Política

Consciência: negros baianos têm baixa representatividade nas casas legislativas

Publicado em 20/11/2015, às 06h16   Rodrigo Daniel Silva (Twitter: @rodansilva)


FacebookTwitterWhatsApp

A Bahia tem a maior população autodeclarada negra do Brasil. Portanto, tem uma alta representativa de negros nas casas legislativas, certo? Não, não é bem assim. Se o número de pessoas que se declaram negras no estado é 17,1%, na Assembleia Legislativa apenas 4,7% dos deputados se definem como afrodescendentes.
Levantamento feito pela reportagem do Bocão News a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que tão-somente três dos 63 parlamentares na Assembleia se autodeclararam negros na eleição de 2014, quando disputaram o cargo.
Na avaliação de Bira Côroa (PT), que ao lado Zé Raimundo (PT) e Pastor Isidório (Pros) foram os deputados estaduais que se definiram como afrodescendentes, essa é uma questão de identidade. “Se olharmos, iremos ver que a maioria tem um perfil negro, mas não se assume assim. É uma questão de pertencimento. Somos todos criados com a ideia de que negro é inferior. E isso pesa muito”, observa.
A secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Olívia Santana (PCdoB), diverge deste entendimento. “É um retrato da desigualdade racial da sociedade que se reflete no Parlamento. Além disso, a disputa eleitoral é marcada pelo poder econômico, que quem tem uma capacidade de arrecadar mais dinheiro se elege. Neste sentido, os negros estão em desvantagem”, avalia Olívia, que já foi candidata à deputada, mas não obteve êxito.
O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, entende que os dados ilustram o “racismo existente no Brasil”. “Há uma sub-representação no Parlamento brasileiro. Mas boa parte dos pardos também não se autodeclaram negros”, ressalta o especialista.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2013 mostram que 76,3% dos baianos se declaram negros ou pardos enquanto na Assembleia Legislativa da Bahia 41,2% se definiram assim.
Na Câmara dos Deputados, a representação do negro baiano é um pouco maior. Lá 15,3% dos deputados federais da Bahia se definiram com este perfil. Bebeto (PSB), Irmão Lázaro (PSC), Tia Eron (PRB), Márcio Marinho (PRB), Antônio Brito (PTB) e Valmir Assunção (PT) foram os seis dos 39 parlamentares que se identificaram afrodescendentes.  
Para o professor Jorge Almeida, a consequência desta baixa representatividade é que as políticas públicas criadas acabam não atendendo essa população.  A secretária Olívia Santana concorda e diz que: “nós (negros) não tomamos as decisões, somos objetos políticos. Os brancos fazem as leis para nós. Sofremos os impactos de algo que não participamos, infelizmente”.  
Na mesma linha, o deputado federal Valmir Assunção (PT) afirma que essa pequena representação “causa uma distorção histórica nas propostas apresentadas na Câmara, e de como o Congresso observa seus representantes”.
Cota no Parlamento
Reservar um espaço para negros por meio de uma legislação é o caminho para garantir uma maior participação desta população nas casas legislativas. É o que acredita a secretária Olívia Santana. Favorável a cotas para afrodescendente no Parlamento, a gestora diz que essa baixa representatividade não será resolvida naturalmente.
“Houve muita polêmica quando se adotou isto nas universidades, mas a cota abriu as portas para a população negra entrar. Temos que adotar essas políticas afirmativas para que um dia o Congresso reflita a nossa sociedade”, analisa.
O deputado Valmir Assunção também é a favor das cotas. “[Vai] corrigir essa distorção que existe no Congresso Nacional. É preciso criar mecanismos para termos mais negros como deputados federais e senadores da República”, frisa.
No entendimento de Bira Côroa, a melhor solução é criar condições para que o negro possa disputar de igual para igual com o branco. Esta é a linha de pensamento também do professor Jorge Almeida. “Se não houver ações políticas, econômicas e culturais que visem enfrentar essa deformação [da baixa representativa], o problema não será resolvido apenas com a cota eleitoral”, ponta. Na visão do cientista político, o ideal seria que os partidos políticos, sem uma imposição da lei, colocassem mais negros para disputar cargos.
“Essa é uma medida importante que deve ser discutida, independente de lei”, diz, destacando que mesmo tendo uma cota para mulheres nas eleições, elas ainda não têm importância devida no processo eleitoral.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp