Política

Sérgio Moro manda soltar funcionária da Odebrecht presa pela Lava Jato

Publicado em 15/03/2016, às 19h15   Redação Bocão News (@bocaonews)



O juiz Sérgio Moro mandou soltar, nesta terça-feira (15), a funcionária da Odebrecht Angela Palmeira Ferreira, presa a partir do desdobramento da 23ª fase da Operação Lava Jato. O alvará de soltura foi expedido com as condições de que ela compareça aos atos do processo e não deixe o país sem autorização judicial. Mais cedo, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) haviam pedido a prorrogação da prisão da funcionária por mais cinco dias, alegando que não houve tempo de analisar equipamentos de informática de telefone celular apreendidos com Angela Ferreira.
"Apesar da aparente gravidade dos fatos em apuração, com indícios do envolvimento da investigada em esquemas de pagamentos subreptícios Grupo Odebrecht, Angela Palmeira teria uma função subordinada no suposto esquema criminoso, motivo pelo qual seria talvez desproporcional decretar a preventiva. Por outro lado, quanto à prorrogação da temporária, também não vislumbro motivos suficientes para tanto", afirmou o juiz.
Nesta etapa da operação, as autoridades apuram pagamentos feitos pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, que trabalhou em campanhas eleitorais do PT. Foram US$ 3 milhões no exterior e R$ 22,5 milhões no Brasil, segundo as investigações. Santana está preso na Superintendência da PF em Curitiba desde o dia 23 de fevereiro.
A suspeita é de que a fonte dos recursos seja o esquema de corrupção de desvio de dinheiro da Petrobras.
Polícia Federal
No pedido feito pela PF, os delegados afirmaram que seria preciso considerar que "é notória" a atuação da Odebrecht para obstruir as investigações, por exemplo, com o envio de executivos para o exterior. "Destacando-se que, conforme é de conhecimento, o chefe imediato de Angela Palmeira foi preso recentemente na Suíça por autoridades daquele país", disseram os delegados.
"Há indícios, ainda, de que a mesma [Angela] tenha se desfeito de elementos probatórios relevantes, motivo pelo qual julga-se pertinente a prorrogação por novo prazo a fim de se ultimar a análise do material arrecadado", afirmaram os delegados Marcio Anselmo e Renata Rodrigues.
"Contabilidade paralela"
De acordo com a Polícia Federal, Angela Palmeira Ferreira trabalhava na mesma equipe de Maria Lúcia Tavares, que foi apontada pelas investigações como a responsável pela contabilidade paralela da Odebrecht destinada a pagamentos ilícitos. Maria Lúcia Tavares chegou a ficar presa por dez dias em Curitiba.
Os investigadores afirmam ter identificado e-mails de Angela Ferreira para Maria Lúcia com planilhas com codinomes que sugerem entradas de valores em conta corrente paralela mantida por operadores financeiros.
O MPF afirma que a análise da planilha indica que as transferências superam 50 milhões (não é especificada em qual moeda). Para os procuradores, o fato revela indícios de que Angela Ferreira tinha participação expressiva no esquema de pagamento de propina realizado pelo Grupo Odebrecht.
"Há, portanto, evidências de que Angela Palmeira também faça parte da Organização   Criminosa instalada no âmbito da Odebrecht para o cometimento de crimes de corrupção, lavagem de ativos, dentre outros", dizem os procuradores.
Ao autorizar a prisão de Angela Ferreira, o juiz Sérgio Moro afirmou que a movimentação teria ocorrido nos meses de outubro e novembro de 2014 e fevereiro de 2015. Período em que a Lava Jato já estava em andamento.
"Assim, há fundada suspeita de que Angela Palmeira Ferreira seria responsável, conjuntamente à Maria Lucia Guimarães Tavares, pelo gerenciamento, na Odebrecht, de valores ilícitos milionários destinados a terceiras pessoas ainda não totalmente identificadas", diz o juiz.
Viagem para Miami
A PF afirma que Angela Ferreira e Maria Lucia viajaram para Miami (EUA) em 15/6/2015 e retornaram em 22/6/2015. O voo saiu quatro dias antes da deflagração da 14ª fase da Lava Jato, que prendeu o então presidente da holding Odebrecht S.A, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros diretores da empresa.
“Curiosamente, a viagem a Miami das funcionárias da Odebrecht coincidiu com a deflagração da 14ª Fase da Operação Lava Jato, que culminou com a prisão de executivos da Odebrecht, inclusive do presidente da holding, Marcelo Bahia Odebrecht”, dizem os delegados.
Em agosto de 2015, Angela Ferreira e Maria Lucia Tavares foram remanejadas na empresa.
“(...) Parece-nos claro que o remanejamento das duas funcionárias – integrantes de equipe encarregada tão somente do gerenciamento de recursos de origem espúria, os quais eram disponibilizados em espécie a diversos destinatários – foi pensado e calculado pela administração da Odebrecht no intento de blindar, em algum grau, o restante da organização criminosa lá incubada”.
Depoimento
Os advogados que representam Angela Ferreira informaram à Justiça Federal que ela foi interrogada pelos delegados da PF e que ficou em silêncio.
"As medidas de busca e apreensão na sua residência e no seu local de trabalho foram cumpridas sem a oposição de qualquer obstáculo por parte da investigada. Não mais se justifica, portanto, a continuidade da prisão temporária da investigada, tendo em vista o cumprimento dos seus objetivos expressamente declarados", disse a defesa.

Fonte: G1

Classificação Indicativa: Livre

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