Política

“Época não é adequada para o Brasil se meter em confusão”, diz Lula sobre rusga entre Irã e EUA

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O ex-presidente foi entrevistado pelos jornalistas do Diário do Centro do Mundo durante live no YouTube nesta quarta (8)   |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Youtube

Publicado em 08/01/2020, às 14h07   Redação BNews



Durante sua primeira entrevista em 2020, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou que o Brasil deveria seguir sua tradição diplomática e não opinar sobre a acirramento da crise entre EUA e Irã.

Uma nota emitida pelo Itamaraty sobre o posicionamento brasileiro quanto aos acontecimentos que culminaram na morte do general iraniano Qassem Soleimani rendeu uma convocação da chancelaria iraniana à diplomacia tupiniquim no país.

O comunicado dizia que ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA, o governo brasileiro manifesta seu apoio "à luta contra o flagelo do terrorismo", e defendia que este combate demandava a cooperação de toda a comunidade internacional.

"A época não é própria, não é adequada, para um país como o Brasil se meter em confusão, em uma briga externa. O brasil é um país que não tem contencioso. O último contencioso do brasil foi com a guerra do Paraguai", recordou durante live realizada pelo site Diário do Centro do Mundo transmitida pelo YouTube nesta quarta-feira (8).

O ex-presidente ressaltou que o país tem uma tradição como "construtor de harmonia e paz" entre os países, uma vez que este deve ser o comportamento de uma nação que sempre teve uma boa relação com todos os países do mundo. Lula recordou que durante o mandato de Ernesto Geisel, durante a ditadura civil-militar, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola em 1975.

"Essa é a lógica brasileira, a tradição diplomática. Diferentemente dos Estados Unidos, que vive procurando confusão - normalmente quanto mais longe do seu território, melhor. Os Estados Unidos são doidos para atirar pedra no quintal dos outros, mas não quer que ninguém jogue pedra no seu quintal", comparou.

Para Lula, não há nenhuma necessidade de "inventar terrorismo" no Irã, e o impasse com o país persa está sendo fomentado pelo Presidente Donald Trump, com o objetivo melhorar sua popularidade em ano eleitoral. Trump também passa por um processo de Impeachment que segue para apreciação do senado após receber o aval do congresso.

O petista também recordou da forma como George W. Bush capitalizou votos para mais um mandato com a invasão ao Iraque em 2003. Lula acredita que Trump apela para o bairrismo norte-americano para realizar um movimento semelhante. "Acho que ele sabe que pode perder as eleições. Não é certo, mas ele pode perder. Sempre uma guerra ajuda muito. Ele está provocando algo que é muito delicado", avaliou.

Neste contexto, na avaliação de Lula, o Brasil não deveria se meter na briga entre os países, "caindo de joelhos" aos anseios dos EUA. Ele citou também uma visita que fez ao país persa em 2010, como o objetivo de negociar um acordo nuclear entre a nação e o ocidente. Na ocasião, Lula se reuniu com o líder-supremo Ali Khamenei e com o então presidente Mahmoud Ahmadinejad.

"Aquilo que era impossível - me dito pelo Obama, pelo Sarkozy, pelo Gordon Brown, pela Angela Merkel - se tornou possível na medida que o Brasil foi corajoso. [...] Em dois dias conseguimos um acordo que também era bom para os Estados Unidos e Europa", recordou.

Na época, Brasil, Turquia e Irã firmaram um acordo como base em proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU) à época - que previa o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil. O acordo também incluiu a libertação da francesa Clotilde Reiss, presa em Teerã no período.

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