Feriado / 2 de Julho

Suspensão de desfile prejudica "corpo a corpo" e deixa políticos às cegas sobre popularidade para 2022

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Lideranças políticas avaliam impactos da não realização do evento  |   Bnews - Divulgação Arquivo

Publicado em 01/07/2021, às 20h00   Henrique Brinco



A pandemia da Covid-19 impedirá, pelo segundo ano consecutivo, a realização do desfile de 2 de Julho, que celebra a independência da Bahia. O evento é tradicionalmente usado como termômetro dos políticos para medir a popularidade junto ao eleitorado. Lideranças das mais diferentes orientações ideológicas comparecem em grandes blocos organizados, numa tentativa de cativar o público e demonstrar força. Neste ano, contudo, isso não será possível e as agremiações entrarão em 2022 "às cegas" sem a prova de fogo do "corpo a corpo" - que pode incitar aplausos ou vaias do povo a depender do político que estiver desfilando.

Assim como no ano passado, haverá apenas atos comemorativos simbólicos no Largo da Lapinha, com acesso restrito apenas a autoridades e imprensa. Às 8h, será realizado o hasteamento das bandeiras com as presenças do prefeito Bruno Reis (DEM), do governador Rui Costa (PT), do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes (PSD), e do presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Eduardo Morais de Castro. Na sequência, a Pira do Fogo Simbólico, nomeada nesta edição de “Chama da Esperança”, será acendida por dois profissionais de saúde, em um gesto que representa a luta do povo da Bahia na batalha contra a pandemia. Na ocasião, ainda acontece uma coletiva de imprensa com as autoridades presentes, como também a deposição de flores aos heróis da Independência no busto do General Labatut.

O BNews ouviu lideranças políticas sobre o impacto da suspensão do desfile. O senador Jaques Wagner (PT), praticamente garantido candidato ao Governo do Estado, avalia que a suspensão não prejudica a relação com o eleitorado. "Não vejo como prejudicar, pois as restrições são para salvar vidas e a população baiana está consciente. Sei que os partidos de esquerda estão chamando um ato simbólico contra o presidente na Lapinha. Meu mandato divulgará a história do 2 de julho por meio de cordel, nas redes sociais, assim como fizemos em publicação lançada este ano. Considero fundamental deixar sempre acesa a data mais importante da Bahia e do Brasil, quando a independência do nosso país foi concretizada", declarou, para a reportagem.

O ex-prefeito e presidente nacional do DEM, ACM Neto (DEM), que também será candidato ao Governo, é outro defende a suspensão do desfile no momento. "As autoridades tinham que suspender o desfile mesmo. Diante do ainda muito grave quadro da pandemia, não há como imaginarmos um evento dessa proporção. Lamento muito que, mais uma vez, sejamos privados de celebrar a data mais importante do nosso estado. Vou respeitar as regras estabelecidas e apenas prestar minhas homenagens à distância", revela o herdeiro de Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), figurinha garantida nos desfiles enquanto ainda era vivo.

O senador Otto Alencar (PSD) segue na mesma linha de raciocínio e diz que nunca tentou capitalizar eleitoralmente a participação no evento. "Sempre que participei do Dois de Julho e sempre foi de forma discreta. Nunca participei levando grupos meus. Acho que é uma festa cívica. Não tenho esse sentimento de transformá-la em um palanque e não venho auferir nenhum ganho de ordem política. Até porque, a população da Bahia é muito esclarecida na análise do voto, sobretudo agora com as redes sociais, com as informações precisas e em tempo real. É uma manifestação política e patriótica do povo baiano. Esse ano não vai ter porque não podemos fazer aglomeração e eu sou contra a aglomeração. Acho que o isolamento deve continuar enquanto houver tantos casos de mortes diárias", defende.

O deputado estadual e líder da Oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), Sandro Régis (DEM), diz que o processo eleitoral ainda não começou e que o impacto não será tão grande. "A suspensão dos festejos é necessária, uma vez que a vacinação da nossa população está avançando, mas ainda não temos níveis elevados de pessoas imunizadas. Não acredito que a suspensão prejudica a relação com o eleitorado, até porque neste momento o foco não está no processo eleitoral, mas em continuarmos vigilantes para combater o coronavírus. Agora, é inegável que o 2 de Julho é um termômetro político interessante. Nossa torcida é que a vacinação siga avançando para que no próximo ano possamos comemorar o 2 de Julho com a pompa que ele merece, valorizando a nossa história para projetar nosso futuro", opina.

O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jorge Almeida, destaca que o prejuízo seria maior se houvesse pleito neste ano. "Todas as forças políticas perdem, porque não estarão lá se apresentando. O ano eleitoral, em 2020, já foi prejudicado. O evento é uma largada de campanha", ressalta. "Esse ano não é exatamente ano eleitoral mesmo. Em ano que tem eleição, sempre a movimentação é maior. Em ano eleitoral, o 2de Julho funciona como pré-campanha".

Classificação Indicativa: Livre

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