Política

"Cruzada" de Luiza Maia ganha destaque

Imagem "Cruzada" de Luiza Maia ganha destaque
Projeto contra pagodes com ofensas às mulheres repercute na imprensa nacional  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 15/07/2011, às 21h37   Redação Bocão News



A deputada Luiza Maia, do PT, comprou briga com produtores de eventos depois que criou projeto com objetivo de impedir que bandas que tenham letras degradantes ou que incitem à violência contra a mulher sejam contratadas com dinheiro público. Entretanto, durante entrevista ao Se Liga Bocão, ela teve que se desdobrar para explicar que a iniciativa não é contra o pagode. Desta vez, a petista, que também é a primeira-dama de Camaçari, bateu um bato com o pessoal do site Terra Magazine. Confira:

Terra Magazine - O que motivou a senhora a elaborar o projeto de lei?

Luiza Maia - Eu ficava indignada com esse tipo de música. A partir do governo Lula, o Estado assumiu a responsabilidade de acabar com a desigualdade entre homens e mulheres, a violência contra a mulher. Ficava muito contraditório, por outro lado, aqui, na Bahia, o poder público, o governo, com dinheiro nosso, financiar bandas que vão na contramão desta ideia.

A senhora considera uma incongruência...

Exatamente. Há uma incongruência, um paradoxo. Não podemos deixar que o poder público incentive a violência, o preconceito contra as mulheres. Tem música que incentiva a violência explícita contra as mulheres. Eu sabia que o projeto ia ser um pouco polêmico porque o pagode na Bahia é muito forte.

A senhora pode citar um exemplo?

"Mulher é igual a lata. Um chuta e outro cata". "Ela é uma cadela. Joga a patinha pra cima. Me dá, sua cachorrinha". É brincadeira um negócio desse? E ainda tem uma parcela das mulheres que dançam essas misérias.

Pois então, esse tipo de música tem forte apelo popular, inclusive no que diz respeito ao público feminino. Por que, na avaliação da senhora, isso ocorre?

Nós, mulheres, somos formadas numa cultura machista. Acho que o machismo e o capitalismo fizeram com as mulheres uma crueldade grande. Nos colocaram nessa situação de subalternidade, de inferioridade, de cuidarmos só do privado como se não tivéssemos a nossa intelectualidade. Uma grande parcela das mulheres também é machista. A gente se liberta quando dá nosso grito, quando consegue criar nossa independência intelectual. Eu sou uma feminista, dessas de carteirinha.

No último sábado, fui para o Centro da cidade. Em menos de duas horas, conseguimos mil assinaturas. As pessoas faziam fila para assinar em apoio ao projeto.

A senhora está coletando então assinaturas de apoio ao projeto?

Estamos com um abaixo-assinado. O projeto de lei é parte de uma campanha maior para conscientizar as mulheres no sentido de repudiarem esse tipo de música e não irem para lá dançar e "dar a pata" (música Me dá a patinha) e achar que um tapinha na cara não dói (Tapa na cara). E que rala - não sei nem como chamam nosso órgão genital - no chão (Rala a tcheca no chão), rala no asfalto. Chega na boate e não sei o que dela pisca (Perereca pisca). Rapaz, é assim. Um absurdo.

Tem dia que, realmente, você não sabe nem o que fazer. Então, estamos levando o debate para escolas, universidades, ruas. E o abaixo-assinado é pedindo apoio para que o projeto seja votado imediatamente. Ele está na Comissão de Constituição e Justiça, já foi definido o relator, mas, aqui, na Assembleia da Bahia - não sei se nos outros estados é assim -, é uma luta. Não votam não. Quero mostrar para a mesa-diretora da Casa, para os deputados, que, inclusive estão me apoiando... Todas as 11 deputadas assinaram o projeto. Na semana passada, consegui mais 20 assinaturas de deputados também.
Estamos levando o abaixo-assinado para os municípios. Na segunda-feira, ele já deve estar na internet. Vamos fazer uma campanha na internet.

Letras polêmicas envolvendo mulheres são comuns não só no pagode baiano, como também em outras manifestações. O Funk, por exemplo. A senhora teme que o projeto possa ser encarado como uma forma de censurar expressões artísticas?

Alguns dos que têm me dado porrada aqui, na imprensa, estão dizendo isso. Mas não tem censura. Primeiro, deixamos muito claro que não somos contra nenhum tipo de música. Qualquer gênero musical, eu apoio. Gosto do pagode. Não tenho nenhum preconceito. Não é só o pagode, mas como é um gênero muito forte na Bahia, quem não está gostando da ideia fica dizendo que estou contra o pagode.

Eu vou, inclusive, discutir com deputados federais que tenho uma relação em Brasília. Acho que isso tem que tomar conta do Brasil. As mulheres têm direito de viver em um país em que sejam valorizadas e respeitadas. Não dá para deixarmos o poder público reforçar preconceito e discriminação. E, o pior de tudo, naturalizar a violência contra a mulher.

O projeto pede essa restrição: o fim da contratação, com verba pública, de artistas cujos repertórios tenham músicas que incentivam a violência e a discriminação contra a mulher. Mas essas músicas vão continuar sendo veiculadas.

Estamos fazendo apelo às rádios. Muitas estão dizendo inclusive que não vão tocar essas músicas. Aqui, na Bahia, já chegou no limite. Precisávamos tomar uma providência. Não tinha mais como ouvir aquelas coisas. Publicamente, deixar tocar uma coisa dessa, agredindo mais da metade dos seres humanos. As mulheres têm dado apoio grande e muitos homens também.

Quando fiz o projeto, alguns torceram a cara e disseram: "Isso é polêmico. Você é doida de mexer com artista, com massa popular". Inclusive, fico brincando, dizendo que se eles não têm compositor com inspiração para retratar a mulher de forma carinhosa, bonita, ou então, levantando nossa autoestima, levantando nossas potencialidades, eles que contratem alguém que o faça. Agora, não dá para deixar circular esse tipo de coisa. Coisas horrorosas que nos desqualificam dessa forma.

Mas o projeto não impede a veiculação das músicas. Elas vão continuar circulando...

Aí, tem a campanha de conscientização. Essa discussão tem que ir para todo mundo, para que as pessoas comecem a pensar que não se pode usar instrumentos que, ao invés de ajudarem as mulheres a conquistar sua cidadania plena, reproduzam esse tipo de preconceito, de discriminação contra a gente.  

Foto: Roberto Viana/Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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