Política

Déjà vu: Neto trilha caminho de Imbassahy e PT repete estratégia de 2000

Publicado em 31/03/2016, às 08h43   Aparecido Silva e Rodrigo Daniel Silva



Dezesseis anos depois, os soteropolitanos veem o presente repetir o passado. Veem, sem grandes novidades, a história política de polarização entre carlismo e anticarlismo se repetir.  Em uma viagem no túnel do tempo, é possível notar que o cenário traçado para a eleição deste ano traz semelhanças significativas com o pleito de 2000.

Naquela ocasião, o atual deputado federal Antônio Imbassahy, então PFL e hoje no PSDB, disputava a reeleição para prefeitura de Salvador com o aval do grupo do senador Antônio Carlos Magalhães. No campo oposto, o atual secretário estadual Turismo, Nelson Pelegrino, que representava a candidatura do PT, com o PSB compondo sua chapa como vice. Mas, a coincidência não está aí, mas sim nas estratégias adotadas por ambos os lados.

Conta o sociólogo e professor doutor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Albino Rubim, no artigo "Salvador: a permanência da hegemonia carlista", que os petistas usavam como tática de ataque ao candidato Imbassahy o discurso de que, no primeiro mandato, o adversário favoreceu os bairros nobres nas ações da prefeitura em detrimento dos bairros pobres.

Representante do neocarlismo, segundo o cientista político Joviniano Neto, o prefeito ACM Neto (DEM) sofre, hoje, as mesmas críticas de Imbassahy. Os adversários políticos do democrata usam as obras de requalificação da orla da capital, como exemplo, de que o gestor municipal privilegia áreas mais ricas da cidade. A orla atlântica, da Barra até Itapuã, teria recebido pelo menos R$ 135 milhões em intervenções, enquanto o trecho da Baía de Todos os Santos, na região suburbana, estaria com apenas R$ 9,5 milhões aplicados nas orlas de Tubarão e São Tomé de Paripe. Em 2000, a oposição argumentava que Imbassahy havia privilegiado bairros nobres como a Pituba, onde a Avenida Manoel Dias da Silva foi revitalizada.

Na avaliação de Joviniano Neto, as estratégias da oposição se repetem de forma natural e as críticas ao governo democrata se justificam. “É verdade que há um de certo elitismo no DNA de ACM Neto. Mas ele tem sido mais inteligente do que Imbassahy e tem divulgado bastante as obras realizadas nos bairros pobres. Se for verificar o quanto a prefeitura gastou em cada local, isso são outros quinhentos”, ressalta Joviniano, que também é professor de Ciência Política da Ufba.

De acordo com o cientista político, quem está no poder e tenta reeleição tem franca vantagem ante o oposicionista. “São estratégias naturais tanto para oposição como para governo. No entanto, a tendência tem sido os prefeitos candidatos à reeleição ganharem, assim como ocorreu a reeleição de João Henrique, do próprio Imbassahy. Quem está no poder sempre tem o que mostrar, tem maior tempo de exposição desde antes da própria campanha oficial. Recentemente, a Estação da Lapa foi reinaugurada, é um ato administrativo, mas é uma propaganda do prefeito”, observou, em entrevista ao Bocão News

Em 2000, Imbassahy pregava em sua campanha que sua continuidade na prefeitura poderia trazer mais benefícios para Salvador por ser um aliado dos governos estadual e federal, alianças que considerava essenciais. Do outro lado, Pelegrino usava o discurso da independência, o mesmo artifício que Neto teve que adotar em 2012 com seu bordão conhecido: “Salvador pode andar com as próprias pernas”.

Segundo Joviniano Neto, essa tática de recorrer aos apoios das esferas estadual e federal para governar foi lançada exatamente por Antônio Carlos Magalhães. “Ironicamente, seu neto teve que adotar estratégia contrária”, lembra o professor, ao apontar a campanha e administração de ACM Neto. Para o especialista, na eleição para prefeito, esses pactos não fazem tanta diferença. “O apoio do governo do estado pode ajudar políticos como vereadores a se definirem. O povo vai votar, para prefeito, em quem acha que pode ajudar o município”, afirmou.

No pleito de 2000, outras estratégias definidas por Imbassahy , como mostra Albino Rubim em seu artigo, foram: destacar a competência administrativa de Imbassahy; enfatizar a ação realizada pela prefeitura no sentido de recuperação da cidade; mostrar que essa estava em grande medida voltada para os bairros populares e para a periferia; mostrar que o compromisso maior do prefeito estava dirigido para a questão social;  preservar o candidato de ataques sofridos dos competidores, pois essa tarefa deveria ser transferida para os candidatos a vereador; ao candidato a prefeito cabia a tarefa de apresentar as ações já desenvolvidas e, por fim, disseminar a ideia de incapacidade administrativa dos candidato da oposição.

Apesar de termos um cenário já com forças políticas pré-definidas, o especialista alerta que a falta de um nome competitivo do PT é ponto fraco para a oposição a Neto. “A essa altura, já devia ter um nome competitivo para prefeito, Rui Costa não é candidato”, frisou, ao apontar a presença constante do governador Rui Costa (PT) em ações na capital baiana. “Ele não pode ser a única figura, o candidato tem que aparecer, é preciso que tenha um candidato e logo”, opinou.


Neocarlismo - Para o cientista político, a vitória de Neto na eleição de 2012 simbolizou o soerguimento do carlismo. Segundo ele, o democrata adota medidas iguais as do grupo político liderado pelo avô, citando como exemplo o fato de colocar nas secretarias “técnicos-políticos”, tentando “passar a imagem de uma gestão eficiente”. ACM, na época, costumava dizer que tinha amigos bons e ruins, mas só governava com os bons.

Além disso, diz o especialista, Neto, assim como os antigos carlistas, centraliza a imagem dele como “controlador e responsável pela direção da prefeitura”. “Tenta ao todo tempo passar uma visão empresarial”, destacou Joviniano Neto.

Publicada no dia 30 de março de 2016, às 12h

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