Política

"Cadê o amigo de Bolsonaro? Cadê o Queiroz?", pergunta cacique Raoni

Edílson Rodrigues/Agência Senado
Depois do presidente negar um encontro, o líder kayapó diz que agora só "conversaria com algum outro representante do Governo"  |   Bnews - Divulgação Edílson Rodrigues/Agência Senado

Publicado em 19/11/2019, às 11h19   Redação BNews



Na lista de indicados ao Prêmio Nobel deste ano, o cacique kayapó Raoni Metuktire se reuniu com outros membros de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhos, no encontro Amazônia Centro do Mundo, que aconteceu em Altamira, no Pará, no último fim de semana. 
Em entrevista ao El País, o líder de 89 anos alfinetou o presidente Jair Bolsonaro, que se recusou a encontrá-lo em agosto: "Cadê o amigo do Bolsonaro? Cadê o Queiroz?".

"Todas as pessoas que eu conheço, Sting, Nicolas, Hulot [ambientalista francês], o presidente da França, o Papa, todos me apoiaram, todos me falaram que Bolsonaro não é bom, porque ele está me atacando. Todos me disseram: 'Estamos com você'. Mas sou eu que pergunto onde está o amigo dele. Cadê o amigo de Bolsonaro? Cadê o Queiroz?", indaga.

Raoni se refere a Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República. Queiroz é acusado de movimentar mais de R$ 1 milhão de forma irregular entre 2016 e 2017, e é investigado por supostamente cobrar uma parte dos salários dos servidores, no esquema conhecido como "rachadinha".

O cacique é uma figura importante na militância pela preservação do meio ambiente. Se nessa semana o Governo Federal divulgou que o Brasil teve em 2019 o pior indicativo de desmatamento dos últimos 10 anos, Raoni Metuktire acumula uma trajetória de luta que começou há muito tempo. Ainda nos anos 1980, ele ficou conhecido internacionalmente pela defesa dos povos indígenas e contra a construção da hidrelétrica de Belomonte.

Segundo Raoni, que havia se afastado da vida pública, foi o governo Bolsonaro que o fez ressurgir e retomar o ativismo ambiental. Para ele, a gestão do presidente eleito "ameaça" a "existência" do seu povo: "Nunca deixei de me preocupar pelos indígenas e pelo progresso dos nossos povos, com o que está acontecendo com a floresta. Mas, este ano, com a mudança de Governo, que ameaça nossa existência, pensei em voltar e continuar minha luta".

Acostumado às dificuldades, o cacique usa a sua experiência para aconselhar os jovens e ensina um dos caminhos para brigarem da melhor forma pela presevação das florestas.

"Na minha vida, fiz muito discurso e falei com muito chefe político do mundo todo. É lá fora que temos que controlar o problema. Porque é o povo de lá que vem com dinheiro para investir aqui, para construir barragens, coisas grandes", diz e acrescenta: "Agora é a vez de vocês falarem com eles. E não é só pedir dinheiro. Dinheiro é bom para fiscalizar nossas áreas e não deixar madeireiros e garimpeiros entrarem, mas não é tudo. Tem que falar com os políticos", explica.

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