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Doméstica não tem como ir à Disney com salário de R$ 1.200, diz entidade

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Presidente do Instituto Doméstica Legal quer que Paulo Guedes se desculpe por declaração  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Doméstica Legal

Publicado em 13/02/2020, às 20h26   Folhapress


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O presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, encaminhou nesta quinta-feira (13) uma carta ao ministro Paulo Guedes, da Economia, com um pedido para que ele se desculpe pelo que disse sobre essas profissionais durante discurso no dia anterior. 

"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada", disse Guedes.
Para ele, além de demonstrar preconceito, a afirmação do ministro da Economia não encontra muita correspondência na realidade, considerando o salário médio desse tipo de ocupação.

"Eu até conheci empregados domésticos que foram para a Disney, mas como babás, mas foram para trabalhar. Particularmente, não conheci até hoje uma doméstica que tenha ido à Disney com salário que ganha. Se nem quem ganha R$ 5.000 está conseguindo", afirma.

O salário médio dos empregados domésticos, no quarto trimestre de 2019, ficou em R$ 904. Entre os que estão trabalhando com carteira assinada, a média é de R$ 1.267, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

Nos três últimos meses do ano passado, ainda segundo o IBGE, 6,3 milhões de pessoa atuavam como trabalhadores domésticos. Desses, 72% estão na informalidade.

Avelino afirma que além de infeliz e preconceituosa, a afirmação do ministro corrobora o que ele considera "um esforço do Ministério da Economia com a informalidade no setor".

O governo Bolsonaro não renovou a validade da norma que garantia aos empregadores domésticos a possibilidade de deduzir os valores recolhidos à Previdência Social. Em 2019, último ano em que esse abatimento foi permitido, quem tinha empregado doméstico podia compensar até R$ 1.200 no Imposto de Renda.

Segundo o Instituto Doméstica Legal, pelo menos 700 mil empregadores usaram o benefício.

"Quando o empregador formal perde um benefício, isso desestimula a formalização. Queremos que o empregado doméstico tenha direitos e dignidade como qualquer outro e isso só vai acontecer se houver formalização", afirma.

A Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas) divulgou nota repudiando as declarações do ministro. Para a entidade, as afirmações são infelizes e carregam preconceito e discriminação.

"Como um representante do alto escalão do governo Federal pode emitir uma fala discriminatória contra uma classe tão importante para a sociedade? As domésticas contribuem para a economia mundial. Somos representantes da classe trabalhadora, e temos o direito de gastar o dinheiro como desejar", afirma Luiza Batista, presidente da federação, na nota.

A federação também ressaltou a incompatibilidade entre o salário médio no emprego doméstico e o custo de uma viagem à Disney. "O salário mal dá para garantir uma cesta básica", diz Luiza.

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