Política

Mônica cria 'versão contraditória' para não ficar presa, diz Cardozo

Publicado em 13/05/2017, às 10h58   Folhapress


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O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo nega que tenha avisado a então presidente Dilma Rousseff com antecedência sobre a prisão dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura e que afirma que não tinha informações privilegiadas sobre a Lava Jato. Em entrevista à reportagem nesta sexta-feira (12), Cardozo diz que a versão de Mônica, que diz ter sido avisada sobre o andamento das investigações por Dilma via e-mail cifrado, é "descabida, ridícula e contraditória".
Segundo o ex-ministro, a mulher de João Santana "está desesperada" para tentar reduzir sua pena e para que "recursos fiquem em posse dela". 
Pergunta - Mônica Moura disse que era avisada sobre o andamento da Lava Jato pela então presidente Dilma Rousseff, que recebia informações privilegiadas sobre a operação do sr.. Isso é verdade?
José Eduardo Cardozo - O ministro da Justiça é cientificado de uma operação no momento da deflagração, ou seja, na hora em que vai ser consumada a operação. Tirando a hipótese de outra providência que tem que ser tomada pelo ministro, funciona sempre assim para a proteção do sigilo e das autoridades. Essa é a regra. Quando o ministro é avisado, ele comunica a presidente da República. 
Pergunta - Que dia o sr. comunicou que a Dilma que João Santana e Mônica Moura seriam presos?
Cardozo - No dia em que eles foram presos, em 22 de fevereiro [a prisão foi decretada em 22 de fevereiro de 2016, mas ambos foram presos no dia seguinte pois estavam fora do país]. De manhã cedo, não sei dizer o horário, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, me avisou, como sempre faz em todas as operações. 
Pergunta - E, depois, o senhor avisou Dilma?
Cardozo - Imediatamente avisei Dilma. Deve ter sido por telefone, pelo que me recordo. 
Pergunta - Qual foi a reação da então presidente?
Cardozo - A presidente, em todas as operações, ouvia e dizia: "quando tiver acesso à decisão judicial, analise e venha falar comigo". 
Pergunta - O sr. nunca passou informações privilegiadas sobre a Lava Jato para Dilma?
Cardozo - Só se pode passar o que se tem. Eu não tinha informações privilegiadas. A PF e o Ministério Público nunca me passaram nada com antecedência. 
Pergunta - O sr. sabia que Dilma e Mônica mantinham um e-mail para se comunicarem sobre a Lava Jato?
Cardozo - Não só nunca soube disso, como acho absolutamente incompatível com a postura que a presidente Dilma Rousseff tinha em relação a essas questões. Quando eu avisava a presidente sobre operações, no dia da deflagração, ela não avisava ninguém, nem outros ministros. 
Pergunta - Mônica diz que João Santana foi avisado por telefone por Dilma sobre o mandado de prisão contra eles, que havia sido visto em cima de uma mesa.
Cardozo - Isso chega a ser risível. A Mônica descreve um sistema sofisticado de e-mail, que não era nem transmitido, era salvo como rascunho, para não haver interceptação. Mesmo com essa margem de segurança, o e-mail era cifrado. Se tudo isso foi utilizado, como se explica que a presidente fale por telefone para dizer que foi visto uma mandado de prisão em cima da mesa? É incompatível, é ridículo. Você já imaginou um mandado em cima de uma mesa? Isso é altamente sigiloso. 
Pergunta - Mas esse raciocínio parte do pressuposto que o e-mail existe, ao contrário do que o sr. disse inicialmente.
Cardozo - Parto do pressuposto que a versão dela é contraditória. Versão descabida, contraditória e ridícula. 
Pergunta - Ela precisa provar o que diz para ter a delação confirmada e apresentou prints dos e-mails.
Cardozo - Os prints não significam absolutamente nada. Ela diz que copiou um e-mail para o word e registrou uma ata em cartório. O outro print é de uma mensagem que ela mesma escreveu. Entendo que ela está desesperada para tentar reduzir pena e ser livre e para que recursos fiquem em posse dela. 
Pergunta - Dilma já pediu que o sr. repassasse a ela informações privilegiadas sobre a Lava Jato?
Cardozo - Nunca me pediu nenhuma informação sigilosa. Essa era a grande crítica que eu sofria na imprensa: o descontrole da PF. Eu sempre lia que "o Cardozo era o último a saber". 
Pergunta - O sr. não soube com antecedência da prisão de João Santana e Mônica Moura?
Cardozo - Desde que a Folha [de S.Paulo] publicou uma matéria sobre a Lava Jato estar se aproximando de João Santana e o advogado dele pediu acesso ao inquérito, o que foi negado pelo juiz Sergio Moro, havia especulação de que ele seria preso. Todos os jornalistas passaram a me perguntar. Era voz corrente. Qual a lógica de se mandar uma mensagem cifrada para alertar de uma prisão? 
Pergunta - Mônica está inventando?
Cardozo - As pessoas desesperadas criam situações. Como vai se provar que isso aconteceu? Nunca. É a palavra de um contra o outro. A não ser pela contradição. Mais uma delação em que uma pessoa, possivelmente em desespero, cria hipóteses para ter algo de novo e negociar a delação. É grotesco.

Classificação Indicativa: Livre

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