Política

Petistas acusam Bolsonaro de "fugir da responsabilidade" ao pedir que Congresso derrube veto de perdão a dívidas das igrejas

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Jorge Solla e Afonso Florence, um dos poucos baianos que votaram contra o PL, veem atitude do presidente como "dúbia" e que atende a uma pressão da camada econômica  |   Bnews - Divulgação Montagem/BNews

Publicado em 14/09/2020, às 16h11   Luiz Felipe Fernandez


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Junto ao PSOL, o PT foi o único partido a orientar o voto contrário ao Projeto de Lei de autoria de David Soares (DEM), filho do pastor R.R Soares, que prevê o perdão a dívidas fiscais das igrejas. Apesar de aprovado na Câmara, o PL foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro.

A atitude foi vista com surpresa não só por apoiadores, como o caso do vice-líder da frente parlamentar evangélica, Abílio Santana (PL), mas também pela oposição. Os deputados petistas Jorge Solla e Afonso Florence veem na atitude do presidente uma estratégia para "fugir da responsabilidade" da decisão sobre o tema, que afeta a vida de aliados de Bolsonaro. 

Ex-secretário de Saúde, o deputado Jorge Solla vê a atitude de Bolsonaro de pedir que o próprio veto fosse derrubado no Congresso, como "dúbia". Em conversa com o BNews, o petista declarou que o presidente respondeu a "uma pressão da área econômica", mas que logo em seguida recuou para não abalar o apoio da ala evangélica, que constitui parte importante do seu eleitorado.

"Tem uma pressão da área econômica. Ele respondeu tentando contemporizar com a área política, da mesma forma que fizeram com os latifundiários, que fazem com o povo das finanças, os privilegiados. O povo, continua penando.", disparou o parlamentar.

Solla lembra que foi o Congresso que tocou parte dos projetos que hoje beneficiam a popularidade do próprio presidente da República, como o caso do auxílio-emergencial, que chegou a ser anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, no valor de R$ 200,00, sendo depois alterado para R$ 600,00 com o empenho de deputados.

Na visão de Afonso Florence, as relações de Bolsonaro com religiosos atraem desconfiança. Ele lembra a prisão de Pastor Everaldo, que batizou o presidente em Israel, alvo da operação que afastou Wilson Witzel do governo, e critica as propostas tributárias do governo que, segundo ele, visam prejudicar a população pobre e beneficiar os ricos.

Entre elas está a tributação de instituições sociais e a ideia da CPMF reformulada, sobre transações digitais, que como ressalta Florence, estão cada vez mais sendo utilizados como meio de pagamento. 

"Ele fugiu da responsabilidade dele. O pastor que batizou ele na igreja foi preso por corrupção, impressionante que ele tenha pessoas assim em volta [...] E aí tem casos que dizem que a casa, o patrimônio do pastor está envolvido, tem depósito na conta da mulher. A suspeita que se levanta é que ele tenha interesses escusos nisso. Com pastores, a gente fica logo com suspeita e o pior, o governo está fazendo uma política de cobrar de pobre e isentar os ricos", explicou o petista ao BNews.

Florence adverte que o movimento de transferir para o Congresso a decisão de derrubar o veto pode ainda inspirar outros setores que contam com bancadas fortes, que segundo ele predominam nas camadas da "direita".

"Ele manda o projeto de lei para o Congresso tributando doação para instituição social. Se você quiser doar dinheiro para cadeira de rodas, vai tributar? Aumentando Cofins para 12%, tributo hoje que é de 3%, 3,5%, quase quadruplica esse tributo, agora isenta tributo não pago das igrejas? Todo mundo que tem força, que se acha no direito de não pagar [...] se a moda pega, a bancada BBB (bala, bíblia e boi), todos esses segmentos então podem não pagar tributo, pois sabem que depois tem uma bancada que vai e tem a conivência do presidente", questiona Florence.

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