Política

Dinheiro vivo de ônibus, bares e mercados alimentaram caixa dois da Odebrecht e Cervejaria Petrópolis

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Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 02/01/2018, às 07h16   Folhapress


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Pagar para ter dinheiro. Uma equação que faz pouco sentido para o cidadão comum foi uma das grandes dores de cabeça dos corruptores identificados pela Operação Lava Jato.

Delações premiadas firmadas em 2017 permitiram descobrir parte do caminho do dinheiro vivo que recheou meias, mochilas, malas e até um apartamento inteiro.

A origem dele, muitas vezes, é prosaica, como passagens de ônibus, bares, supermercados e o comércio popular da rua 25 de Março.

Dinheiro vivo costuma ser usado em atos criminosos justamente pela dificuldade de rastreamento. Obtê-lo fazendo saques em conta, porém, é algo inviável, já que retiradas de mais de R$ 100 mil são comunicadas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Há 6,5 bilhões de notas em circulação no país segundo o Banco Central –quase metade delas de R$ 50 e R$ 100. O papel-moeda foi responsável por 39% das transações em 2016, segundo a consultoria Boanerges & Cia.

Coube aos criminosos encontrar operadores financeiros que tivessem acesso constante a grande volume de notas. Dono de uma empresa de marketing que promovia grandes shows, Adir Assad usou seu relacionamento com gerentes de banco para conseguir sacar altos valores.

Ele costumava fazer retiradas altas para pagar seguranças, garçons e outros funcionários contratados para esses eventos. Bastou aumentar o volume para se tornar um dos grandes fornecedores de dinheiro das empreiteiras.

"O discurso era muito maior nos bancos. Dizia para o gerente que ia deixar tanto dinheiro aplicado, comprar consórcio de carro, tudo quanto era produto do banco. Eu tinha recursos, mas precisava em cash", disse o empresário ao juiz Marcelo Bretas.

Assad, que firmou acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República, afirmou que gerou R$ 1,7 bilhão em espécie para ao menos sete empreiteiras até ser preso, em março de 2015.

A Odebrecht relatou ter encontrado duas formas para abastecer as malas que eram distribuídas a políticos. Todas passavam pelo operador Álvaro Novis. Dono de uma corretora, por muito tempo Novis foi chamado de doleiro. O corretor Lúcio Funaro, porém, o definiu de outra forma.

"Ele não é doleiro. Só tem um grande fornecedor", disse Funaro à Procuradoria-Geral da República.

Ele se referia à Fetranspor, que reúne as empresas de ônibus do Rio. Desde a década de 1990, Novis gerenciava o caixa dois dessas companhias numa transportadora de valores. Ele era abastecido com o dinheiro recolhido nos coletivos, usado atualmente por 6 milhões por dia.

Em acordo de delação premiada com a PGR, o operador afirmou que estabeleceu em 2006 uma relação de "respeito e confiança" com a empreiteira ao conseguir rapidamente R$ 800 mil em espécie.

Ele também foi acionado para gerenciar os envios da Cervejaria Petrópolis (fabricante da Itaipava), outro fornecedor de notas, segundo executivos da Odebrecht.

Neste caso, a parceira da empreiteira vendia os produtos em dinheiro para bares no Rio e repassava a Novis. A Odebrecht, por sua vez, pagava a cervejaria no exterior, em dólares.

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