Política

Restos a notar: bastidores, olhares e ponderações sobre a política baiana

Publicado em 23/05/2013, às 12h52   Luiz Fernando Lima (Twitter @limaluiz)*



Praticamente em toda entrevista feita por um jornalista que resulta em uma nota, matéria, reportagem ou em uma publicação de ping pong “sobram” declarações, comentários, análises e o rescaldo que não são utilizados ali. Muitas destas são interessantes, mas ficam de fora por uma razão ou outra. Este é o conceito desta coluna. A ideia é que em conversa de repórter, seja com fonte ou entre colegas, tudo que não é off pode ser usado e tudo que é usado potencialmente interessa a alguém.

Bombeiros

A turma do deixa disso entrou no circuito para apartar a queda de braço entre o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo (PDT), e o líder do PT na Casa, Rosemberg Pinto (PT). O princípio de incêndio aconteceu na sessão da última terça-feira (14) quando se condicionou a votação da PEC que reduz o recesso à que proíbe a reeleição para presidência em uma mesma legislatura. O problema é que em um espaço onde nem tudo é discutido às claras a opinião geral é que o petista aproveitou uma oportunidade.

Jequié deixou sequelas

Não seria justo deixar de mencionar que o petista defende a proposta – fim da reeleição – desde o início da atual legislatura. Dito isso, volta-se ao momento oportuno. Nilo é um presidente que tem prestígio entre os pares. Fez muito pela Casa e ajudou muito parlamentar, das mais diversas formas. Contudo, ao tentar capitalizar a PEC da redução do recesso, o pedetista mexeu com o brio de deputados. Sensação agravada com a ameaça pública de cortar o ponto daqueles que não votassem na sessão da Assembleia Itinerante em Jequié.

Petistas

Não é segredo que deputados como Rosemberg Pinto e Paulo Rangel (PT) são contrários à redução do recesso. Entendem que durante este período os parlamentares trabalham ainda mais e a opinião é compartilhada pelos 63 membros do Legislativo. Contudo, após serem derrotados em votação dentro da bancada, aceitaram votar em comum acordo com os correligionários.

Opinião pública

Sabendo do possível desgaste ao qual seriam submetidos ao defender o ponto de vista – contrário ao fim do recesso – em uma sessão itinerante, os deputados se recusaram a aceitar a tentativa de imposição de Nilo. Gerou efeito, pois não houve quórum e tampouco votação. Alguns parlamentares chegaram a se posicionar contrários à continuidade da Assembleia Itinerante. Argumentam que gera custo e serve apenas para promoção política.

Opinião política

Já a PEC que acaba com a reeleição é sabidamente um afronta ao presidente Marcelo Nilo – reeleito três vezes consecutivas -. Embora diga que não disputará assento no parlamento estadual – apresentou pré-candidatura ao governo do estado -, é uma questão de coerência defender a manutenção da regra.

Rádio Corredor

Algumas informações, de fontes confiáveis, mas que não querem se expor, circularam nos bastidores do Palácio Luís Eduardo Magalhães e anexos:

- A PEC que acaba com a reeleição circulou como algo normal. As assinaturas foram colhidas pelo próprio Rosemberg. Alguns deputados assinaram e depois pensaram em retirar o visto;

- Marcelo Nilo teria ligado para diversos deputados pedindo que retirasse a assinatura;

- Deputados se sentiram incomodados com a repercussão interna da proposta. Acharam que o “jogo” estava combinado e perceberam que não era bem assim;

- No dia anterior à discussão, Nilo teria dito que quem assinasse a PEC estaria agindo contra ele. Vale ressaltar que o presidente, em conversa com o jornalista, negou que tenha dito isso.

Desconfiança

Em determinado momento da sessão, o líder da oposição, Elmar Nascimento (PR), concedia entrevista aos jornalistas. Ele dentro do plenário e os repórteres na área reservada à imprensa. Não demorou muito para que Rosemberg se aproximasse para participar da conversa. Ao ver os dois em franco bate-papo com os jornalistas, o líder do governo também chegou junto. Carlos Brasileiro (PT) se aproximou para ouvir. Outros dois ou três parlamentares ligaram as antenas. Houve outros que passaram ao lado. O clima era de desconfiança.

Sepulcro

Silêncio sepulcral foi o que se viu quando o deputado Carlos Gaban (DEM) ofereceu a palavra para que qualquer parlamentar rebatesse a afirmação: houve acordo e quem estava na reunião sabia. O presidente não estava e não foi informado até o dia anterior à votação

No final das contas

Impaciente com a importância no caso, um deputado veio conversar reservadamente: aqui para nós. Se espremer estas duas PECs não sai nada. Uma só vai ter validade em 2017. A outra, objetivamente, não muda muita coisa. Os deputados viajam para suas bases no período regular e vão continuar a fazer. Saciar a opinião pública não necessariamente é moralizar o parlamento. O que a diminuição do recesso de 90 para 60 dias traz como “moralização”? Devemos votar as duas, mas com calma e sem açodamento. E mais, tem muitas outras decisões importantes que mereciam esta coragem toda.

Luiz Fernando Lima é editor do Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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