Política

UTC usou trabalho de estagiário para pagar R$ 475 mil ao presidente do PP

Publicado em 01/11/2016, às 07h31   Redação Bocão News


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Investigação da Polícia Federal (PF) encontrou indícios de que o presidente do PP, o senador piauiense Ciro Nogueira, cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo. Ele é investigado em um dos inquéritos da Operação Lava-Jato, suspeito de ter solicitado R$ 2 milhões a Ricardo Pessoa, da construtora UTC. De acordo com a publicação, para fazer os pagamentos — que totalizaram R$ 1,875 milhão —, o empreiteiro teria recorrido ao doleiro Alberto Youssef e a um contrato fictício com um escritório de advocacia, cujo único serviço teria sido um relatório produzido por um estagiário.
Segundo o jornal, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, que firmou acordo de delação premiada na Lava-Jato, relatou que o senador lhe pediu R$ 2 milhões no segundo semestre de 2013, alegando despesas médico-hospitalares de um parente. Pessoa disse ainda ter atendido a solicitação, tendo em vista uma contrapartida futura, como obras no Piauí ou no Ministério das Cidades, na época chefiado pelo PP. Segundo termo de depoimento de Pessoa, reproduzido no relatório da PF, "o senador Ciro Nogueira chegou a falar o seguinte: 'Você tem que fazer obras no Piauí, porque a gente ainda vai crescer muito no Piauí' ".
O empreiteiro contou também que pagou inicialmente R$ 1,4 milhão, em três parcelas, por meio do doleiro Alberto Youssef. A entrega teria sido feita na casa do senador em Brasília, por Rafael Angulo Lopez, que trabalhava com Yousseff, a uma pessoa chamada Fernando. Segundo a investigação da PF, trata-se de Fernando Mesquita de Carvalho Filho, que era assessor de Nogueira.
Com a prisão de Youssef, em março de 2014, faltaram R$ 600 mil para completar a conta. O dinheiro restante teria então sido repassado por meio de um contrato fictício com o escritório de advocacia Hughes & Hughes, no valor de R$ 780 mil. Dessa quantia, ainda teriam que ser abatidos impostos, sobrando R$ 600 mil líquidos. Outra prisão, dessa vez do próprio Pessoa, em novembro de 2014, viria novamente a interromper os pagamentos. No fim, segundo a PF, dos R$ 780 mil, foram pagos R$ 475 mil entre agosto e outubro de 2014.
Em depoimento reproduzido pela Polícia Federal, o advogado Fernando Hughes, do escritório, confirmou que o serviço foi prestado. A PF diz, no entanto, que há elementos suspeitos. Pela troca de e-mails obtida, Hughes fez, por exemplo, uma minuta de contrato de R$ 85 mil mensais. Depois, a UTC revisou e elevou para R$ 100 mil. "Note-se que, conforme retrata a cadeia de mensagens, o contratante aumentou os valores a serem pagos como honorários!", diz a PF. Depois, Fernando Hughes fez novo ajuste, elevando para R$ 130 mil mensais por seis meses, totalizando R$ 780 mil.
Do trabalho do escritório de advocacia, a PF encontrou ainda indícios de que foi feito apenas um relatório, de autoria de um estagiário, contendo processos de interesse da UTC em Brasília. No mesmo dia em que o trabalho foi concluído, ele foi encaminhado por Hughes para a construtora. A PF relata ainda que a conta do escritório de advocacia foi aberta somente em agosto de 2014, pouco antes dos pagamentos serem realizados. Outro ponto destacado pela PF é que os pagamentos foram feitos antes da entrega do relatório do estagiário, o que seria uma antecipação incomum de honorários. Ressalta também que o contrato entre a UTC e o escritório de advocacia tinha cláusulas genéricas.

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