para evitar leitura labial. O tempo parecia não passar. E relógios estavam proibidos nas celas.
Obcecado, Agenor Ribeiro deu um jeito de amenizar a aflição: criou um relógio de sol, marcando riscos na parede quando a hora era informada a ele pelos carcereiros.A PF acabou autorizando a instalação de um relógio de parede em um dos cubículos. Ricardo Pessoa, da UTC, é abastecido por seus advogados com caixas de adesivos de nicotina para tolerar a abstinência. Os presos até hoje só têm direito a duas horas de sol. É quando aproveitam para lavar meias e cuecas. Outras roupas, e também lençóis, travesseiros e fronhas, são entregues a eles por advogados e familiares, e trocados semanalmente. Não há uniforme. Os detentos usam agasalho, bermuda de ginástica e calça de sarja.
Na hora do banho, os empreiteiros e executivos têm que fazer fila pois só há dois chuveiros. A limpeza das celas também é feita por eles. Um dos advogados relata que leva "produtos de limpeza como Pinho Sol e Veja", usados para limpar o chão e o sanitário. Os empresários despejam tantos produtos no chão, e o cheiro é tão forte, que carcereiros às vezes brincam: "Vocês estão bebendo cândida?".
Ainda de acordo com a Folha,as famílias levam bolachas, frutas e água mineral –caso contrário, eles teriam que beber da torneira. A hora da refeição é também de algum suplício: quando as marmitas são entregues, os presos têm que ficar voltados para a parede, de costas para os carcereiros. A comida servida é "puro sal", segundo os relatos de quem esteve na custódia. "Todos os dias eles servem arroz, uns quatro caroços de feijão, macarrão por cima. E frango, peixe ou carne." Os talheres são de plástico. A faca não corta nada. Os empresários têm que pegar a carne com as mãos.
Há relatos de esgotamento emocional de alguns presos, que imaginavam que passariam pouco tempo na cadeia. A tensão, nestes momentos, às vezes é quebrada com a passagem da fisioterapeuta de Alberto Youssef (o doleiro fica numa ala vizinha). Ela é considerada uma mulher muito bonita. Não há visita íntima na custódia da PF. Os empreiteiros ficam separados da mulher e dos filhos por uma parede de vidro. Às vezes, os carcereiros abrem exceção. E permitem que os detentos abracem os seus familiares. 
Publicada no dia 22 de fevereiro de 2015, às 08h

Classificação Indicativa: Livre

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