Política

Maia quer se descolar da imagem de Temer e ter agenda própria por 2018

Publicado em 03/08/2017, às 06h31   Folhapress


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"Estou exausto". Rodrigo Maia havia dormido pouco mais de quatro horas quando se sentou, nesta quarta-feira (2), à ampla mesa de madeira na residência oficial da Presidência da Câmara para tomar café da manhã.
Faltavam apenas 40 minutos para o início da sessão que analisaria a denúncia contra Michel Temer e o deputado sabia que o dia seguinte seria o primeiro de um novo projeto político: o seu.
Sucessor imediato ao Planalto caso o presidente seja afastado do cargo, Maia começou esse processo, em 17 de maio, com expectativa de poder quase que imediata.
Nem mesmo auxiliares próximos a Temer acreditavam que o governo sobreviveria à crise política deflagrada com a delação da JBS, que o implicava diretamente.
Era para ser uma corrida de cem metros mas, para Maia, os planos para se tornar inquilino do gabinete presidencial viraram maratona.
Enquanto cortava a omelete de clara de ovos e queijo branco, empurrada com um copo de suco verde e três xícaras de café sem açúcar –a dieta só é cumprida à risca pela manhã–, o presidente da Câmara repassava a razão da permanência de Temer no posto: o apoio parlamentar.
Em uma lista consultada no celular, contabilizava a quantidade de votos que acreditava ser a favor do presidente nesta quarta –de 220 a 240 dos 513 deputados, mas o número poderia aumentar, já alertava desde cedo.
O peemedebista acabaria tendo 263 votos ao seu lado, sendo beneficiado ainda por 19 ausências e 2 abstenções.
Nos dias que antecederam a votação histórica, Maia trabalhou a favor de Temer.
Depois dessa etapa, traçou sua estratégia pessoal e a de seu partido, o DEM, em um projeto que desembocará nas eleições de 2018.
Maia decidiu se descolar da imagem impopular de Temer e criar uma agenda exclusiva da Câmara, para além da pauta econômica, que não será abandonada, ele diz, mas dividirá espaço com projetos que estejam mais conectados com a sociedade.
Adoção, planos de saúde, segurança pública e medidas em defesa dos animais estão entre os pontos que ele pretende atacar agora.
Além disso, o presidente da Câmara articula para fortalecer o DEM, com a migração de integrantes do PSB e de outros partidos.
O objetivo é conquistar o eleitor de centro-direita diante da divisão e falta de liderança única do PSDB, além de formar uma base parlamentar mais ampla, que dê capilaridade para um possível candidato à Presidência.
Maia afirma que 2018 ainda "está distante", mas admite que é preciso construir o lugar onde vai "aterrissar".
As conversas com os parlamentares desses partidos se misturaram nos últimos dias com o esforço do deputado em conseguir votos para salvar Michel Temer.
Maia fez um cálculo político importante nas últimas semanas. Ao ver que seu ânimo para assumir o Planalto crescia junto com a pecha de "traidor", decidiu que o pragmatismo tinha que se sobrepor à ambição justamente para ter um "day-after" mais tranquilo.
Ainda em sua casa, nesta quarta, respondia de tempos em tempos mensagens de deputados que faziam previsões sobre a sessão e pedia que registrassem presença –eram necessários 342 dos 513 parlamentares em plenário para iniciar a votação.
De dentro do carro que o levou à Câmara, às 8h50, Maia fez a primeira ligação para tentar sentir a temperatura do Planalto. O escolhido era o "mais realista" da tropa de choque de Temer, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do governo na Câmara.
O deputado, porém, preferiu não fazer previsões por telefone e pediu para encontrar com Maia no plenário.
O presidente da Câmara registrou presença na Casa às 9h06, conversou com Aguinaldo e se sentou para presidir a mesa às 9h31, quando iniciou a ordem do dia.
Conduziu a sessão com relativa calma e até um pouco de descontração. Precisou intervir mais energicamente apenas quando deputados ensaiaram um empurra-empurra: "calma, gente, está todo mundo errado", disse.
ATENÇÃO TOTAL
Perto das 13h, quando já tinha certeza de que haveria quorum para a votação, reviu suas projeções da manhã e disse que o governo poderia bater em 260 votos ou mais.
A base de Temer trabalhava dentro do plenário para renegociar cargos e emendas parlamentares, na tentativa de virar votos de última hora.
Maia acompanhava de perto as contas do Planalto.
Derrapou na hora do almoço, quando escapou da dieta ao participar do regabofe promovido pelo primeiro vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG).
Maia comeu carne de sol, arroz, frango, ovo e bebeu refrigerante. "Só não mostrem para a minha mulher", brincou com quem o filmava.
Ao abrir espaço para o prato à mesa, quebrou um copo. "É sorte", apressaram-se a gritar aliados.
Ele diz que vai mesmo precisar disso. 

Classificação Indicativa: Livre

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