Política

Resistência de Marcelo Odebrecht quase naufragou delação na Lava Jato

Publicado em 10/10/2016, às 06h19   Redação Bocão News



Em reuniões de negociação de delação premiada, o empresário Marcelo Odebrecht entrou em atrito com advogados da própria empresa e integrantes da força-tarefa da Lava Jato, e alegou inocência em vários crimes atribuídos a executivos da companhia, de acordo com informações publicadas pela Folha.
Segundo o jornal, ante a possibilidade de ver enterrada a colaboração premiada, ele acabou admitindo participação direta nos delitos, o que levou procuradores do Ministério Público Federal a comemorar o desfecho dos depoimentos.
A reportagem detalha que o momento de maior tensão nas tratativas ocorreu em setembro, na segunda das três entrevistas realizadas pelos procuradores da República com o empresário para definição dos assuntos que iria abordar na colaboração.
Além de Odebrecht e dos procuradores, essa reunião teve a participação do defensor pessoal dele, o ex-procurador da República Luciano Feldens, e de advogados da empresa. Feldens estava trabalhando com o empresário na elaboração dos anexos com os assuntos da colaboração.
Nessa entrevista, inicialmente o empresário afirmou que não tinha responsabilidade sobre vários dos crimes apurados e questionou o fato de a pena dele ainda não estar sendo definida. Também culpou apenas funcionários da empresa pelas ilicitudes.
Os advogados da empreiteira tentaram convencê-lo a mudar de atitude, o que o deixou mais nervoso ainda. O empresário, então, passou a discutir com os defensores da própria empreiteira, gerando grande constrangimento. A reunião teve que ser suspensa. Os gritos eram ouvidos do corredor, segundo agentes da Polícia Federal no local. 
Quando a entrevista foi retomada, Odebrecht disse aos procuradores que havia pensado no futuro de sua família e iria cooperar, revelando como havia atuado nos crimes. Após essa entrevista, foi realizada mais uma reunião na qual o empresário admitiu sua participação em delitos. Ao final, a força-tarefa considerou o conteúdo dos relatos de Odebrecht um grande feito para a Lava Jato. O empresário, porém, voltou deprimido para a carceragem. Segundo pessoas que convivem com ele na superintendência da PF, a delação não fez bem para o empreiteiro, que ficou alguns dias melancólico e mais calado.
Os temas da delação foram definidos na semana passada e são mantidos sob sigilo, mas a Folha apurou que o empresário delatará repasses feitos aos ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega pela divisão da empresa dedicada a pagar propinas, assim como a atuação dos dois ex-titulares da Fazenda para favorecer a Odebrecht.
Procuradas, a defesa de Odebrecht e o grupo Odebrecht não se manifestaram sobre a negociação. 

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