Política
Publicado em 08/04/2018, às 07h36 Folhapress
No fim do ano passado, órgãos envolvidos na Lava Jato entraram em disputa pela menina dos olhos dos peritos ---a análise de 54 terabytes dos sistemas Drousys e MyWebDay, da contabilidade paralela da Odebrecht.
Em setembro, o juiz Sergio Moro determinou a realização da perícia. Durante um mês, o Setec (Setor Técnico-Científico) da PF (Polícia Federal) do Paraná, a PGR (Procuradoria-Geral da República), o MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná) e o Ginq (Grupo de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal) da PF de Brasília debateram sobre quem ficaria responsável pelo extenso trabalho.
Ao final, Moro decidiu que a perícia ficaria a cargo da PF do Paraná.
Assim, a equipe precisou se deslocar até Brasília para copiar os discos, que estavam sob posse da PGR desde o início de 2017. A entrega do material pela Odebrecht, originalmente arquivado em servidores na Suécia e na Suíça, foi exigência dos acordos de colaboração e leniência firmados com o órgão.
Desde o início de novembro, quando começou a análise, foram cerca de quatro meses, oito peritos e muitas horas extras para entregar as 321 páginas do laudo.
O chefe do Setec, Fábio Salvador, disse à Folha que a decisão de Moro foi consciente de que a PF-PR apresentava melhores condições de construir um modelo de trabalho que garantisse a integridade da prova.
Ele conta que os delegados de Brasília acreditavam que poderiam atuar com mais celeridade, por ter o apoio do Instituto Nacional de Criminalística, com um grande quadro de peritos de informática e de contabilidade.
O diferencial do Setec, segundo ele, é o conhecimento adquirido ao longo de três anos e meio de trabalho em torno da Lava Jato. Isso tornaria mais fácil que a equipe rapidamente identificasse nomes, procedimentos e empresas.
“Não somos insubstituíveis, mas tenho certeza de que a expertise adquirida aqui, na marra, nesses três anos, é um potencial muito grande que não pode ser trocado.”
Ainda assim, Salvador diz entender o interesse de outros órgãos em realizar o trabalho. “É ótimo, até, porque põe um pouco de fogo nos nossos colegas aqui. Já imaginou se saísse um laudinho de 10 páginas? Mas saiu esse laudo superconsistente.”
Para receber o material, foi necessário adequar uma sala cofre que já existia na PF, com porta de metal de alta segurança, isolamento por concretagem e sem rede física de acesso de computadores.
A novidade foi uma porta com controle biométrico e a instalação de câmeras. “Ficou muito mais rigoroso. Eu não entro, a não ser por algum motivo relevante”, diz Salvador.
Desde a divulgação do laudo inicial, já chegaram mais de dez pedidos para a realização de novas perícias em cima dos sistemas. O material pode ajudar a responder questões relativas a diversas ações penais da Lava Jato.
O chefe do Setec defende, entretanto, que o setor precisa de ajuda. Ele diz que a perícia foi muito trabalhosa e que a equipe está sobrecarregada. O recrutamento de novos peritos, por sua vez, esbarra em burocracias.
“Não adianta ter um foguete e não ter gente para operar”, declara.
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